Economia, política e a crise brasileira

20 de Maio de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

*Mauro Werkema

Duas questões perpassam as conversas e as preocupações de todos os brasileiros, entre muitas outras relativas à ampla e complexa crise atual: quando e como teremos a retomada do crescimento econômico e quando os políticos, já envolvidos na Operação Lava-Jato, vão perder mandatos e serem presos? Nos depoimentos que, diariamente, ouvimos ou lemos estão os empreiteiros e os denunciantes, aqueles beneficiários e agentes da corrupção na Petrobrás e outras verbas públicas e os operadores, que realizavam o contato entre os funcionários corruptos da petroleira, os empresários e os políticos, que são os beneficiários finais do dinheiro desviado. Todos integram uma imensa, surpreendente, ousada e assustadora cadeia da corrupção, a que o Brasil precisa dar resposta radical e exemplar ação punitiva. E, desde já, é importante afirmar que se o dinheiro é público, se foi desviado em práticas irregulares através de preços superfaturados de obras e que acabou beneficiando também a empreiteiros, não há como tentar justificar que se trata somente de doação eleitoral legal a partidos e candidatos. Toda esta prática é viciada, desonesta e corrupta.

Quanto ao crescimento econômico, hoje a grande aspiração nacional, trata-se obviamente de um interesse de todos. É a garantia da manutenção do emprego, do ritmo da atividade econômica, do crescimento da produção industrial, entre muitas outras consequências de uma economia saudável e produtiva. O pior para todos, governo e sociedade, políticos, empresários, é a recessão e a consequente estagnação econômica. Por isto, não podem os parlamentares deixar de votar o programa de ajuste fiscal e econômico do ministro Joaquim Levy, com as correções que se fizerem necessárias. E com urgência, pois já nos encontramos próximos da metade de 2015 e precisamos efetivamente sentir que os fundamentos da economia estão retomando índices saudáveis, como a redução do déficit público, o ajuste das contas externas, o equilíbrio dos preços administrados pelo governo, como a energia elétrica e a gasolina, permitindo que a inflação não passe dos 4,5% ao ano, que sobre recursos para investir em infraestrutura e muito mais. E que retomemos o crescimento da oferta de empregos, permitindo a continuidade da ascensão social às classes menos favorecidas, como ocorreu nos últimos anos. A dificuldade maior, segundo os analistas, de todo este processo, é com a classe política. Cerca de 40 parlamentares, entre senadores e deputados, estão na lista do Procurador da República como denunciados na Operação Lava-Jato. Teriam recebido dinheiro desviado da Petrobrás. E terão que ser investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, que vão instruir os processos para encaminhamento e decisão do Supremo Tribunal Federal. Estão na lista o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ambos com passado repleto de denúncias e processos. Sua reação contra a presidente Dilma e as propostas do Governo Federal expressam sua insatisfação pessoal contra os processos, numa odiosa conduta em que submetem todo o interesse do País às suas mazelas pessoais. Não se intimidam em questionar o Procurador da República, que cumpriu sua missão de proceder às denúncias ou mesmo de questionar as ações do Ministério Público, da Polícia Federal e do próprio Supremo Tribunal Federal. Ambos são exemplos bem marcantes do que virou a classe política brasileira e sua desfaçatez quando se trata de trabalhar em favor dos interesses próprios, mesmo quando escusos. E não se envergonham.

Se o Congresso deve votar o ajuste fiscal, como passo fundamental para a retomada econômica, como se comportará a classe política sob tais lideranças? Será que o povo precisará retornar às ruas para fazer com que assuma suas obrigações e compromissos? E como se comportará a oposição, a oposição, que não aceitou até hoje o fato de ter perdido a eleição e que vai se mostrando disposta a ficar contra tudo que possa beneficiar o Governo Federal? Ainda este ano, segundo as previsões atuais, a Operação Lava-Jato deverá alcançar os parlamentares já denunciados, o que certamente será causa de novas reações, além das já encenadas pelos presidentes do Senado e da Câmara Federal. Momentos conturbados, sem dúvida, mas que provocarão novas reações contra o Governo e suas medidas de saneamento financeiro e retomada do crescimento econômico, mais vulneráveis a estas ações políticas, muito próprias dos corruptos apanhados nos ilícitos e que não tem argumentos para justificar suas condutas. Temos, portanto, pela frente, tempos de difícil transposição, e muito próximos, em meios às medidas de enfrentamento da recessão.

Não há como deixar de ressaltar também, pois se trata se componente essencial à crise política e econômica brasileira, a imperiosa necessidade de o Governo Federal buscar maior eficiência e maior governabilidade. E que a presidente Dilma assuma a liderança do país, da condução política sobretudo, ouvindo os protestos das ruas. E que o PT, mas não só ele, como também o conjunto dos partidos políticos, tirem desta crise as muitas lições que a realidade nos coloca, caminhando em direção a um novo tempo na vida política brasileira. Pode parecer ingênuo e romântico, mas é a esperança de todos quando vemos, a cada dia, assustados, os depoimentos do inusitado roubo da Petrobrás, envolvendo milhões, com imensa desfaçatez e fantástica ousadia, só possível graças a uma impunidade histórica senão uma cumplicidade entre suspeita e conivente. Se não houver renovação na classe política não teremos renovação moral nem patriótica, ou mesmo de trabalho e compromissos com as causas nacionais. Em meio a tudo isto, ampliou-se a discussão política e esperamos que esta elevação da consciência possa fazer com que o povo brasileiro aprenda a votar melhor.

*Jornalista

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