Jair Inácio: 80 anos de seu nascimento

Ouro Preto,
11 de Agosto de 2012

No dia 2 de agosto de 1932, vinha ao mundo, um dos maiores responsáveis, se não o maior, pela conservação do patrimônio histórico de Minas Gerais: Jair Afonso Inácio. Se o notório ouro-pretano estivesse vivo, teria agora completado seus 80 anos. Sua carreira como restaurador começou pelo amor que devotava às artes, que demonstrou desde cedo, conforme tese de Isabel Cristina Nóbrega, doutora no restaurador, pela Unesp. Mas antes disso, sempre, devido às necessidades da família, teve que inclusive trabalhar como auxiliar de sapateiro. Mas isso, não o impediu de que corresse atrás de suas preferências. Certa vez, aos 15, fez sua primeira exposição coletiva de quadros. Uma turista francesa os levou para serem expostos em um hotel de Paris. Dos 15 quadros, 12 vendidos.

A restauração

Seu primeiro trabalho na área do restauro foi em 1949, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, com a função de ajudante do pintor Estevão de Souza, restaurador chefe da obra. Só que por causa de falta de recursos, a Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Dphan) órgão que hoje equivale ao Iphan, dispensou-o por falta de recursos, em 1951. Voltando no mesmo ano, agora no cargo de chefia, é chamado para restaurar a igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré.

Durante o decorrer dos anos e com mais experiência, em 1956 foi cursar Conservação de Bens Móveis, com Edson Motta, pioneiro da restauração no país, na Escola de Belas Artes, da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.

Foi quando em 1957, trabalhos diferenciados batem a porta de Jair. Os quais inclusive, de acordo com o restaurador Thales Gayean, permitiram “um novo olhar” sobre a obra de Aleijadinho. Para isso, o profissional da área de restauro menciona o livro Conquista de Congonhas, de Lourival Gomes Machado.

Durante a obra em Congonhas, a policromia, uma técnica de pintura, de Bom Jesus de Matosinhos, teria sido “redescoberta”, como também o talhe da imagem. Além disso, teriam sido recuperadas pinturas de Athaíde e de Franciso Xavier Carneiro.

Ainda em 1957, Jair Inácio expõe pinturas suas no salão latino-americano, em Paris, bem como o restauro de mesa do altar na Capela do Palácio do Arcebispo, em Diamantina, e a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei.

Passado algum tempo, em 1961 teve a oportunidade, mediante bolsa da Fundação Rockefeller, de estudar no IRPA, na Bélgica. O que se soma ao fato de ter tomado parte do Instituto Internacional de Conservadores e de participar de uma conferência em Barcelona. Não bastando isso tudo, ainda no mesmo ano “É nomeado pela UNESCO membro da Equipe Internacional de Conservadores; e fica responsável por pesquisar os problemas causados pelo clima na obra de arte, no âmbito da América Latina”, conforme relata a autora Isabel Cristina Nóbrega.

Em 1962, viaja o mundo (Bélgica, Noruega, Dinamarca, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Suíça, Inglaterra e EUA) para estudar as técnicas de ponta do restauro. Em 24 de agosto, volta para o Brasil, casando-se logo após com Zenith Alves. Também foi nomeado como restaurador-chefe do 3º Distrito da DPHAN, que corresponde a Minas Gerais.

Depois de diversas obras realizadas, fundou em 1971 o curso “Restauração de Obras de Arte”, na Faop. Depois, teve a oportunidade de, em 1975, montar seu ateliê nas Lajes. Em 1978, leciona “Restauração de Obras de Arte” na Escola de Belas Artes da UFMG. Faleceu em 1982.

O Legado

De acordo com Joaquim Roberto Gomes Batista, o Manteiga, que foi aluno de Jair Inácio na Faop, a proposta do curso era “atender a demanda da cidade”. O mais curioso é que “não tinha duração prevista”. Isso porque, de acordo com o discípulo, os aprendizes tinham aula até Inácio entender que eles estavam prontos, individualmente. “Teve gente que não se formou”, relata Batista.

Questionado sobre as habilidades do professor, Manteiga, defende-o energicamente: “ele é um mestre, não tenho dúvidas da capacidade dele. Os grandes restauradores de Ouro Preto passaram por ele”. Thales Gayean, também formado na Faop, tem um imensa admiração pelo fundador de seu curso, mesmo o tendo conhecido apenas pelos livros: “ele (Jair Inácio) é importante na salvaguarda de muitas coisas do patrimônio de Minas, principalmente Ouro Preto”. Isso inclusive se aplica “ao estudo da obra de Aleijadinho”.

Basicamente, o amor de Jair Inácio por Ouro Preto (após recusas de propostas para viver no Vaticano e em Paris) pode ser exprimido em uma citação encontrada na obra de Isabel Cristina Nóbrega: “Não posso deixar Ouro Preto; é preciso resistir ao triste fim de uma paisagem que aprendi a amar, e que vai definhando com o mundo que a cerca, porque não há recursos para preservar a arte barroca das cidades históricas de Minas Gerais.”

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