O verdadeiro pó de pirilipimpim

15 de Agosto de 2014
Jornal O Liberal

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R. Koeppel (*)

Conversava eu com meus vizinhos, o “Seu” Zuzuca e seu filho, o competente Geraldino. Ambos são pessoas simples, moradores em Ouro Preto desde que nasceram. E ao nosso lado havia um canteiro com diversas plantas, com folhas bonitas. A conversa caminhou para o poder das plantas na saúde humana.

Lembrei-me da história de Monteiro Lobato, onde havia um pó maravilhoso que, ao ser usado, transformava as pessoas, fazendo-as voar. Você já voou? Basta usar pó de pirilipimpim. Falar em “pó mágico” hoje em dia é uma coisa muito arriscada. Hoje existem diferentes tipos de “pós mágicos” que podem ter este nome, mas fazem uma mágica ao contrário – não elevam as pessoas, criam pesadelos reais. O uso de drogas e da cachaça, num primeiro momento parece “coisa mágica” mas leva imediatamente à destruição das pessoas, das famílias, da sociedade. E, como sempre, tem alguém lucrando com isto. Eu os conheço como “operadores de schadefreude”.

Schadefreude? O que que é isto? É uma palavra alemã. Aliás parece que só neste idioma existe este significado e uso – significa “prazer na desgraça”. Duas palavras conflitantes, usadas ao mesmo tempo. No ambiente de drogas, o prazer é do traficante, a desgraça é do usuário. Mas talvez ambos, o traficante e o usuário, têm prazer na desgraça. Um por auferir lucros com a desgraça alheia. Outro por achar, ingenuamente, que o prazer será duradouro. E assim o mundo avança. Para onde? Para o fundo do poço... Tantas vidas são perdidas, tantos sonhos são destruídos. Não queremos falar deste tipo de “mágica” hoje. Temos coisa melhor.

Retornemos, pois, a nossa conversa entre amigos. O canteiro ao nosso lado tinha diversas plantas. Falávamos sobre o poder destas plantas para tratar de doenças, reais ou imaginárias, de forma correta, agradável e com baixo custo. Um conhecimento valioso, que só os mais vividos possuem em profundidade. Mas que são também objeto de pesquisa séria, nas Universidades, que geram, as vezes, remédios poderosos. Digamos que, ao contrário do “schadefreude”, geram saúde com prazer. E são gratuitas. E o canteiro era muito bonito, com tantas folhas de cores, formatos e perfumes diferentes. Algumas até com flores bonitas.

Falemos sobre as plantas medicinais. Naquele pequeno canteiro, que cabe em qualquer horta, é possível cultivá-las. Se não tivermos um canteiro, podemos cultiva-las mesmo em vasos. Algumas pessoas fazem isto com a “erva do diabo”, a maconha. Ou seja, como tudo na vida, tão fácil como fazer uma coisa boa, tão fácil é fazer uma coisa danosa. Cabe a nós decidir sobre o que faremos. Fazer uma coisa boa tem uma vantagem: nos alegra, nos faz feliz. E quem não quer isto? Agrada-me uma recomendação ética: “Não faça aquilo que você não pode contar para outros, depois”. Uma regra simples, que nos orienta para fazermos sempre as coisas corretas, convivendo em sociedade. E sermos felizes com nós mesmos.

Explicava-me o “Seu” Zuzuca, do alto dos seus 85 anos bem vividos: está é o bálsamo que serve para o estômago. Este outro é o manjericão, serve para coração. E, naquele mesmo canteiro havia muitas outras: marcelina, losna (estomago) pruma (dor de cabeça) arruda (colírio) hortelã, funcho (tosse) chaga (feridas) funcho (calmante) alcafor (dores musculares) etc. E tem uma árvore que dizem ser afrodisíaca – o sassafrás... Com as folhas, com as flores e/ou com os caules se fazem chazinhos e “pós” que, ao serem usados, restauram energias, restabelecem a saúde. E ele sabe sobre tudo aquilo, com segurança. Não precisou ir à Escola para aprender isto, aprendeu com a vida. Não vai tomar chá de bugalhos quando precisa de chá de alhos...

Algumas destas plantas, dizem, servem para nos tornar mais bonitos. Para que? Ao aprendermos estes valores do conhecimento popular, ao convivermos com estas pessoas que conhecem a vida, descobrimos a beleza real. A beleza e o prazer da boa companhia. Este é o pó de pirilipimpim de verdade. Ao conversar, olho no olho, você pode voar por lugares nunca imaginados. E ser feliz. Pense sobre isto.

(*) Rodolfo Koeppel é morador de Glaura, onde está organizando o programa Trilhas de Ouro Preto (www.trilhasdeouropreto.org). Recentemente começou a trabalhar na BELOTUR, entidade que terá projetos turísticos entre Belo Horizonte, Ouro Preto e Mariana – quanto melhor recebermos os turistas, mais emprego e renda teremos na nossa região. E seremos todos mais felizes. A gente tem que ser feliz onde mora.

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