Sobrevida, carnaval, auxílio e patifarias

16 de Fevereiro de 2018
Neto Medeiros

Neto Medeiros

Talvez este título seja tão sem sentido quanto coito interrompido. Motivos óbvios. Afoito, penso na lucidez translúcida da alma, pagã, que se esbalda na vil e reluzente festa... Penso no Brasil e seu povo, que faz do limão, limonada. Mesmo que não haja a fruta. Na labuta do dia a dia, pega na enchada ou na colher, de pau ou de pedreiro. Que vê Brasília mais suja que pau de galinheiro. Mas que trabalha. Pois teu filho não foge da luta! Este guerreiro, que já do ventre é diferente, pois não sabe se será indigente, ou mesmo filho da outra. Esta gente sofrida, às vezes morre por bala perdida. E quase sempre, feito o repente do lamento nordestino, bala achada, que nem a mala de dinheiro ou a cadeia do faminto...

Às vezes minto. Mas quem não mente nesta terra de ninguém não é mesmo? A culpa é do brasileiro. Como se eu fosse português. Pior, mais de uma vez me acho burguês, e aí, piso em quem igual a mim é correria. No dia a dia. No busão lotado onde ignoro a velha que quer sentar. Ou na escola, que mesmo ocupando o lugar de outro que quer estudar, eu vou lá e falto, colo, foda-se, só quero mesmo é zuar.

Zoação mesmo é esse auxilio-moradia hein tia!? Uns usam pra comer gente, outros dizem ser penduricalho. Baralho! Outros comparam ao bolsa-família, e eu aqui, com cara de otário. Pior que cada um sabe onde aperta o calo. Prefiro falar sobre privilégio. Dos brancos, dos pretos, das minas, dos trans, de toda a quebrada. Rico, pobre ou amarelo. Sobre elo e farelo simulando comida. Sobre a apreensão do helicóptero ou o pedalinho da mansão. Sobre correr pro mato ou pro Moro. Sobre matar ou mentir. Sobre interagir com estranhos no samba canção. Sobre mesada ou mensalão...

Você já ouropretou?

No Largo da alegria conjugarás este verbo. Em toda a Vila Rica. Só mesmo o carnaval como acalanto para acalmar este pranto perene de ser brasileiro. Onde transformam o país na rima pra ganhar mais dinheiro. Onde a poesia às vezes se rende para o monetário, pois o salário rege a nação. Que não pode parar, pois tem jornal popular que nunca se espreme porque pode derramar...

Coitado de nós. Reles mortais. Que neste ou em outros carnavais agonizamos por um momento a mais. Só mais uma saideira. Pois a pureza destes dias, monumentais, nos recarrega de algo que só mesmo esta festa, goste ou não, pode proporcionar. Quem dera o carnaval fosse eterno... Feliz 2018.

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