Você fala Inglês, Mineirês ou Twitter?

20 de Novembro de 2014
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

R. Koeppel (*)

Através do tempo, os idiomas que as pessoas usam vão evoluindo. O Pe. Antônio Vieira nos deixou os magníficos e longos Sermões, onde o domínio da inteligência e da mensagem eram perfeitos. Hoje em dia, a coisa mais próxima dos textos do Pe. Vieira são os artigos da Revista Piauí, com 10 a 12 páginas cada um, em tamanho A3... Cuja leitura eu recomendo.

Agora temos o Twitter e as redes sociais onde, devido a pressões de tempo, os textos vão sendo reduzidos e os conteúdos cada vez mais superficiais. Até por que ninguém tem mais tempo de aprofundar ou meditar sobre os temas. Tudo é rápido e na base do “eu acho que...”. As vezes fica claro que tem gente que “acha demais”. Pois mesmo não sabendo do que se trata, “tenho que dar o meu parecer técnico”!

Mas isto é o que é moderno. Podemos criticar mas vamos nos acostumando. Breve, quiçá, as transferências de “pareceres técnicos interpessoais” se fará por ondas cerebrais, e não perderemos mais tempo usando teclados ou mesmo falando. Vai sobrar tempo para mais besteiras!

Em Minas, ao contrário, já desde muito tempo vínhamos praticando um idioma, o “Mineirês”. Fomos elaborando uma linguagem própria, sucinta, e aproveitamos o que há de bom no português, no inglês, no francês, etc. Criamos um idioma com enorme capacidade de comunicar idéias. Uma única palavra, usada no momento certo, e séculos de conhecimento e valores humanos são transmitidos. E nada em velocidades de megabits por segundo. Tudo com calma, como sempre foi a forma de argumentação do “mineirin come quieto”. Agora os estudiosos dizem que viver, comer e sonhar em “slow motion” (câmara lenta) é uma coisa moderna, recomendável. Mais uma vez, Minas saiu na frente! Nós já sabíamos disto, desde o tempo quando se amarrava cachorro com linguiça.

Neste sábado estive passeando em Ouro Preto, em ótima companhia de baianos. Estava sendo realizado o Encontro das Letras, com a cidade cheia de escritores. Achei um livro sensacional, cuja leitura deveria ser obrigatória para todos nós, mineiros. Finalmente o “Mineirês” é um patrimônio imaterial da humanidade, não existe igual no mundo!

O livro, escrito por Rodrigo Nogueira (meu amigo de longa data, quando ambos falávamos COBOL, agora falamos o idioma Turismo) e Aluísio Santiago se chama “Que diabo é este trem? Viajando pelo Mineirês: muito além do uai e do pão de queijo”. Entre prefácios e posfácios, o livro tem 150 páginas e é um dicionário de A-Z sobre palavras e expressões praticadas em Minas. Tem anedotas sensacionais, tem profundo conteúdo intelectual. Fica claro que a herança do período dos tropeiros e do ouro, dos nossos valores humanos, permearam a tudo. E também as influências inglesas (Uai? Forró? Queca? = Why? For all? Cake?) e francesas (“Hummm... Tô achano que vai ter um tandepás danado!”) foram muito importantes.

Veja um comparativo entre diversos idiomas, retirado do livro. Cabe a você escolher qual é mais prático!

(1) Mineirês - 69 palavras e 420 letras: Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhano um kidicarne com mastumate pra fazer uma macarronada com galinhassada. Quascaí de susto, quandovi um barui vinde dendoforno, parecenum tidiguerra! A receita mandopô midipípoca denda galinha prassá. O forno isquentô, o mistorô e a galinha ispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, proncovô, oncotô. Oiprocevê quilocura! Grazadeus ninguém simaxucô!

(2) Português - 123 palavras e 525 letras: Sábado passado, era sete de setembro, estava eu na cozinha tomando uma cachaça com mel e cozinhando um quilo de carne com massa de tomate para fazer uma macarronada com galinha assada. Quase caí de susto quando ouvi um barulho vindo de dentro do forno, parecendo um tiro de guerra. A receita mandava colocar milho de pipoca dentro da galinha para assar. O forno esquentou, o milho estourou e o rabo da galinha explodiu: Nossa Senhora! Fiquei branco como um litro de leite. Foi mesmo uma coisa de louco! Quase caí dentro da pia! Fiquei sem saber de onde foi que eu vim, onde é que eu estava e para onde eu iria. Veja só que loucura! Graças a Deus ninguém se machucou!

(3) Inglês - 114 palavras e 461 letras: last Saturday, it was september the seven, I was at the kitchen drinking my brandy with honey and cooking one pound of meat with tomato sauce, some noodles and baking a chicken. I nearly had a breakdown when I heard from within the oven sound akin to a battlefield! The recipe said to put popcorn inside the chicken. The oven over heat, the popcorn splited up and the chicken’s ass exploded! God damm’it! I’ve found myself as white as milk! It was shocking! I almost fell into the sink. I didn’t know where did I come from, where I was at, or where I was going to. Isn’t it crazy? Thank God no one got wounded.

Achou muito complicado conferir? Tome então esta frase única:

Em português: Eles pensam que os ônibus são deles. (28 letras)

Em inglês: They think the buses are theirs. (26 letras)

Em mineirês: Eis pens que os ons é deis. (20 letras)

Não falamos? O bom é ser pequeno... ou small is beautiful... Bem, agora eu vou tomar um café. Como se dizia nas cafeterias de Vila Rica: Pó pô pó? Pó pô...

(*) Rodolfo Koeppel mora em Glaura, onde há 12 anos vem praticando o Mineirês. Se você quiser trocar ideias neste idioma, faça contato: rodolfo.koeppel@gmail.com

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