Sem medo de meter a mão

05 de Março de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Não tem mesmo jeito! O eleitorado brasileiro dá murro em ponta de faca, a cada vez que se submete à coação do voto, dito democrático, depois de ouvir todas as cantilenas, na campanha eleitoral, incluindo-se as que dizem ser impatriótico o voto nulo, que o eleitor deve sempre escolher o melhor, mesmo que este não haja. Ouve, acata, vota e espera para ver mudanças, mas continua a levar pauladas na moleira! Está aí o mais recente exemplo do que os eleitores não querem e políticos insistem em empurrar-lhe goela abaixo: a busca do poder pelo poder, sobretudo o proveniente do dinheiro.

Aos primeiros dias da atual legislatura, deputados estaduais mineiros, deixando de lado interesses coletivos, aprovaram auxílio moradia para si próprios, incluindo-se os que têm imóveis em Belo Horizonte. Não chegaram sequer a esquentar as cadeiras com seus traseiros para, em dois turnos rápidos e rasteiros, dar a contrapartida aos votos recebidos, nas urnas há apenas quatro meses. Quem viu ou ouviu a propaganda política deve se lembrar do que foi dito. Aliás, nem precisa ver ou ouvir tais campanhas, porque o dito por eles é sempre o melhor que se espera de um político, razão pela qual é perda de tempo ouvir o que dizem antes da eleição. O golpe do joão-sem-braço, agora dado, não foi anunciado por nenhum deles durante a campanha, posso garantir, embora não tenha assistido a uma só daquelas lengalengas! O diabo, revelado mediante primeira diatribe desta temporada contra o povo, apresentou-se durante a campanha como cândido anjo, portador da esperança no atendimento de todas as necessidades coletivas.

A cada eleição o quadro da enganação é o mesmo: todas as promessas imagináveis, antes; e nada do prometido, depois. Não sobra tempo para a coletividade, uma vez que estão ocupados com seus próprios interesses e os do respectivo partido, incluindo-se eleições seguintes.

Não dá para ficar calado diante dessa imoralidade, e, foi assim que a opinião pública reagiu, manifestando-se contra a atitude dos parlamentares, que afrontam a ética, mediante concessões de benefícios a si próprios, em lugar de legislar e fiscalizar como representantes que são do povo. Infelizmente, a reação não tem ressonância no ato de votar, bastando lembrar o resultado das últimas eleições totalmente na contramão das gigantescas manifestações, que varreram o país de norte a sul, em 2013. As grandes massas populares, nas ruas, indicavam clara reprovação ao governo; e essa reprovação, esperava-se que fosse confirmada nas urnas. Deu-se, justamente, o contrário!

A subserviência, fortemente enraizada na cultura brasileira, tornando subjugável grande parcela da população, é a grande facilitadora do ambiente politico, visto e usado como emprego bem remunerado e canal para o exercício de influência pessoal, quando não para práticas corruptas ou, no, mínimo, antiéticas. “Fulano rouba, mas faz”, comumente ouvido em discussões de rua sobre política, é o mote da capitulação do eleitor aos desmandos do mau político; um e outro como resultado de uma cidadania capenga engendrada pela má educação, assim como cidadão mal formado e mal informado resulta em político destoante do que lhe cobra a verdadeira Política. O mal brasileiro é de raiz, é de origem, razão pela qual, muitos tropeços ainda serão necessários, para que este país encontre o caminho de que não se envergonhe!

Pressionado por cobranças e circunstâncias, o Congresso Nacional deve, finalmente, por em discussão a reforma política que, na verdade, não deve passar de tentativa para salvar as aparências, uma vez ser difícil acreditar que os principais envolvidos estejam dispostos a legislar em desfavor do sistema que lhes é mais conveniente. Estando a raposa, à vontade, dentro do galinheiro, melhor destino não terão as penosas! Entretanto, afora questões de mais difícil compreensão por parte do cidadão comum, não custa lembrar dois, que distorcem o conceito de democracia atribuído ao regime vigente. Em relação ao voto do cidadão, por exemplo, não se pode falar em direito democrático se ele é coagido, por lei, ao comparecimento às urnas. Tolhido em sua liberdade de opção, comparecer ou não comparecer à seção eleitoral, o eleitor ainda se vê compelido a decidir entre candidatos pré-escolhidos sob critérios duvidosos e clara manipulação das cúpulas partidárias. Não é, portanto, sob a luz da democracia que o voto é dado pelo eleitor! Mais tarde, constatada a não correspondência do eleito às exigências do cargo, é sobre o mesmo eleitor que se lança a culpa pela má escolha.

Mas, se ao votar é obrigado, sob pena de perder vários direitos, para ser votado, não basta a vontade do eleitor, havendo que ele ser filiado a uma das muitas agremiações partidárias. Essa obrigatoriedade e discriminação, por óbvias razões, impede que bons cidadãos, avessos à política partidária, se candidatem a cargos eletivos, privando assim o país de ter outras lideranças, mais comprometidas com os interesses e necessidade coletivas.

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