A última rasteira

26 de Maio de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Pergunta-se se, dentro do sistema político-partidário vigente, este país tem solução de seus graves problemas, considerando-se o que se viu e ouviu durante a semana passada. É preciso muita parcialidade, muita paixão por esta ou aquela facção, para não admitir que todo o sistema está falido, corroído, corrompido, salvando-se poucos ou quase nada dos políticos mais destacados, exatamente como se tem batido nesta coluna, desde sua criação, há vinte e oito anos. Agravou-se a corrupção, nos últimos anos, mas ela já vinha se expandindo em governos pretéritos.

Anteriormente, ao se escrever sobre políticos, suas qualidades e comportamentos, havia que ter o cuidado de não generalizar, não se incluindo todos no mesmo saco da desonestidade, do qual a maioria escapava, embora não da omissão e falsas promessas, pecados menos graves, de acordo com o catecismo político-eleitoral. Lamentavelmente, para cada cidadão consciente e para a comunidade nacional, tal avaliação não prevalece na atualidade, quando poucos políticos não participam de algum esquema espúrio, a escapar, talvez, os que não tenham tido oportunidade. Definitivamente, não, o país não pode prosseguir, sem mais prejuízos políticos, morais e materiais, sem que sejam eliminados os vícios, que tornam esse sistema o caminho mais fácil para a subordinação do país à prática da má política, por sua vez atrelada à corrupção.

O que se viu e ouviu, durante a última semana, foi a gota d’água que faltava para transbordamento do copo da indignação, que vinha se enchendo a cada escândalo revelado, a cada investida contra os interesses públicos, a cada golpe contra o patrimônio nacional. A tranquilidade mostrada pelos depoentes, dentro do esquema da delação premiada, mais a riqueza de detalhes das práticas criminosas, por eles cometidas, demonstram quão naturais elas lhes pareciam, ainda que cientes de sua ilegalidade. Partidos políticos, vinte e oito do total de trinta e cinco atuantes, aos quais atrelados quase dois mil políticos com cargo público, mantinham-se num relacionamento promíscuo regado a milhões de reais, com o grande grupo industrial da carne, identificado pelo povo como Friboi! Deixando de lado o caso das empreiteiras no escândalo da Petrobrás e outros delitos do gênero a envolver agentes públicos, somente essa sujeira e seus números reveladores são o bastante para desacreditar a classe política deste país.

Manifestações e protestos legítimos, dos quais se vale a bandidagem para o exercício da violência e danos ao patrimônio público e privado, representam o peso da indignação da sociedade, mas isso não se reflete nas urnas, onde os mesmos políticos conseguem agarrar-se aos cargos, protegidos pelo sistema. O corporativismo fala mais alto!

O episódio da delação da JBS (Friboi), tal como mostrado ao público, não está claro, e, as tais gravações (muito fuçadas) parecem destinadas a criar algo fora do contexto, porém de extremo interesse aos delatores, que já respondem a inúmeros processos na Justiça. Muita coisa precisa ser explicada quanto à vertiginosa ascensão do grupo empresarial a partir da injeção de recursos do BNDES, bem quanto à farta distribuição de propina e financiamento de campanhas políticas. Ao final de tudo, incluindo-se especulação com o dólar, os delatores escafederam-se para os EUA, onde já se encontra a maior parte de suas operações empresariais. Pergunta-se se não seria o caso de retenção dos delatores, no Brasil, até que se explicassem e se apurassem todos os fatos. Os envolvidos construíram um império econômico mediante financiamento do BNDES, afrontaram e violaram as leis do país, gerando diversos processos, vários em andamento. Por fim, dão a última rasteira e se vão. É bonito Isso?

Que o bom senso reúna o pouco restante das mentes sóbrias, em evidência política, deste país, para que não mais retarde o que tem de ser feito: Assembleia Nacional Constituinte, independente, formada tão somente por juristas, magistrados e cidadãos(ãs) de notório saber, não integrantes do atual quadro de agentes públicos e/ou políticos. Que primeiro opine o povo e, em seguida, trabalhem notáveis da nação! Só assim este país se resgatará, para alçar-se ao futuro prognosticado dentro de um ideal de grandeza moral, porém retirado de foco pelo imediatismo criminoso, entronizado no topo da política nacional.

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