A Encíclica de Francisco e a preservação da nossa casa

05 de Agosto de 2015
Jornal O Liberal

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*Mauro Werkema

Documento de extrema atualidade, merecendo leitura e discussão de todo o mundo, a Encíclica Laudato Si (“Sobre o cuidado com a casa comum”) do Papa Francisco, é um apelo e um chamamento moral e político para a questão ambientalista e a preservação da nossa casa comum, ou seja, o Planeta Terra. O documento, apresentado no último dia 18 de junho, em Roma, a prefeitos e autoridades de todo o mundo, religiosas, científicas e ambientais, critica o consumismo desenfreado, resultante da economia capitalista praticada sem ética e sem consciência social ou solidária, pregando um novo modelo de desenvolvimento responsável. Com sua autoridade moral, o Papa Francisco assume universalmente uma liderança política significativa e importantíssima neste momento da História Mundial, preenchendo o vazio de lideranças efetivas capazes de por ação ou palavras motivar e mover os países em direção a um novo tempo e a novos modos de vida coletiva.

Além do chamamento moral, a Encíclica tem base científica para mostrar que o planeta Terra encontra-se num limiar de exaustão e perigo, pela exploração veloz e sem limites dos recursos naturais. Se, nos nossos dias, estes recursos já não são suficientes para propiciar condições de vida saudáveis e a toda a população planetária, e se faltam alimentos, há que se imaginar o que ocorreria se todos, de todas as nações, tivessem acessos aos bens de consumo e aos alimentos. A Encíclica informa também que os cientistas já nos advertem que o mundo está caminhando rapidamente para um aumento de até 2% na temperatura e, a continuar a exploração da natureza e os processos econômicos e industriais, com grande impacto no meio ambiente, poderemos chegar a até 4% de elevação, o que causaria grandes transtornos a toda a humanidade, podendo ocorrer até o desaparecimento de cidades.

O Papa faz um apelo universal pelas mudanças e pela unificação global das ações para combater a degradação ambiental, contendo as alterações climáticas que já ameaçam várias formas de vida. E revela uma mudança histórica da Igreja Católica, pela ação de Francisco que, nos seus discursos vem revelando preocupação com a justiça social, um novo ordenamento econômico, a condenação do capitalismo explorador, do lucro sem ética, do obsoletismo programado, a ausência de solidariedade social, enquanto persistem no mundo as guerras, a fome e a doença. Nas suas 184 páginas, a Encíclica cita “a apatia, a procura do lucro de forma irresponsável, a crença excessiva na tecnologia e a falta de visão política” como fatores responsáveis pela “incessante exploração e destruição do ambiente”, preconizando consequências dramáticas, em prazo não longo, com implicações graves “ambientais, sociais, econômicas, políticas e de destruição de riquezas”.

O título de Encíclica tem origem no “Cântico das Criaturas”, de São Francisco de Assis, do Século XIII. É uma oração e um poema, em que São Francisco louva a criação dos animais e dos elementos da terra, que permitem a vida harmoniosa. São Francisco, o “povorello” de Assis, pregou pelo mundo a renúncia à riqueza e a prática da penitência, louvava a natureza, a Lua, o Sol, falava com os animais e vivia da caridade, mas criou, pelo mundo todo, uma ordem religiosa e centenas de igrejas. Mas criou, sobretudo, como a Encíclica do Papa Francisco denota com impressionante atualidade, a necessidade de uma nova mentalidade, que prega uma nova ordem econômica sustentada por uma nova ética, maior justiça social e, sobretudo, respeito à natureza, que é a casa de todos nós e que sofre com a ação predatória do homem.

*Jornalista

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