Tenham Dó

19 de Setembro de 2014
Valdete Braga

Valdete Braga

O acesso à internet está muito mais acessível a todos. Maravilha! Pessoas de todas as classes sociais se utilizam da rede. Sensacional! Jovens, cujos pais recebem bolsa família para alimentar, desfilam de cima para baixo com celulares de última geração. Que país perfeito! E ai de quem ouse falar contra essa perfeição! É logo chamado de “elite branca”, “coxinha”, “manipulado” ou coisa pior. Tenham dó!

Nada contra a tecnologia ou a facilidade de acesso a ela. Mas onde ficam os livros? Onde fica a literatura, a história, a cultura geral? Estou falando de livros, jornais, revistas, que a gente manipula (no sentido literal da palavra) que fica na estante e as páginas se tornam amareladas de tanto manuseio. Não falo de e-books, blogs, diários virtuais de meninas de 13 anos fotografando a si mesmas em poses sensuais.

A tecnologia, em si, não é ruim. Ruim é o uso que passamos a fazer dela. As crianças (não apenas adolescentes, crianças mesmo) chegam da escola, jogam a mochila em um canto e correm para o computador. Se bobear, a mochila só vai ser aberta de novo no dia seguinte, na escola. Aliás, escola prá que, se tem tudo no Google? Os jovens estão cada dia mais “plugados”, entendem tudo do mundo virtual com acessos que nossa geração nem sabia existir. Em compensação, mandam mensagens pedindo “mim” adiciona, e “xoram” quando o namorado diz que o relacionamento deles “kbô”.

Para quem interessa, isso é ótimo. Quando mais alienação melhor. É tão mais fácil entrar em uma lan house, pagar centavos por minuto e ler o que quiser em uma tela! Isso se ler, porque mais fácil ainda é ficar só nas charges e piadinhas. Claro que não é regra geral, mas as prioridades estão invertidas. Primeiro o virtual e depois, se der, a escola. O mais triste nisto tudo é que quem questiona é que está errado. Querem a todo custo dividir o país em dois: o Brasil dos “pobres” e o dos “ricos”. Pior: há os que querem jogar uns contra os outros. Daí, questionar esse acesso desenfreado e mal direcionado à tecnologia torna-se não querer que os “pobres” tenham os mesmos direitos que os “ricos”. Tenham dó, de novo!

Não é nada disso. Cultura não depende necessariamente de classe social. Nada impede que o rapazinho ou a mocinha utilizem internet através do seu celular top de linha enquanto a mãe vai receber o dinheiro do bolsa família, desde que ele leia o texto que a professora indicou na escola também. Mas ler é “chato”. “Cansativo”. “Antiquado”. Muito melhor acessar o Google, copiar de lá o que a chata da professora quer que seja lido no chato do livro e ter mais tempo para outras pessoas “mim” adicionar no bate-papo.

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