Rio subterrâneo atravessa a Praça Tiradentes

20 de Julho de 2014
Jornal O Liberal

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Segundo comunicado distribuído pelo Ministério Público, o prédio do CAEM foi interditado sob risco de desabamento, em consequência de solapamento do muro de pedra seca, localizado nos fundos. Com isso, o caixotão da Praça Tiradentes tem novamente as atenções voltadas sobre si, a exemplo de outras vezes, desde seu surgimento em lugar de edificação de aparência mais simpática, ali existente, pelo menos até a metade do século dezenove. Em 1949, segundo alguns testemunhos, ou em 1950, de acordo com o boletim “Isto é Inconfidência” edição nº 11, do Museu da Inconfidência, incêndio destruiu completamente o prédio que, então, abrigava o Fórum da Comarca de Ouro Preto; motivo suficiente para, em mentes malsãs, se perpetrasse o então misterioso sinistro, agravado pela combustão de grande quantidade de açúcar, que estaria estocada em seu porão. Vivia-se grave crise no abastecimento daquele gênero alimentício, e, o citado estoque alimentava a cobiça do comerciante proprietário! Mais ou menos dez anos após o incêndio, o prédio foi alvo de aguerrida disputa entre estudantes da Escola de Minas que o queriam em troca do CAEM (casarão na esquina da Praça Reinaldo Alves de Brito ou “Praça do Cinema” com a Rua Paraná). Ganharam os estudantes que subiram o Morro Santa Quitéria, para instalar o CAEM onde, hoje, está, e, óbvio, perdeu o poder público, que desceu pelo mesmo caminho, para instalar a casa da Justiça, no casarão deixado pelo CAEM. De volta à atualidade, o anunciado perigo de desabamento não chega a surpreender, em sendo Ouro Preto o cenário, agredido pela incúria geral, sacolejado por máquinas e tal... Mas chama a atenção o fato de o “caixotão”, a exemplo de uma ponte, poder ter sob si curso d’água, ainda que subterrâneo, a correr da Praça para o bairro Antônio Dias. O que piada se parece não nos cabe a autoria, mas ao Instituto Geotécnico (Igeo) cujo laudo conclui que “o cenário atual de deformação do aterro é crítico, necessitando, portanto, de uma intervenção urgente. Caso o muro de pedra seca venha a romper, estima-se que a energia potencial acumulada do sistema seja suficiente para projetar material até cerca de 30 metros a jusante”, conforme transcrito na nota distribuída à imprensa. O vocábulo, jusante, é registrado em dicionários com significado único, ou seja, significa o sentido para onde correm as águas de um rio, de um regato, etc. Considerado determinado ponto de um curso d’água, a parte mais baixa, ou para onde a água corre, é jusante; ao contrário, a parte mais alta, ou de onde vem a água, é montante. Já não se consultam dicionários como antigamente. Lamentável, caras-pálidas!

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