Temo um problema em Ouro Preto

18 de Abril de 2014
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

*Rodolfo Koeppel

Oh! Como seria bom se tivéssemos apenas um problema!... Um município do tamanho de Ouro Preto, com tantas comunidades e com a nossa história (que também pode ser lida como – velhice) tem muito mais do que um problema. São necessidades de tratamento de efluentes, de educação, de saúde, de segurança, de cultura. Enfim, desafios não faltam para nossos administradores públicos e para quem se interessa pela comunidade.

Hoje vamos abordar um problema. E podemos ser crucificados por isto. Em Ouro Preto talvez seremos enforcados, pois aprendemos com a história. Vamos falar de um monstro. É um monstro devorador, mas todo mundo quer um. Algo que nos lembra os cachorros “pit-bull” – os donos gostam, atemorizam todos os demais... A política nacional de desenvolvimento é baseada neles. É agradável sentarmos e passearmos num deles. Gostamos de mostrar para nossos amigos. Eles são um símbolo de status. Mas, infelizmente, são a desgraça do mundo!

Estamos falando de automóveis e tudo de mal que eles trazem junto. Perda de tempo, mortes e poluição. Mas vamos discorrer um pouco sobre apenas um dos problemas – o uso de espaço público em detrimento de pessoas e a favor desta monstruosidade moderna – o automóvel.

É difícil falar sobre isto, quando é o sonho de consumo de todos nós. Quanto maior, quanto mais potente, melhor (Epa!... Isto pode ter conotações sexuais...). E cada um deles ocupando, no mínimo, quando parado, 12 m² – mais do que o nosso quarto de dormir. Quando usado, ocupa muito mais. As vendas de automóveis crescem, dinamizando a nossa economia. E as ruas, coitadas, não crescem. Em Ouro Preto, onde andávamos de liteiras no passado, hoje andamos (Paramos? Andamos parados nos engarrafamentos?) com carros de grande potência. Infelizmente o Brasil esqueceu-se do transporte público – até a estrada de ferro, que vinha a Ouro Preto, foi destruída. E assim, cada vez mais o conflito pelo uso do espaço público aumenta, fica mais intenso.

Agora vamos tocar num ponto crítico. Nosso burgomestre José Leandro tem enfrentado o problema de frente. E tem recebido críticas veementes. Contudo, registramos: estamos com ele e vamos lutar para que seja bem sucedido. Ao proibir estacionamento na Praça Tiradentes, demonstrou extremo bom senso de administração pública e orientação às pessoas.

Em Cachoeira do Campo estão aumentando as áreas de praças e jardins. Claro, isto pode ser lido como: estão reduzindo o espaço para os automóveis. Perguntamos para moradores o que acham disto: não ouvimos respostas educadas. Mas se hoje há rejeição, no futuro haverá um reconhecimento geral.

Cidades históricas, no mundo, têm um lugar único para o automóvel – do lado de fora! A cidade é para ser usada pelos pedestres, é para ter árvores e espaços públicos. Não é para serem reservas individuais de proprietários de automóveis.

Claro que associado a isto existem regras e serviços a serem operacionalizados – transporte coletivo, horários restritos para entregas, etc. O sistema de táxi em Ouro Preto, pelo que pesquisamos, agrada a gregos e troianos – os motoristas e os usuários. É barato, é rápido e gera receita.

Portanto, Prefeito José Leandro e Vice-Prefeito Chiquinho: não sucumbam às pressões dos veículos e de seus proprietários, continuem com o projeto de expansão de chafarizes e praças! A cidade é para o cidadão, caminhar e sonhar. E vocês não estarão sozinhos nisto: se matarem alguém por causa disto, nós morreremos juntos. E iremos juntos para o céu. O inferno moderno se chama automóvel...

*Rodolfo Koeppel (rodolfo.koeppel@gmail.com) é morador em Glaura e já viajou muito pelo mundo. Principalmente à pé, em cidades históricas da França, Alemanha, Itália, Inglaterra ou outros locais.

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