Usando talheres de prata... roubados!

07 de Abril de 2017

Jornal O Liberal

Rodolfo Koeppel (**)

Estamos passando por crises de diversos tipos no Brasil. Como nos ensinou o filósofo Mário Cortella: Nunca faça coisas que você não poderá contar, depois, para seus amigos!

Claro, se os seus amigos são gente boa, você certamente vai fazer coisas boas. E pode contar. Mas se você vive no meio de malfeitores, então é normal que você faça malfeitos... E certamente vai contar. Para mostrar vantagens.

Nas duas situações você terá prazer em contar para o seu círculo de relacionamentos o que fez. Círculo que você escolheu. Infelizmente existem muitas situações nas quais gente boa faz estripulias... E o resultado é danoso para a sociedade. Já gente ruim fazer bondades é mais raro.

Todos os brasileiros se lembram da VARIG - The Brazillian Airlines. Um sucesso que, de repente, aterrissou e nunca mais levantou vôo. O que relato à seguir não foi a causa final, mas exemplifica bem hábitos brasileiros. E certamente ajudou a Varig a desaparecer.

Um amigo, com formação acadêmica de altíssimo nível, convida-me para jantar. Comida da melhor qualidade, vinhos franceses, música suave e luz de velas. Mas... Surpresa-1! Ao lado dos pratos, na posição correta, de acordo com as regras de bem receber, vi que os talheres eram de prata. Surpresa-2! Ao pegar a faca vi uma logomarca: Varig Brazillian Airlines.

Perguntei, educadamente, de onde vinha aquilo. Disse-me ele, sorrindo: Na minha penúltima viagem para Paris joguei dois conjuntos completos para dentro da minha bolsa. Na última viagem, para Berlim, fiz o mesmo. Por isto, agora, nós quatro podemos degustar o jantar com talheres de prata. Ah! Você vai ver como até a sobremesa terá melhor sabor! Os quatro conjuntos estão completos. Até colherinha para o cafezinho! Na próxima viagem, semana que vem, para Roma, trarei mais dois conjuntos. Eu adoro talheres de prata!

E seu sorriso agora já era quase uma gargalhada... De repente, para mim, não foi mais um bom jantar. Senti algo estranho no estômago. Pensei que o tal de °foie-gras° estava podre. Recusei a sobremesa, pois sou diabético, disse eu. Mentira, claro. Mas a gente tem que ser educado. Mesmo com ladrões.

Empresas que não faliram mas que até me levaram de graça para Londres (*) serviam as refeições com talheres de plástico... Certamente são empresas que não servem para meu nobre Amigo. Pena, ele também não viaja mais pela VARIG... Ela não existe mais... Mas ele também não precisa mais. Ele já tem talheres de prata para uma dúzia de amigos. Acho até que já foi promovido. Está em Brasília. Não sei o que faz lá...

Aos lermos os jornais, vamos descobrindo, a cada dia, que gente “boa”, nas quais votamos para nos representarem e fazerem nossas leis, também gostam de “talheres de prata da VARIG”...

(*) A British Airways foi a primeira empresa de aviação à aterrissar no vermelho, há muitos anos. A crise do petróleo a partir de 1974 desestruturou o mundo. Sua diretoria imediatamente reduziu seus salários anuais para uma libra esterlina, apenas. E partiu para um agressivo programa de gestão.

Poucos anos depois, também foi a primeira a levantar vôo em céu de brigadeiro, de novo. A Varig já estava raspando no chão, com todos os pneus carecas e meio vazios. E no dia em que eu tinha a passagem para ir caminhar na beira dos lagos na Escócia, todos os voos da BA, inclusive do Concorde, foram gratuitos. Comemoravam o sucesso por voltarem a operar de forma rentável. No Galeão havia uma escola de samba nos esperando. E no vôo, bebidas e tiragostos a vontade, grátis. O jantar foi servido com talheres de plástico. E foi inesquecível! Acho que ninguém roubou nenhum talher...

(**) Rodolfo Koeppel mora em Glaura. Está triste por que os aviões da VARIG não vão jamais descer no Aeroporto Municipal de Ouro Preto, a ser construído no Alto do Beleza, entre Cachoeira do Campo e Glaura. Quiçá se pararem de roubar talheres de prata no Brasil, a obra do Aeroporto, que trará mais turistas para Ouro Preto e Inhotim, será feita mais depressa. Ele está esperando... Sentado, para não ficar cansado!... Se você quiser conhecer o local aprovado para o Aeroporto, com pista de 1.600m apropriada para aviões turboélices, silenciosos e trazendo 60 turistas em cada vôo, e onde a PMOP já gastou dinheiro, faça contato com Rodolfo.koeppel@gmail.com