Viver é desenhar sem borracha...

18 de Outubro de 2014
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Rodolfo Koeppel (*)

Esta frase, do Millôr Fernandes, sempre me agradou. Millôr foi um grande filósofo. É possível lê-la de várias formas diferentes, todas com grande conteúdo humano. Reflete, numa frase de cinco palavras, tudo o que se pode fazer (ou não fazer) na vida. Ensina como transformar uma simples folha de papel em branco numa obra única – a sua vida! Senão, vejamos:

Ao nascermos todos nós, ganhamos uma única folha de papel em branco e uma caixa de lápis de côr, a serem apontados. Se a caixa de lápis contem lápis de muitas cores ou se a folha é grande, são fatores que escapam ao nosso controle. Só Deus pode definir isto. Mas a habilidade e a responsabilidade pelo desenho são exclusivamente nossas.

Ao longo dos anos, vamos escolhendo os lápis que usaremos, que apontaremos e nos permitirão desenhar. Alguns lápis, sequer tocaremos. Outros teremos que cuidar para não quebrar as pontas, pois são aqueles cuja cor mais gostamos. Vamos usar muito aqueles cujas cores nos agradam. Alguns serão até mais difíceis de serem apontados, mas ainda assim isto será necessário, para que nosso desenho fique mais bonito e completo.

E desde o primeiro dia, vamos colocando riscos e áreas completas, com cores e formatos que somente nós podemos fazer. Uma vez colocado um risco ou borão, não há como fazê-lo desaparecer. E nos dias que nada desenhamos, talvez fique um espaço em branco no nosso desenho, enquanto em outros dias fazemos coisas bonitas e que lá ficam registradas. Não tem forma de copiar de outro desenho, cada folha vai ficando com um conteúdo bem pessoal. Único. A responsabilidade e o prazer final são exclusivamente seus, no seu desenho. Cuidado! Não aceite pressões para colocar neste desenho, coisas que não lhe agradam. O desenho é seu!

Sempre que olhamos para a folha, vemos que em alguns momentos fomos mais felizes – os desenhos são mais bonitos, mais coloridos. Às vezes os desenhos foram em tons mais cinza, confusos. Mas também foram compondo o grande quadro final. Não há como filtrar e deixar somente coisas bonitas. Tudo está lá.

De vez em quando, olhamos e podemos avaliar nosso desenho. Ainda que não possamos jamais consertar o que foi colocado no papel, ainda há espaços em branco, onde podemos ser criativos. Se antes usávamos cores como amarelo e azul, agora talvez nos agradem o vermelho e o verde. Às vezes com linhas finas, outras vezes pontilhadas. Mudamos e somos felizes. E vamos em frente, preenchendo a folha.

Um dia, a folha estará completa. Alguns lápis estarão bem usados, outros esquecidos. O desenho será alegre? Triste? Colorido? Cinza? Tem áreas ainda em branco? Tem áreas que ficaram confusas?

Terá sido impossível trocar de folhas ao longo do processo. Só uma folha foi lhe concedida e você deve cuidar bem dela. Talvez, ao misturar as cores dos lápis originais, você tenha produzido novas cores, que muito lhe agradam e também a outras pessoas. Nem todos tem esta felicidade, ao fazer bom uso dos recursos que receberam. De criar novas cores. E todos recebem a mesma coisa, no início de tudo.

Só uma coisa será a verdade e estará lá, indelével – o seu desenho, a sua vida. Tudo o mais serão águas passadas. O que foi registrado, registrado foi.

Pois, viver é desenhar sem borracha. Simples assim...

Portanto, não desenhe um quadro insípido para que os outros vejam. Faça, progressivamente, um desenho que agrade a todos, que sirva eventualmente até de exemplo para que outros tentem copiar. Nunca conseguirão fazê-lo, pois certas características e qualidades são suas. Mas, principalmente, que seja um desenho que lhe agrade. Você é único!

Será bom, para você e para todos que gostam de você, olhar este desenho e identificar, em pequenas nuances, na pressão do lápis, na intensidade das cores, na forma das curvas e retas, aqueles momentos em que você também ficou muito feliz ou um pouco infeliz, ao se relacionar com outras pessoas.

Você ficara feliz ao descobrir as nuances que o relacionamento humano e as suas habilidades foram capazes de gerar.

Você não precisa assinar este desenho. Um dia, ele talvez existirá apenas na lembrança de outros. Que sejam muitos a lembrar do seu belo desenho e que estas lembranças durem por muito tempo! Pois só de bons momentos deve ser feita a vida, já dizia o poeta! Às vezes você tem que se esforçar um pouco mais... Mas sempre vale a pena.

Que você tenha muitos anos plenos de bons momentos, permitindo que o seu desenho prossiga, cada vez mais bonito. E não se esqueça de manter os lápis bem apontados, principalmente aqueles que lhe agradam, pois assim sua a vida será mais divertida e fácil.

(*) Rodolfo Koeppel é morador em Glaura. Gosta de trabalhar com madeira e caminhar pelas antigas estradas coloniais da região. Seu desenho já está ocupando quase toda a página, mas pretende usar o espaço que está ainda em branco (Muito? Pouco?) de forma bem alegre! E continua apontando os seus lápis de côr...

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