A evolução da crise e o otimismo cauteloso

16 de Junho de 2015
Jornal O Liberal

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                                                                                                        _              *Mauro Werkema_

Apesar dos maus governos e de uma classe política que cuida mais de si do que dos grandes problemas nacionais, é preciso que sejamos cautelosamente otimistas. Afinal, o Brasil é imenso, com 8 mil km de costas marítimas, terras férteis e agricultáveis em longa extensão, capaz de ser um dos grandes celeiros do mundo em grãos, muito sol, chuvas regulares, subsolos ricos em ocorrências minerais, e sem catástrofes, como tufões, vulcões, maremotos, nevadas. No mais, uma análise objetiva das nossas realidades mostra que o Brasil tem tudo para voltar a crescer a taxas mínimas que suportem a manutenção do emprego, o desenvolvimento da indústria, a continuidade de programas de oferta de educação, saúde, habitação e outros serviços públicos fundamentais. O governo federal parece estar encontrando um caminho, com o programa econômico-financeiro do ministro Joaquim Levy, a corrupção está sendo combatida e os organismos da Justiça e da polícia parecem atentos. Restam a classe política e suas instituições, como o Senado e a Câmara Federal e os partidos, que estão notoriamente afastados das grandes aspirações nacionais. Está muito claro que o sistema político brasileiro é a causa maior da falta de governabilidade, começando pelo vazio ideológico e doutrinário dos partidos políticos e da qualidade dos agentes políticos, parlamentares e dirigentes. Basta ver como se comportam o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ambos com fichas sujas e condutas desviantes. Ou um olhar sobre os dirigentes partidários, sobre a composição do Congresso, com 27 partidos, dos quais cerca de 20 são pequenas agremiações, legendas de aluguel, que servem a políticos carreiristas e não a linhas de pensamentos ou programas de interesse público. E os governantes, para se manter no poder e ter apoio político e legislativo, são obrigados a fazer o chamado “governo de coalização”, em que cargos são divididos entre os partidos, sem análise curricular, sem propostas objetivas. Basta constatar que o Governo Federal tem 39 ministérios, o que é uma prova da ingovernabilidade. Quanto à crise, é preciso olhar para o mundo para se entender bem sua extensão e as repercussões no Brasil. Antes de 2009, eram fartos os capitais que circulavam pelo mundo. A China chegou a crescer a 14% ao ano e o mercado de commodities minerais e agrícolas favoreceu imensamente ao Brasil, que se transformou também em um exportador não só de produtos primários mas também de automóveis, eletrônicos, aviões e vários produtos industrializados. Hoje a China cresce entre 5% e 7%, o Japão está estagnado há 16 anos, a Europa em crise profunda, com desemprego perto de 20%. E mesmo nos EUA a crise se revela, com desemprego e dívida elevadíssima. Os chamados emergentes, entre eles o Brasil, também se mostram paralisados, com crescimento econômico entre 1% e 2%, sem perspectiva quanto à retomada de um equilíbrio de suas contas comerciais, deficitárias já há quase um ano, devido à crise do mercado internacional comprador. Como consequência, há a desvalorização cambial e perda de competitividade das indústrias nacionais. O ministro Joaquim Levy, experiente em recuperação de crises financeiras, tem um receituário que poderá evitar a completa estagnação econômica. É preciso reequilibrar as contas públicas, o que implica em redução de gastos, o que é difícil e nem sempre aceito. É preciso cortar vários subsídios e benesses que oneram o Tesouro, o que também não é aceito pelo próprio PT, partido do governo. É preciso estimular o desenvolvimento industrial, reduzindo encargos com o trabalhista e o tributário. E ampliar a infraestrutura brasileira, ferrovias, portos, estradas, objetivo do plano que acaba de ser lançado, contando com a iniciativa privada e que, em sua maior parte, repete outros planos inconclusos. É preciso reduzir a inflação, estimular o emprego, que vem caindo, ampliar o crédito, reduzir a inadimplência e o endividamento das famílias, voltando a estimular o consumo, motor da retomada econômica e da produção industrial. O desenvolvimento tecnológico é imprescindível até na qualificação dos produtos industriais, é fundamental estimular a produtividade e o empreendedorismo. E, também, é preciso afirmar, corrigir distorções econômicas, como o excesso da produção automobilística, que congestiona as cidades, e retomar a construção civil, mas em bases novas, sem a especulação e a falta de sentido econômico e social que ocorrem nos últimos anos. Fácil? Não. E exige sacrifícios e atitudes firmes, de duração longa. Mesmo o mais otimista já concorda que 2015 já era quanto ao desenvolvimento econômico. Esperamos que já em 2016 possamos sentir a retomada do crescimento. Mas não basta o programa econômico em curso, com dificuldades de compreensão e aceitação, mas que é fundamental, segundo todos os que pensam responsavelmente sobre a questão nacional. A grande aspiração, no entanto, e talvez a mais importante, se pensamos em construir um futuro estável, com um longo ciclo de crescimento econômico e redução das desigualdades sociais, passa por uma reforma política profunda, com reformação de partidos, dos governos, da qualidade dos que se candidatam a representantes do povo, de forte e rigoroso combate à corrupção, de ganho na governabilidade e não só do Governo Federal mas dos governos dos estados e dos municípios. É preciso incluir nestas providências, indispensáveis para pensarmos num Brasil mais justo, forte economicamente, também o Poder Judiciário, que é um guardião da democracia, e que precisa ser mais ágil, independente, rigoroso com os desonestos e transgressores da lei.

*Jornalista

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