Mobilidade tornou-se o maior desafio das cidades

08 de Setembro de 2013
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

A questão da mobilidade tornou-se um problema comum para todos os cidadãos das capitais e das cidades de porte médio ou grande. O crescimento da frota de veículos foi superior a 100% nos últimos dez anos, sem correspondência na oferta de transporte público de qualidade e sem que as cidades, nos seus traçados urbanos, pudessem oferecer maios espaço para carros, caminhões, ônibus e motos, seja para o tráfego ou para estacionamento. Ao cidadão, ainda obrigado a usar diariamente seu veículo, ou o que por conforto e privilégio usa o carro, transitar e estacionar tornou-se um ato de sorte, com prejuízo para todos, cidadãos comuns também, que sofrem com os congestionamentos, com a poluição visual, do ar e do barulho. O carro virou o senhor das vias públicas.

O que é mais grave é que o Governo Federal continua a estimular a produção automotiva, com isenções fiscais e outros privilégios de venda. Carros estão sendo vendidos com longas prestações. E não há intenção ou mesmo discussão quanto à necessidade de frear a expansão acelerada da frota, em razão do receio de provocar desemprego na poderosa indústria automobilística ou de reduzir ainda mais o desempenho desacelerado do PIB brasileiro. A questão da mobiliade tornou-se, nesta equação, um dilema político, sobre o qual paira um silêncio pesado. E a indústria automotiva divulga mensalmente estatística da fabricação de veículos e as revendedoras comemoram um mercado consumidor já ativo há alguns anos.

Pelo lado das cidades, sabemos que implantar transporte coletivo confiável não é fácil. As prefeituras têm pouca ação sobre os concessionários do transporte coletivo. E não têm recursos para obras de melhoria das vias. Túneis, elevados, viadutos, garagens subterrâneas ou prediais, são obras caras e demoradas, representando intervenções urbanas nem sempre de fácil implantação. Trens urbanos, o metrô ou outras formas de transporte veloz estão fora do alcance da imensa maioria das cidades. Podemos então prever que os dramas urbanos relativos ao trânsito vão continuar afligindo os brasileiros por muito tempo.

O excesso de carros nas ruas é uma das contradições da sociedade brasileira nestes tempos de surpreendentes mudanças. O País parece ter caído numa espécie de armadilha decorrente de políticas econômicas sem visão de conjunto, em meio a sucessivas crises, ajustes praticados para corrigir uma questão, mas que acarretam transtornos correlatos. O paradoxo é interessante: a economia em crise não pode prescindir da indústria automobilística e esta trabalha com incentivos que permitem um crescimento incompatível com a circulação urbana e até mesmo com a capacidade aquisitiva da população brasileira. A circularidade da questão se torna mais crítica quando não se pode intervir no transporte ofertado pelos concessionários, caro, de qualidade questionável. Não há paliativos de curto prazo. Os investimentos para transformações radicais das cidades e os meios de transporte são muito caros. Os protestos nas ruas contra o transporte público mostram o descontentamento da população mais pobre com este quadro.

Nas cidades mais antigas, de traçado irregular, de ruas estreitas, como Ouro Preto, o caos se instalou. O carro torna-se um transtorno em certas situações. O deslocamento é lento e o estacionamento impossível. E não há solução à visita a não ser com medidas drásticas, coercitivas, que os gestores públicos não querem tomar. E a população, os motorizados e os que transitam a pé, todos, cada vez mais perplexos com esta situação, permanecerão inertes à espera de mudanças que, no quadro atual, não serão fáceis de alcançar.

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