Olho no olho

14 de Julho de 2015
Valdete Braga

Valdete Braga

São inegáveis as vantagens do virtual. Não sou contra a internete, e seria ignorância não reconhecer suas qualidades. Ontem mesmo, fiz um eletrocardiograma, e assustei-me quando, em poucos minutos, o cardiologista disse: “prontinho, está tudo ok com seu coração”. Antigamente, era aquela fitinha que ficava toda vida rodando e rodando e a gente esperando. Este é apenas um dos inúmeros exemplos que poderiam ser citados, em todos os campos em que a informática chegou, para melhorar a vida de todos nós.

Nada contra o mundo virtual, nem teria porque. O problema começa quando ele passa a substituir o mundo real. Aí fica complicado, e infelizmente, estamos vendo acontecer mais e mais, a cada dia e com mais pessoas. Tornou-se comum as teclas substituírem a voz e o visor substituir os olhos.

Uso computador e troco mensagens também, é lógico. Mas ainda prefiro o olho no olho, o bate papo na mesa do bar ou na varanda da minha casa ou da casa de um amigo. Na correria do dia a dia, o tempo é curto e a internet ajuda muito, mas não pode ser única. Dez minutinhos para olhar o outro precisam existir. Que não sejam todos os dias, já que é impossível, mas uma vez por semana, na saída do trabalho, na hora das compras no supermercado, quando vamos pagar as contas, no Banco... as pessoas fazem tudo teclando no celular!

Quantas pessoas não se vêem na rua, porque, ao se cruzarem, estão de olhos baixos, fixos no aparelho! Enquanto alguém “conversa” com um amigo, sem ver-lhe o rosto, pode estar perdendo o abraço de outro que passou por ele e ele não viu, e vice-versa.

Estão faltando encontros, no mundo. Falta o toque, o sorriso ou as lágrimas, o abraço de felicidade ou o ombro amigo para chorar. Nossa risada virou “kkkk” e nossas lágrimas viraram bonequinhos que choram por nós. Não que eu não goste dos “kkkk”, uso direto na internet, que, diga-se de passagem, utilizo muito pouco, mas eles jamais substituirão a minha risada saída da garganta ou o sorriso vindo dos meus lábios. Da mesma forma, minhas lágrimas não são “emotions”. Se elas tiverem de cair, virão direto dos meus olhos, molhando o travesseiro, para, no dia seguinte, quando o sol voltar a brilhar (e ele sempre volta), serem secas por ele e substituídas pelo sorriso dos lábios. Nesta substituição, sim, eu acredito, e dela não abro mão nunca.

Sou contra o virtual? De jeito nenhum, muito pelo contrário. Sou contra a utilização exacerbada, por muitos, substituindo o virtual pelo real? Absolutamente sim! Vou continuar usando o “kkkk”, os emotions e o virtual, na medida do possível e quando necessário. Mas não abro mão da gargalhada que vem da garganta, do sorriso que vem dos lábios e das lágrimas que escorrem pelos olhos. Jamais abrirei mão do abraço escancarado, bem apertado, nas pessoas que amo, ou do olhar acompanhando nossas conversas. Isto tecnologia nenhuma jamais substituirá.

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