30 de julho de 2012

30 de Julho de 2012
Valdete Braga

Valdete Braga

“A atleta do salto triplo Voula Papachristou, da Grécia, foi expulsa da delegação de seu país, que estava prestes a viajar a Londres, por um comentário racista feito através de sua conta pessoal no Twitter.

Diante da notícia de casos em Atenas de Febre do Nilo Ocidental, doença potencialmente séria transmitida por um vírus em uma picada de mosquito, Voula escreveu: “Com tantos africanos aqui, pelo menos os mosquitos da Febre do Nilo Ocidental terão comida de casa”.

O comentário causou repulsa no Twitter e logo foi retirado pela atleta. Porém, o Comitê Olímpico Grego não perdoou e nem deixou a atleta viajar, com a explicação de que o comentário foi “contrário aos valores e ideais do movimento olímpico”.

Já conformada com a expulsão, Voula pediu desculpas em um comunicado: “Eu gostaria de expressar minhas sinceras desculpas pela piada infeliz e de mau gosto que publiquei em minha conta pessoal no Twitter. Estou muito arrependida e envergonhada pelas respostas negativas que meu comentário desencadeou, já que nunca quis ofender ninguém, ou ir contra os direitos humanos”.

Esta notícia saiu na internet e está dando o que falar.

Perfeita a decisão do Comitê Olímpico Grego. Isso sim, é racismo, e tão escancarado que a própria atleta não percebeu isso, colocando em rede social. Desculpas depois não adiantam muito.

Sempre me indignei com a conotação que alguns – eu disse alguns – brasileiros dão à palavra racismo, principalmente em se tratando de cor da pele. Não se pode falar “preto”, tem de ser “afro-descendente”, daí a pessoa fala o politicamente correto afro-descendente, mas trata os negros como se fosse ainda o tempo das senzalas. Escreve na redação da escola “afro-descendente” e quando a aula termina se recusa a sentar perto de um negro no ônibus.

O racismo está muito mais nas atitudes do que nas palavras. Seja ele social, racial, cultural, o que conta é a forma como tratamos os nossos irmãos diferentes de nós, e não como os chamamos. Exemplar a punição da atleta. Onde já se viu pensar uma coisa dessas e ainda publicar?

Que sirva de exemplo. Por aqui é assim: se um amigo chama o outro “e aí, negão, tudo bem?” pode até ser preso, mas levantar-se e trocar de poltrona no cinema quando um negro se assenta ao lado não é nada. Palavra tem peso, é verdade. Mas é preciso ver a conotação, o contexto em que ela foi empregada. No caso da atleta foi não só evidente como público. Porém, mais importante é o tratamento dado ao ser humano, todos filhos do mesmo Pai.

A moça em questão certamente não dividiria o mesmo quarto com uma africana, e, se fosse por aqui, desde que ela não a chamasse de “neguinha” e arrumasse uma boa desculpa, não seria racismo. Atos às vezes falam mais do que palavras.

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