Professor não é pai, nem mãe, nem psicólogo, nem assistente Social

20 de Abril de 2012
Valdete Braga

Valdete Braga

O texto a seguir foi postado por André Kenji de Souza, em um blog. Diante da triste realidade dos professores em nosso país, achei procedente e gostaria de dividir com você, leitor.

Um discurso bastante comum é aquele que diz que professor tem que ser pai, mãe, psicólogo, assistente social e sabe-se lá o que mais (Talvez padre ou cozinheiro). Nada mais errado que isto. Não só isso incute preconceitos – como que os pais e mães das crianças da escola pública são incapazes de cuidar dos filhos, e que é necessário uma figura mágica para exercer esta função.

Um pai ou mãe exerce uma função bastante próxima da criança e querendo ou não, sabem que no futuro esta pessoa será responsável por eles quando estes estiverem na velhice. Também convivem diariamente com as crianças, nasceram com ela e têm em mãos um bom número de sanções para qualquer falta que as crianças cometam. O professor tem um contato bem mais distante com as crianças e uma gama bem menor de castigos à mão. Na melhor das hipóteses, uma professora que tenha grande afeto pelos seus alunos (usando uma palavra até não muito tempo atrás na moda) vira aquela tiazona sem filhos que mima os sobrinhos, burlando qualquer restrição que seus pais impõem a eles.

E sim, Psicologia e Serviço Social são duas áreas complexas, a ponto de que se dizer que um professor deve ser psicólogo e assistente social, é uma forma de diminuir essas áreas (sem diminuir a função do professor, é óbvio). E tenho lá dúvidas se quem profere este discurso conhece a vida profissional dessas pessoas. E francamente, a vida pessoal e familiar dos alunos não é problema dos professores. Se há problemas graves de violência, a escola pode e deve intervir, mas isto não significa que a pobreza em si justifique um desempenho cognitivo ruim. Claro, eu já vi casos escabrosos e horríveis na vida pessoal dos alunos, mas a postura coitadista tende a piorar, não a melhorar a situação. Mesmo em favelas existem alunos inteligentes, e a grande maioria dos favelados vive melhor que muita gente da classe alta dos períodos Pré-Revolução Industrial. Aliás, mesmo em casos extremamente problemáticos, que se desdobram em sala de aula, a escola tem pouco poder.

E claro, esse tipo de discurso existe em grande parte não por preocupação com o aluno, mas para justificar o fato de que a escola tende a subestimar as capacidades dos alunos (note que eu falo a escola, não os professores). Aliás, as políticas educacionais do país subestimam. Professor não é pai, nem mãe, nem psicólogo, nem assistente social. Professor é professor, e deve se preocupar com o desempenho intelectual do seu aluno, não com sua vida pessoal.

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