Volte para o casulo!

19 de Agosto de 2013
Valdete Braga

Valdete Braga

Novela é ficção, todo mundo sabe. Mas mesmo a ficção precisa ter um mínimo de coerência. Como um pai como o César, da novela Amor à Vida, pode ter aquela reação diante da descoberta da sexualidade do filho? As cenas foram mais do que hilárias; eu, pelo menos, nunca ri tanto na vida. De tão ridículo, ficou cômico.

O homem é médico, dono de hospital, culto, inteligente, e em plena era anti-homofóbica dá um chilique daqueles ao descobrir que o filho é homossexual? Sem falar nos trejeitos que chegam a ser caricatos do Félix (O ator Mateus Solano está dando um show de apresentação, aliás)

Particularmente, acho que novela deve ser mais diversão e menos realidade. Realidade a gente vê nos tele-jornais e ela não anda muito animadora. Quando ligo a TV quero relaxar, me divertir, rir. Irônico é que eu não assistia a esta novela pelo índice de maldade que apresentava. Mas esta semana aconteceu exatamente o contrário. “Feche as asas”, “volte pro casulo”, saindo da boca de um Antônio Fagundes seriíssimo, cujo personagem afirma categoricamente que não tem preconceito é prá lá de ridículo e engraçado. A verdade é que de uns tempos para cá a novela tornou-se uma comédia só. É pai que não sabe que é pai, filho que não sabe que é filho, avô que vira pai e até – pasmem – mãe que vai descobrir que não é mãe. Como vão fazer isto eu não sei, mas a Globo dá um jeitinho.

No meio de uma reunião seriíssima, tratando de assunto seríssimo, o pai xinga o filho: “Volte para o casulo”. E ele volta, gente! Como uma criança de cinco anos repreendida, o vilão que já fez maldades incontáveis faz biquinho e quase chora. Pobre Félix! Quer porque quer voar e papai não deixa. Sem esquecer que isto tudo no meio de uma reunião, em um dos maiores hospitais de São Paulo. Também sem esquecer que Félix é um homem feito, com filho adolescente. Que a propósito vai ser filho do avô com a esposa do pai.

O pai do Félix, na época preocupado com a sexualidade do filho (a mesma que o deixou tão surpreso esta semana) contratou uma garota de programa para casar-se com o dito filho e salvar as aparências da família. O que ele não sabia ao contratá-la é que ela já estava grávida. Ou seja: a mãe do filho que não é do pai era uma garota de programa que estava grávida do avô, quando ele a pagou para casar com o filho que não será da mãe.

Por enquanto está simples. Começa a complicar quando a esposa escancara que o marido é gay e o sogro, que é pai do filho dela e não sabe, quase tem um ataque epiléptico. O sogro-amante-pai-avô levou um susto quando descobriu o que pagou para esconder há 18 anos. Imediatamente, sem precisar sequer de um tempo para assimilar, cai de amores pelo filho-neto. Tudo isto em meio ao seu horror pelo fato do filho-filho ser homossexual.

Quando o nó já está formado na cabeça do telespectador, o pai-avô resolve levar o filho-neto com a mãe chantagista para morar em sua casa, com a maior naturalidade. Da mesma forma este senhor culto, médico, inteligente, critica e debocha do filho-filho por ele ser gay. Renega e humilha o filho por isso, sem nunca tê-lo renegado por suas maldades e tratamento cruel para com a família e funcionários. Só quer que o filho volte para o casulo. Não consigo desfazer o nó em minha cabeça. Bastou uma semana. Parei de assistir novamente.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook