Vencendo o ódio (de quem? do quê?)

03 de Julho de 2014
Valdete Braga

Valdete Braga

Após o empate com o México e a vitória por goleada contra Camarões, estou convencida de que o Brasil vai ganhar a Copa. Não vou entrar no mérito das chamadas cartas marcadas, se existe ou não maneira de “combinar” resultado de jogos em uma Copa do mundo (quem sou eu?). Uns juram que sim, outros que não, e eu deixo esta discussão para quem entende. Não tenho o menor conhecimento para entrar nesta seara. Apenas acredito que o Brasil vai levar a taça.

O que me preocupa é o quadro pós-copa, que já começa a se desenhar. Eleições em outubro, é natural que, independente do resultado, a campanha comece quente. Pelo que tenho lido a respeito, vejo repetidas vezes uma palavra preocupante. Em poucos artigos que li sobre as eleições, a palavra “ódio” apareceu em praticamente todos. Isso assusta. Não importa de onde vem, mas é uma palavra forte, carregada de negatividade. Particularmente, existem duas palavras que eu bani da minha vida: inimigo e ódio. Recuso-me a ser ou ter inimigos e também me recuso a sentir ódio, por mais que aparentemente a pessoa ou situação mereça isto. Diz um ditado budista que sentir ódio é tomar veneno esperando que o outro morra, e acho a definição perfeita. Há tempos aboli esta palavra do meu dicionário.

Claro que estou me referindo a uma atitude isolada, de uma pessoa isolada, que aprendeu a lidar com esta situação, e mesmo assim não é fácil. Foram necessários treino, disciplina, e muita positividade diante das provações da vida para conseguir. Imaginemos então a palavra usada constantemente, no coletivo. Abre-se o jornal e lá está o ódio. Liga-se a televisão e a propaganda eleitoral é toda baseada no ódio (ainda que falando contra). Na internete é pior ainda: além da palavra, imagens, reais ou montadas, usando repetidamente “ódio, ódio, ódio”.

É um tal de “vamos vencer o ódio”, “não nos deixemos abater pelo ódio”, além da frase que já se torna oficial “a esperança vai vencer o ódio”. Lemos isto diuturnamente, mas eu ainda não encontrei em nenhum lugar uma explicação de que ódio é esse. De onde ele vem, quem o fomenta, onde ele nasceu. É fácil dizer “vamos vencer o ódio”, sem esclarecer de quem, de onde ou por que. Marketing? Pode ser. Mas fazer marketing em cima de uma palavra tão carregada me parece perigoso. Palavra tem peso e marqueteiros de campanha eleitoral sabem disso melhor do que qualquer um de nós. Ninguém quer o ódio em sua vida ou em seu país. Triste é ver pessoas sendo induzidas a votar em A ou B para “vencer” um “ódio” que nem elas sabem de onde vem. Dos opositores? De quem não gosta de fulano ou cicrano? De quem quer “derrubar” a presidente do país? Isso é tão vago... campanha em cima de “vencer o ódio” me soa tão imaturo e pessoal...

Que os entendidos, dos quais estou há anos luz de distância, apresentem propostas, idéias, até mesmo as não mais tão convincentes promessas. Fatos concretos, ideias a que o eleitor possa se apegar. Gostando ou não, apoiando ou não, precisamos de conceitos concretos para avaliar. Vencer o ódio deve ser proposta de cada um para a sua vida e não de um governo para o coletivo.

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