Vida em segundo plano

12 de Novembro de 2011
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Há muito que, neste pedaço, não se falava na Previdência Social, tema de discussões, foco de reclamações e acusações, quando se trata dos direitos de aposentados e pensionistas, antigos trabalhadores e contribuintes compulsórios aos quais se dizia que, ao fim de suas carreiras, lhes seria assegurada aposentadoria tranquila. O paraíso proposto, no início, revelou-se, ao longo dos anos, o maior engodo a que foi levado o trabalhador neste país; verdadeira patifaria que lhe suga o sangue e cospe em cima. Pouco a pouco, foram-lhe cortados todos os ditos “benefícios”, como o bônus permanência (pé na cova) ao se completarem trinta anos de trabalho; o pecúlio formado pelas contribuições do aposentado, que permanecia na ativa; e o reajuste automático em paridade com o do salário mínimo.

Nada mais havendo a cortar e impedida, constitucionalmente, de pagar valores abaixo do salário mínimo, a Previdência voltou-se contra as aposentadorias acima daquele, achatando-as até se nivelar com o mesmo.

Poucos têm a sorte da aposentadoria com saúde, e menos ainda os que conseguem manter-se no mercado de trabalho, escapando à depressão e ao alcoolismo, fim de muitos trabalhadores desamparados e frustrados. Os que conseguem manter-se no mercado de trabalho ainda têm de pagar, a fundo perdido, pela manutenção desse direito, pois ele contribui para Previdência como os demais trabalhadores, sem ao menos o direito de ter sua aposentadoria reajustada. Mais injustiças já aconteceram e, possivelmente, acontecem, mas não chegam ao conhecimento do grande público porque os atingidos não têm conhecimento e força para reclamar.

Felizmente, por providência a se reverter em favor da vida, há que reconhecer decisão positiva do INSS, embora se saiba que se prende unicamente a questões financeiras e não prioridade à vida, saúde e incolumidade física do cidadão. Tendo em vista importante decisão tomada pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal-STF, que considera crime, a partir de agora, conduzir veículo automotor sob efeito do álcool, o INSS deverá ir à Justiça cobrar dos causadores de acidentes, sob a condição de alcoolizados. Segundo se sabe, o Conselho Nacional de Previdência Social já teria determinado ao INSS mover ações na Justiça, contra tais criminosos do trânsito, para garantir o ressarcimento dos custos relativos ao pagamento de benefícios, como auxílio-doença e de pensões por morte. Embora, como já dito, a nova orientação do INSS se prenda à redução da despesa anual, que montaria a oito bilhões de reais, englobando o pagamento dos benefícios como pensões por morte e aposentadorias por invalidez, isso deverá resultar, finalmente, em menos vidas sacrificadas e menos pessoas incapacitadas por acidentes nas estradas do país. A decisão do STF corresponde à tolerância zero, no trânsito, com relação a condutor alcoolizado ao volante, não necessariamente causador de acidentes, pois bastará a constatação da embriaguês para que seja responsabilizado criminalmente. Responsabilidade criminal mais a responsabilidade quanto às consequências do acidente, ficando os culpados obrigados ao ressarcimento de despesas hospitalares, pensão por morte e aposentadoria por invalidez das vítimas, terão como resultado menor número de acidentes provocados por bêbados e, consequentemente, menos vítimas; isso, se motoristas chegados à bebida, finalmente, se derem conta do perigo de serem presos e terem que pagar ao INSS, em caso de acidente com vítima. E, finalmente, a lei tem que ser cumprida; os comprovadamente culpados têm de ser punidos!

Concorda-se com o maior rigor no trato com o ato de dirigir sob efeito do álcool e com o ressarcimento das despesas decorrentes dos acidentes com vítima. Mas, lamenta-se que somente agora algo é feito, e disso possa resultar vidas preservadas, incolumidade física mantida, embora a preocupação primeira das autoridades seja com o enorme custo deixado pelos acidentes. Lamenta-se, principalmente, por partir de governo que se alardeia preocupado com o social; que promove o social e defende o social. Infelizmente, nesse aspecto, a atitude do governo é reflexo da cultura tupiniquim, que só passa a respeitar leis, normas, regras e regulamentos, quando as consequências dos seus atos pesam no bolso.

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