A polêmica dos faróis sob o sol

29 de Julho de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Desde há alguns dias, tupiniquins condutores de veículos, nas grandes rodovias, estão sujeitos ao cumprimento de nova obrigação estabelecida por políticos que, fazendo de conta que tudo já foi feito e o país vive às mil maravilhas, sem qualquer questionamento dos seus cidadãos, chegaram à conclusão de que ao dirigir, sob a luz do sol, com faróis ligados, ninguém mais se machucará. Segundo argumentação suspeita, uma vez que não há comprovação técnica, faróis baixos, ainda que sob intenso sol, ajudam o condutor a visualizar veículo, em sentido contrário à sua frente, dando assim mais segurança ao ato de dirigir. Será?

Como já dito, não tendo havido prévio estudo técnico sobre o assunto, pode ser mais conversa pra boi dormir, que encontra vasto espaço para aceite na boa vontade brasileira. Brasileiro é um povo nascido da enrolação e educado na base da mentira; daí a facilidade com que aceita tudo o que lhe impõem. Pergunta-se de onde veio a ideia, porque criatividade nem sempre é o campo desses políticos, na maioria, elevados ao poder por interesses destoantes do ideal de servir à causa pública. A operação Lava-Jato e seus desdobramentos aí estão para confirmar que não se trata de hipótese leviana. Apanhados, julgados e condenados, ainda assim, entre eles se contam os que deram continuidade à prática delituosa.

Mas, de volta ao fio da meada, pode-se dizer que entre políticos nada se cria, mas, de acordo com conveniências, muita coisa pode se transformar, especialmente para atazanar a vida do povo ou dele arrecadar mais impostos, taxas e sabe lá o que mais.

Na verdade, a ideia do farol baixo durante o dia surgiu na Europa onde, muitos países, especialmente os do norte do continente, têm pouca incidência da luz solar e a formação de nevoeiro é mais comum que na região dos trópicos. O Brasil está entre os países com maior incidência da luz solar, e, nevoeiro é fenômeno eventual, mais localizado. Portanto, chega a ser ridícula a cópia da ideia! É mesmo coisa de tupiniquim, que gosta de supervalorizar o estrangeiro em detrimento daquilo que é ou que tem; baba-se todo ao ouvir alguém a “enrolar a língua” e acha que tudo lá fora é melhor do que o aqui encontrado. Considere-se ainda que mesmo lá, onde surgiu, na região da Escandinávia, a ideia do farol baixo evoluiu para solução mais consonante com a modernidade, ou seja, a DRL (Daytime Running Lamp), traduzido para o Português como “farol ou luz de circulação diurna”.

Como se vê, a ideia foi macaqueada, e muito mal, pois desconsidera a evolução em sua origem, além de abrir caminho para confusão no caso de veículos da DRL. O sistema, que consiste de lâmpadas sempre acesas com o carro ligado, mesmo durante o dia e com faróis apagados, é encontrado nos veículos mais caros, especialmente os importados, mas de acordo com a redação da lei, de nada ele adiantará diante da fiscalização, embora o Contran tenha reconhecido a DRL. Se os faróis baixos não estiverem ligados, ainda que tenha a DRL, o infeliz acabará sendo multado; e que vá brigar para retirar a multa. Como o tupiniquim, na maioria das vezes, deixa o prejuízo pra lá, o governo acabará engordando suas burras.

Veja-se que, mais uma vez, a assertiva falsa e idiota de que “o que é bom para os gringos é bom para o Brasil” foi aplicada na importação de uma ideia que, neste país, faz pouco sentido, a não ser que tenha por finalidade algo oculto e matreiro, como já se deu em outras experiências. Ao contrário da DRL, criada com fim específico e. portanto, com menor risco de afetar o sistema elétrico, o uso constante do farol baixo pode reduzir a vida útil de peças, desde as lâmpadas até a bateria; é a própria lógica que diz. Se o material passa a ser mais usado seu tempo de vida útil se reduz. Diante dessa constatação, parabéns aos fabricantes e comerciantes, que passarão a vender mais a proprietários de veículos! É claro que o governo também arrecadará mais, sem falar nas multas que, segundo opinião de muitos nas redes sociais, é a finalidade oculta da emenda feita ao CTB.

Que não se veja nestas críticas um estímulo à desobediência, pois se é lei, a nova determinação deve ser cumprida, ainda que injusta, prejudicial ou sem propósito. Contudo, não se tira da sociedade o direito de discutir, ainda que isso devesse ter sido feito, previamente! Se a sociedade conclui que uma lei é injusta ou prejudicial tem o direito de cobrar sua correção ou revogação. Ao pensar e tentar vislumbrar o porquê de decisões como essa, esbarra-se na evidente incompetência das autoridades no tratamento das causas por trás de tantos acidentes e consequentes prejuízos em vítimas e danos materiais. Incapaz de educar e formar cidadãos respeitosos, que saibam o que fazem na interação com o próximo, incluindo-se ai a convivência no trânsito, a sobriedade ao volante, a concentração exclusiva no ato de dirigir, o governo tenta inventar a roda para mostrar serviço.

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