Vontade de ser pedra

13 de Abril de 2017

Valdete Braga

Conversando com um amigo sobre uma interpretação equivocada dele às minhas palavras, eu disse uma frase que inspirou-me a escrever esta crônica. “Nós devíamos ser feitos de pedra”. Não sei onde fui tirar isto, mas o cérebro registrou e chegou aos lábios com tanta naturalidade, que, quando percebi, já tinha falado.

Terminada a conversa, fiquei pensando e cheguei à conclusão de que seria bem mais fácil a convivência se fôssemos mesmo feitos de pedra. Entender o ser humano é muito difícil. Um fala A, o outro entende B. Um acontecimento que deixa uma pessoa sem dormir de preocupação, não tem a menor importância para outra. A mesma coisa que pode causar uma dor infinita em alguém, passa batido para outro. Cada um é um e cada um tem sua personalidade e sensibilidade.

Às vezes estamos tristes e alguém nos diz “não tem motivo para estar triste” ou estamos eufóricos e vem outro: “como você é exagerada”. E assim como fazem conosco, nós também fazemos com outros. Sem maldade, sem perceber, mas fazemos. Precisamos aprender a nos colocar no lugar do outro e respeitar seus sentimentos. Cada um é que sabe de si, de seus motivos e do que se passa em seu coração. A pior coisa que uma pessoa pode fazer a outra é subestimar seus sentimentos.

Isto não aconteceria se fôssemos feitos de pedra. Pedra não chora, não sofre, não se magoa com palavras ou atitudes de ninguém. Muitas vezes palavras ferem mais do que agressão física. Físico se cura com remédios, palavras podem virar feridas abertas que nunca cicatrizam.

Senti uma vontade de ser pedra naquela hora! Se eu fosse, poderiam fazer um discurso que não faria diferença. Eu continuaria quietinha, paradinha no mesmo lugar, e quem falasse é que perderia seu tempo. Eu não ouviria, não sentiria, e, aí, não teria mesmo motivo para ficar triste.

Precisamos aprender a pensar antes de falar. Precisamos compreender que as pessoas são diferentes, e que o que para mim não significa nada, pode ferir profundamente outra alma. Muitos confundem frieza com fortaleza. Não! Se a minha frieza fere o outro, principalmente se o outro é um amigo, eu que mantenha a minha boca fechada. Outra vantagem da pedra: não tem boca.

Conheço pessoas maravilhosamente humanas e sensíveis e que nem por isto deixam de ser fortes. Mentalidade pequena esta de que para ser forte é preciso ser rude Ninguém merece ser tratado com aspereza gratuitamente, principalmente em um diálogo onde está sendo educado.

Ah... se fôssemos feito de pedra não passaríamos por isto. Não seríamos ofendidos, magoados, não passaríamos a noite em claro. E no dia seguinte estaríamos no mesmo lugar e na mesma posição, como se nada tivesse acontecido.