Os vários aspectos da crise econômica atual

29 de Junho de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

A retração econômica internacional ajuda a explicar a crise brasileira. Mas não é argumento ou causa suficiente para explicar, na sua totalidade, a recessão que vivemos e que ainda não tem, no horizonte, prazos ou expectativas mais positivas para ser vencida. É claro que um mercado internacional fechado reduz os preços das chamadas commodities, como o minério de ferro, petróleo e outros produtos de exportação, causando descontrole no balanço de pagamentos do País, ou seja, o valor da exportação é menor do que o da importação. Ocorreu, no plano interno, um desgoverno com as contas públicas, com os gastos superando as receitas, criando o chamado déficit público, gerador de vários outros males. Além disto, e também por culpa do Governo, os chamados preços administrados pelo Governo Federal, como o da gasolina, da energia elétrica e outros foram controlados e agora, reajustados, reforçam a inflação, sintoma maior dos males vividos pela economia. E o Governo concedeu incentivos demais à indústria automobilística, aos eletrodomésticos e a vários segmentos da indústria, reduzindo as receitas tributárias, com o objetivo de não reduzir a taxa de emprego no País. E não reduziu os custos com os programas sociais, que oneram os cofres públicos. Agrava tudo isto uma classe política oportunista e descompromissada com relação aos problemas brasileiros.

Eis, em síntese, as razões da crise brasileira. Está claro também que tais providências foram tomadas em razão da eleição, simulando uma situação de irreal conforto econômico, mas que, na verdade, era em grande parcela artificial. Mas os mais ardorosos defensores do Governo Federal não podem deixar de enxergar tal quadro. É claro também que o Governo Federal, a presidente Dilma, os líderes do PT, sabem desta realidade. O mais grave é que aparecem agora, e muito rapidamente, os chamados “custos sociais” da crise, ou seja, em três pontos: o desemprego, a redução do poder aquisitivo da população e a perda da qualidade dos serviços públicos, a redução de obras, dos investimentos em saúde, educação e outros segmentos, uma vez que governos estaduais e prefeituras perderam muito em seus orçamentos. E, para conter a inflação, a taxa de juros sobe a nível que retrai o investimento e a movimentação financeira, reduzindo negócios e transações, motores da economia. Esta é uma breve radiografia do momento em que vivemos.

Temerosa desta situação, a população se retrai. Compra menos, viaja menos, reduzir custos até do orçamento familiar, teme perder o emprego. Mas nem por isto devemos deixar de apoiar o reajuste fiscal em curso, com imensas dificuldades, a começar por um Congresso Nacional dominado hoje por uma maioria de espertalhões, aproveitadores da crise para conseguir vantagens, liderado por dois parlamentares com longo percurso de corrupção e que, envolvidos na Operação Lava Jato, realizam manobras de obstrução. Se o Congresso ajudasse, com discussão e aprovação rápidas as medidas de saneamento financeiro e econômico, poderíamos ter no horizonte uma previsão melhor de melhoria do quadro atual. A classe política, com raríssimas exceções, como está muito claro, não se sensibiliza com as consequências sociais da crise, que amplia as desigualdades. Falar em impedimento da presidente também não ajuda neste momento pois representaria paralisia ainda maior do País.

Alguns analistas começam a ver na crise algumas consequências que poderiam ser positivas, embora não passem de exercícios futurológicos. O País, em todas as instâncias de governo, precisa ajustar os orçamentos públicos às reais necessidades dos investimentos. É crônica a falta de recursos dos governos, estaduais e municipais, para os níveis de investimentos exigidos. É preciso um novo pacto federativo e que seja reduzida a concentração de recursos no Governo Federal, o único que tem recursos no momento no Brasil. Outras distorções da economia, produto de políticas de privilégios, poderiam ser corrigidas. Dois exemplos: a redução da fabricação de automóveis e sua venda a preços ínfimos, em detrimento no investimento no transporte público, ainda bastante precário no Brasil em todas as capitais e grandes cidades. A indústria automobilística é muito importante pelos empregos que gera e pela movimentação de uma imensa cadeia de auto-partes mas provocou uma notória distorção sócio-econômica e urbanística. A indústria da construção também precisa ser corrigida, como mostra hoje o mercado de ofertas de venda e aluguéis de imóveis, que não encontram compradores.

Os programas sociais, que inserem os menos favorecidos na economia, devem ser mantidos pois ajudam a equilibrar a sociedade e o poder aquisitivo. Mas há ajustes a realizar, com maior controle da efetiva resultante social. Mas o importante mesmo é que o Governo Federal gaste menos, corte privilégios e mordomias, que reduza o tamanho extraordinário que atingiu, de 39 Ministérios, em sua maioria inoperantes, criados apenas para abrigar apaniguados políticos e garantir apoio. A redução de gastos seria, por si, capaz de equilibrar as contas públicas e faria um grande bem ao País mas falta ao Governo Federal, à Presidente da República, coragem e apoio para tal iniciativa. Enfim, vivemos e vamos viver dias ainda de crise acentuada e ainda não tem, no fim do túnel, nenhuma luz que não garanta uma travessia mais curta e sem maiores traumas e dificuldades. Mas o Brasil é imenso e rico. Só não tem líderes ousados na vida pública atual. E muita corrupção.

*Jornalista

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook