A Borboleta Branca

21 de Julho de 2013
Valdete Braga

Valdete Braga

Um homem japonês de 70 anos, muito doente, chamou sua irmã viúva e o filho dela para virem morar com ele. Como estava com idade avançada, pretendia deixar a propriedade de herança para o sobrinho. Até mudar-se para a casa do tio, o rapaz pouco sabia sobre a vida dele, pois o homem vivia sozinho e não era acostumado a visitar parentes.

Um dia, quando o rapaz estava sentado ao lado do leito do tio, fazendo-lhe companhia, viu uma enorme borboleta branca entrar no quarto. A borboleta voou em círculo e pousou no travesseiro do tio doente.

Como pousou calmamente, o sobrinho pensou em deixar o inseto ali mesmo. Mas, preocupado que ele pudesse assustar o tio, que estava dormindo, assoprou em sua direção, para que voasse de volta para fora da casa. A borboleta levantou vôo e ficou circulando a roupa de cama do tio. De repente, saiu voando para fora da janela.

Movido por um instinto, o rapaz resolveu segui-la, pois o tio estava dormindo e não haveria mal em deixá-lo sozinho por algum tempo.

A borboleta voou em direção ao cemitério, que ficava do outro lado da rua, próximo à casa. Foi diretamente para um túmulo e, então, desapareceu misteriosamente. O jovem procurou, mas não viu mais nada. Teve a impressão de que a borboleta iria pousar em um túmulo com o nome Akiko, quando a perdeu de vista. Resolveu, então, voltar para casa.

Apesar de ter se ausentado apenas por alguns minutos, foi exatamente neste tempo que o velho faleceu. Depois do enterro, conversando com a mãe, ele contou sobre a visita da borboleta pouco antes da morte do tio. Porém, nada disse sobre sua perseguição ao cemitério, pois não queria que a mãe soubesse que ele deixara o velho sozinho, embora por poucos minutos. Quando lamentava que pouco sabia sobre seu recém-falecido tio, a mãe lhe contou que o irmão, quando jovem, teve uma noiva que amava muito. Porém, dias antes da data marcada para o casamento, a noiva adoeceu e veio a falecer. Ele, então, comprou uma casa próxima ao cemitério onde ela estava enterrada, para poder zelar por sua sepultura. Assim, durante 50 anos, tinha cuidado do túmulo, limpando, colocando flores e rezando diariamente para sua falecida noiva, a jovem Akiko.

Assustado, o rapaz contou à mãe que a borboleta tinha desaparecido exatamente no túmulo com a inscrição Akiko.

A mãe disse-lhe, então, que o irmão teve uma morte feliz. Certamente, estava agora ao lado de Akiko, cujo amor sobreviveu à morte.

Devido a essa história, na crendice popular japonesa, muitas vezes a borboleta branca é vista como alma de uma pessoa falecida.

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