A ética e o conflito entre Dilma e os partidos e a classe política

03 de Abril de 2012
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

A presidente Dilma parece disposta a enfrentar políticos e partidos só interessados em cargos onde possam exercitar o poder de nomear, distribuir verbas e usar do tráfico de influência com fins meramente eleitorais ou para obtenção de vantagens pessoais. É importante lembrar que a presidente foi obrigada, no seu primeiro ano de governo, a demitir sete ministros, todos sob suspeita e denúncia de corrupção e maus tratos do dinheiro e patrimônio públicos, o que em muito imobilizou sua gestão. Agora, todo o País aguarda que seja efetivamente desmontado o modelo de “governo de coalização”, em que os partidos ocupam parcelas do governo, com seus indicados, nem sempre nomes honrados ou competentes, mas apenas os que prometem satisfazer melhor os apetites dos partidos. Esta é uma herança do Governo Lula, que serviu à manutenção do poder e até a eleger Dilma, mas que agora, é contra os interesses nacionais, afronta a ética e a moralidade públicas.

É claro que não será fácil a desmontagem deste esquema. A chamada “base parlamentar” se revolta, com retaliações. Não vota a Lei Geral da Copa, de alto interesse do País, resultado de um acordo assumido quando da escolha do Brasil para a Copa de 2014. Quer negociar a votação do novo Código Florestal, retalhado no Senado, com emendas que só beneficiam alguns setores do agronegócio em detrimento da preservação ambiental e mesmo de pequenos produtores rurais. O exemplo mais deprimente é o do PR, que quer continuar no Ministério dos Transportes, onde as verbas são muitas e também a corrupção. Não estão preocupados com a “faxina ética” e com padrões morais de gestão, mas apenas em não perder o Ministério. E por isto se declaram, subitamente, oposicionistas. Não têm doutrina, ideologia, postura ética. Simplesmente querem o poder.

A presidente Dilma parece não se importar com as acusações de intransigência com que procuram caracterizar sua indignação com “as coisas mal feitas”. Cuida da economia, reunindo os maiores empresários do País para pedir mais investimento. Prepara uma série de medidas para estimular a economia, manter o emprego e fazer com que 2012 tenha crescimento maior do que o PIB de 2,7% obtido em 2011. Empresários, economistas, mesmos os raros bons políticos, concordam que o País tem tudo para ser a quinta economia do mundo em poucos anos. Mas será isto possível com esta classe política? Mais interessada em si própria, sem visão de futuro, sem compromisso com o País, sem coragem de votar leis de vanguarda, reformadoras. Não vota uma reforma tributária, não vota a reforma política e eleitoral, não cobra atitudes mais adequadas do Poder Judiciário. E sem coragem de fazer oposição real, independente e eficaz.

Este panorama político que o País vive, causado em sua maior parte pela péssima qualidade da classe política que temos, precisa ser considerado pelo eleitor no pleito municipal deste ano. É no município, que se relaciona diretamente com a população, que começam as carreiras políticas e se formam as condutas. O eleitor consciente, preocupado com este dilema nacional, certamente refletirá sobre o seu voto, dando um primeiro passo no sentido de rejeitar os políticos corruptos, descompromissados com os interesses da sociedade, meramente carreiristas, despreparados, sem espírito público, demagogos e aproveitadores, mancomunados com interesses privados interessados no dinheiro público. A boa atitude política começa nos arredores de todos. A varredura deve começar nas escolhas municipais.

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