Ouro Preto: mitos históricos e interesses turísticos

22 de Setembro de 2013
Jornal O Liberal

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*Rodolfo Koeppel

Como fazer com que o turista se interesse por uma região? Alguns lugares, mais pobres, têm que inventar ET’s, outros têm seus “chupa-cabras”. E assim conseguem atrair turistas. Talvez por um dia, talvez por algumas horas. É o ditado: “Quem não tem cão, caça com gato”.

Ouro Preto, ao contrário, é riquíssima em histórias e fatos reais, mas que precisam ser melhor conhecidos e divulgados. Vejamos um exemplo, desconhecido pela maioria. Podemos manter a atenção do turista por semanas e, melhor ainda, trazê-lo de volta inúmeras vezes. Uma “mina de ouro” moderna!

Em Glaura, uma história corrente é que Dom Pedro II viria, a cavalo, toda semana (!) transar com a Baronesa de Capanema. E depois voltava, feliz, para o Rio de Janeiro. Podia até voltar feliz, mas certamente com os fundilhos doloridos, após dias e dias andando a cavalo... Mas a história real é muito mais rica e emocionante do que uma simples e inviável transa imperial.

Em 1817 a Princesa Leopoldina, austríaca, contrata o Presidente da Câmara de Ciências de Viena, Rochus Schüch, para vir fazer diagnósticos geológicos em Ouro Preto. Este acaba se casando no Brasil e ao término do seu contrato, adquire uma imensa área nos contrafortes da Serra de Capanema, no Distrito de Glaura, onde encontra ouro... Geólogo é bom nestas coisas! Aliás, as ruínas da Fazenda Capanema são magníficas, com vista espetacular para a Serra do Caraça. Tem um filho, Guilherme Schüch, que, tal como o pai, é brilhante. Nesta época, no Rio de Janeiro, surge a necessidade de um tutor para educar o futuro Imperador, Dom Pedro II, então bem jovem. E a família Schüch vai para o Rio, já que Rochus sabia de tudo e mais um pouco, sendo ótimo professor. E se Dom Pedro se tornou uma personalidade única, devemos isto aos ensinamentos transmitidos por Rochus Schüch.

Guilherme e o jovem Pedro crescem juntos. Com 16 anos, Dom Pedro envia Guilherme para estudar Engenharia na Europa. Ele retorna com 24 anos. Estamos em 1848, Dom Pedro II agora manda no Brasil. E adora Guilherme. Mas o nome Schüch não é prático, ninguém consegue sequer pronunciá-lo. Portanto, nomeia Guilherme como o Barão de Capanema no que passa a chamar Guilherme S. Capanema. Daí em diante, se as transas com a Baronesa existiram, elas eram mesmo no Rio de Janeiro. Dizem que amigo é para estas coisas!

E quem foi Guilherme S. Capanema? Junto com Mauá, foi uma personalidade vital para o Império: construiu a rede nacional de telegrafia – a Internet da época, o que permitia o conhecimento sobre o que acontecia em todo o Brasil. Revoluções ocorriam em todo o Brasil, mas com a informação instantânea, Dom Pedro II ficou no poder por meio século. Mandava o Duque de Caxias explicar com quantos paus se faz uma canoa e ficava no poder.

Defendeu o Brasil no Acordo Métrico Internacional, na França. Tinha uma fábrica de pólvora e de metralhadoras – estávamos em guerra com o Paraguai. Tinha uma fábrica de formicida, que era um sucesso. Ganhava dinheiro com o “linimento antiberibérico do Barão de Capanema”, um grande sucesso farmacológico. Fez inúmeros trabalhos técnicos no Brasil. E escreveu 60 artigos para o jornal sobre uma viagem de pesquisas ao Ceará junto com Raja Gabaglia, Gonçalves Dias e outros, numa das leituras mais deliciosas sobre o Brasil de então (Os ziguezagues do Dr. Capanema, publicado no Ceará).

Se Ouro Preto ainda existe, devemos isto ao nosso Barão. Pois, seu neto, Gustavo Capanema, viria a ser o futuro Ministro da Educação do Brasil e fundador do IPHAN, em 1930, cujo foco inicial era a conservação de Ouro Preto, que, por volta de 1920, vinha sendo destruída progressivamente. Isto também aconteceu em Glaura, onde havia casas belíssimas, transformadas em pedras para fundação de novas casas em Cachoeira do Campo.

Existem centenas de histórias do Barão de Capanema que são inteligentes, cômicas, humanas. As histórias de Capanema já são um atrativo de conteúdo interessantíssimo para qualquer visitante ouvir. Portanto, Ouro Preto não precisa de ET’s. Nossa história é riquíssima com personalidades que fizeram nossa região: o Embuçado, Madame Olímpia, Santos Dumont, Prof. Calaes, os escravos e tantos outros.

Estaremos envolvidos na recuperação destas histórias, tão ricas e tão fascinantes. E estaremos procurando documentar e ensinar isto para nossos jovens, futuros guias turísticos. Vamos juntos criar algo que torne o prazer de vir a Ouro Preto ainda melhor!

Se você tem um “causo”, uma história, um fato importante, faça contato conosco (rodolfo.koeppel@gmail.com). Vamos conversar e enriquecer nossas histórias reais!

(*) Rodolfo Koeppel, economista, é morador de Glaura e convive em Ouro Preto a mais de meio século. Há 10 anos promove o Glaura Musical, um evento cultural / musical / gastronômico / turístico. Já trabalhou com os artesãos de pedra sabão em Ouro Preto, Mariana e Catas Altas da Noruega. Está envolvido em projetos de turismo em Ouro Preto.

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