Respeito à profissão

31 de Janeiro de 2011
Valdete Braga

Valdete Braga

Uma amiga tem um filhinho de um ano e meio. Coisinha mais fofa, como toda criança nesta idade. E também como toda criança nessa idade dá um trabalhão. A minha amiga faz das tripas coração para dar a ele o melhor que pode e como resultado ele é um menino calmo, tranqüilo, que de vez em quando dá uns sustos na mãe, normais da idade, mas é um doce.

O pai não dá a mínima e eu sempre digo a ela que está melhor sem ele. Como diz o ditado, antes só do que mal acompanhada. Mesmo com dificuldades, ela trabalha, batalha muito, a criança fica na creche enquanto ela está no trabalho e ela compensa quando chega e nos finais de semana... enfim, uma família como qualquer família.

Como também é normal em crianças nesta fase, o garoto um dia amanheceu com febre alta e a mãe imediatamente correu com ele para o hospital. O médico de plantão, não cabe aqui nomes, receitou um remédio, ela comprou e no mesmo dia passou a dá-lo à criança.

No dia seguinte a febre aumentou e ela voltou ao hospital, sendo outro remédio receitado por outro médico. Até aí, nada da tão anormal, não seria o primeiro caso de rejeição a determinado remédio e aceitação a outro. O que aconteceu depois é que foi muito sério e não poderia jamais acontecer.

Nem com o segundo remédio o garoto melhorou. Desesperada, ela voltou ao hospital, já era plantão de outro médico, que também não cabe aqui nome, nem eu sei, e disse a ele que só naquela semana, já era a terceira vez que ela levava o menino.

O médico respondeu, literalmente:

“- Se já é a terceira vez que a senhora trás o seu filho em uma semana, é melhor montar logo uma barraca aqui.”

Se eu não conhecesse muito bem a minha amiga iria achar que é exagero. Até falta de ética tem limite. E ainda vindo de um profissional de saúde, é inaceitável.

Que o nosso sistema de saúde é precário, que os médicos, enfermeiros, todos os profissionais de saúde, enfim, precisam ser mais valorizados, é uma coisa tão óbvia que nem é preciso dizer. A medicina é uma profissão abençoada e mais do que um erro, acho um pecado a forma como funciona, ou melhor dizendo, não funciona, o sistema público de saúde. Falta material, faltam aparelhagens, não deve ser nada fácil trabalhar neste esquema.

Mas há que se pensar no outro lado: o paciente não tem culpa. O paciente confia no profissional. Uma criança de um ano e meio ardendo em febre não é caso para piadinhas.

Conheço alguns, não muitos, médicos. E Deus me deu a graça de que todos aqueles em que fui parar eram médicos, na verdadeira acepção da palavra. Graças a Deus, nunca tive problemas. Tenho ótima saúde e é raro precisar, mas sempre que precisei todos foram absolutamente profissionais e, o mais importante, humanos. Não posso reclamar, de jeito nenhum. Mas acho que se topasse com um desses na minha frente, ia dar confusão, ah se ia...

Onde já se viu, tratar deste jeito uma mãe com uma criança ardendo em febre nos braços, já exausta, física e emocionalmente, de correr de um lado para o outro com o filho... isso é um crime.

Os profissionais de saúde, salvo raríssimas exceções, ganham mal, têm carga horária pesada, vivem estressados... a gente entende. Mas não justifica este tipo de atitude.

São mal pagos, precisam dobrar o turno e consequentemente não dão conta, etc. Isso é um absurdo, mas repito: o paciente não tem culpa. Ele precisa ser atendido com presteza e dignidade e não ouvir piadinhas de mau gosto porque o profissional está insatisfeito. Que mude de profissão, então.

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