Tortura psicológica coletiva

14 de Julho de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

No último fim de semana, quem tem por hábito a leitura semanal do O LIBERAL deu de cara com matéria relativa à visita de inspeção de técnicos do DNIT ao trecho da BR-356, dentro do município de Ouro Preto. À primeira vista, mesmo antes de ler o texto, a reação deve ter sido: outra vez? Sim, porque já se perdeu a conta das vezes, que autoridades e técnicos rodoviários prometeram e juraram de mãos juntas que dariam uma solução aos conflitos entre o tráfego da Rodovia dos Inconfidentes e o tráfego local de veículos e de pedestres. Perderam-se no tempo as primeiras iniciativas com vistas à segurança nos pontos de interseção urbana da rodovia. De tudo se ouviu do outro lado como promessa de solução; desde túnel e passarela, chegando a um elevado sobre a atual pista, que passaria ao uso exclusivo do trânsito local, até que se falou em duplicação da pista, no perímetro urbano.

Lembro-me até de uma conversa mantida com funcionário graduado da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, quando nos encontramos junto à ponte do Vai-e-Vem (para quem não sabe é aquela, na saída para Ouro Preto, perto do grande supermercado). Todo empolgado, o rapaz informou que dois benefícios estavam para se concretizar para a região: duplicação da rodovia e novo sistema de captação, tratamento e distribuição de água. A minha reação foi uma gargalhada, à qual ele contra-atacou: - você não acredita por quê? – Com relação à água eu posso acreditar, mas não acredito mesmo no que se refere à rodovia – respondi. – Mas, já estão a medir todo o trecho, que vai sofrer a intervenção. – Medir por medir, isso já foi feito “n” vezes e nada resultou – devolvi e completei: - não tem sentido duplicação só dentro de Cachoeira; se fosse toda a rodovia, sim, faria sentido. Ele balançou a cabeça, dizendo: - você é um homem de pouca fé! – ao que respondi, brincando: de “pô café”, que eu conheço é o bule!

Nada se fez, provando-se, então que eu estava certo. Alguns anos depois, o próprio vice-presidente da República, José Alencar, foi usado nessa enrolação contra o povo. Seguindo orientação matreira de alguém, ele fez a mesma promessa em discurso, na Praça Tiradentes, por ocasião de celebração do dia 21 Abril. Não tiveram o mínimo pudor de usar o José Alencar, pessoa de nobres sentimentos, empresário de sucesso e respeitado como tal, porém um simplório político, ridicularizado pelas costas por seus pares! Acrescente-se que o homem já estava doente; cruel agravante ao ato desleal para com o ser humano e desrespeitoso para com o vice-presidente da República! Foi uma canalhice oficial!

Não se entende o porquê de tanta mentira! Ou, pior, entende-se, sim; é para a sustentação dos votos nas urnas, sabendo-se de antemão que o povo sofre de grave amnésia política. Ao esquecer-se de que já foi enganado, logrado, enrolado, o eleitor acredita nas mesmas mentiras e repete seu voto nas urnas. Depois do episódio José Alencar, com a mesma cara-de-pau e em ocasiões diversas, políticos aceitaram discutir o assunto com representantes da população, resultando todos os encontros em lero-lero inútil, sem quê e nem pra quê. Para não dizer que nada se fez, desde então, foi usado o paliativo do quebra-molas com a instalação de alguns no ponto mais crítico de Cachoeira do Campo, mas solução não se deu aos problemas. É bom que se diga: se quebra-molas fosse solução, ele não teria tal nome, embora, tecnicamente, tentem rotulá-lo de redutor de velocidade, coisa que ele não faz.

De acordo com a lei, quebra-molas constitue exceção à regra; só pode ser instalado, em casos especiais, desde que não encontrada solução mais adequada. Resumindo, em linguagem popular: quebra-molas é um quebra-galho ou, pior, uma “gambiarra”! Pergunta-se se os de Cachoeira do Campo atendem ao quesito da exceção ou casos especiais tolerados pelo CTB. Só os técnicos podem responder, dizendo se foram instalados em atendimento ao citado quesito ou se são mesmo “gambiarras”, para silenciar um pouco as reclamações.

Mais uma vez, fica o público na expectativa do atendimento, sabendo, ao mesmo tempo, que tudo pode cair no esquecimento como das vezes anteriores. O povo é ludibriado com propaganda enganosa e ainda embarca numa tortura psicológica coletiva, dois malefícios para os quais há punição, mas sendo autor o poder público, tudo bem, ninguém a ser punido. O povo é que deveria ser menos crédulo! Se a solução não vier desta vez, que mais nada se prometa ou anuncie. Havendo boa vontade, algum dia, na cabeça dos agentes políticos, que tudo se faça sem mais avisos. A boa surpresa redunda em melhor efeito!

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