A vez do dente de leite

11 de Novembro de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Para contrariar pessimistas que só veem o negativo no noticiário diário, felizmente, nem só de guerras, violência urbana, doenças e corrupção no setor público se alimentam as páginas dos jornais, câmeras de televisão e sites da internet. A ciência, por exemplo, tem trazido boas novidades, notadamente no campo da saúde. Pena é que nem todos os recursos estejam disponíveis para todos, em razão do alto custo, mas é questão de tempo para que fiquem mais acessíveis, assim como, no passado, outras conquistas deixaram o restrito círculo de alcance, para abranger toda a população.

Caminhada se faz, passo a passo, mais lentos ou mais rápidos, mas nunca de um salto. Logo o avanço da humanidade, em todos os setores, é feito mediante educação, de forma contínua, etapa por etapa, redundando em violência e sofrimento, quando grupos tentam queimá-las (as etapas) para antecipar a conquista do objetivo.

Um dos grandes avanços da ciência está no conhecimento sobre as células-tronco, assunto ainda um tanto incompreensível para a maioria das pessoas, mas que acendem esperanças sobre a cura de doenças. Elas dão origem às células adultas, que formam ossos, tecidos e órgãos do corpo. Por terem a capacidade de autorrenovação e divisão constante, elas podem ser aplicadas na reparação de tecidos danificados ou para a substituição de células que morrem. O dito aqui sobre células-tronco foi apenas para esclarecer, de forma simples e compreensível, o que é e o que pode fazer a célula tronco, no campo da medicina, em benefício do indivíduo. A novidade, a seguir, é que interessa mais de perto, especialmente aos pais de filhos ainda na primeira infância. Esses pais e seus respectivos, menos ainda, nem imaginavam, há alguns anos, que o dente de leite do filho seria alvo de atenção e cuidados tão especiais.

A fase da queda dos dentes de leite era encarada pelos pais com histórias contadas ao filho, para que este não se assustasse ou se traumatizasse, considerando que, por breve período, ele ficaria banguela. Uma dessas histórias referia-se à “fada dos dentes”, que deixava presentinhos ou algum dinheiro em troca do dente caído. Para isso, o garoto ou garota devia colocar o dente debaixo do travesseiro, onde a fada o procuraria. Está na cara que essa versão, um tanto açucarada, era coisa de rico ou detentor de melhores posses; ao pobre não se permitem promessas e permutas desse tipo. Sem lirismos, o dente do pobre quando caído era lançado ao telhado, enquanto se recitava o verso: “Mourão, mourão tome seu dente podre e me dê outro são”. Isso quando não misturado à comida e engolido, depois do esforço na mordida de pedaço de muxiba -quando havia - com angu.

Tudo isso poderá ficar para trás com as possibilidades, que se abrem, para solução de problemas de saúde, a partir de células torno da polpa do dente de leite. Segundo se anuncia, cientistas, em todo o mundo, estão a produzir diferentes tecidos do corpo humano, como ossos, cartilagens, músculos e órgãos, a partir das células-tronco da polpa do dente de leite. Diante disso, muito mais cuidado deverão ter os pais com a primeira dentição de seus filhos, conservando-a sadia, pois além da saúde da criança, ali está implícita a possibilidade de doação do dente para os centros de pesquisa. Os dentes não deverão ser deixados à queda natural, em razão de cuidados especiais, sem os quais as células-tronco não são aproveitadas. Logo, o primeiro cuidado é o encaminhamento da criança a um dentista, experiente no assunto e credenciado junto a um Centro de Tecnologia Celular – CTC. Vale ressaltar que a higiene é fundamental, razão pela qual o dentista deve ser procurado desde o início, ou seja, desde o nascimento dos dentes, para que tudo caminhe em direção ao perfeito aproveitamento dos dentinhos. Não mais valerá o dente amarrado por barbante e puxado à revelia, para ser guardado debaixo do travesseiro, para a “fada do dente” ou para ser lançado ao telhado. O dentista extrairá o dente, quando este ainda possuir um terço de sua raiz, ou estiver levemente solto, observando-se critérios especiais, também na conservação e no seu transporte, a ser efetuado, até quarenta e oito horas, para o laboratório. É no laboratório que se realiza o trabalho principal.

Do Centro de Tecnologia Celular – CTC, especializado em células-tronco de dente de leite onde deve, necessariamente, ser feito o armazenamento, requer-se ser credenciado junto ao Conselho Federal de Odontologia – CFO e licenciado pela ANVISA. Devido a esse grande potencial, que pode contribuir na regeneração de tecidos humanos, pesquisas são dirigidas em busca da cura de diversas doenças, incluindo-se diabetes, mal de Alzheimer, problemas cardíacos. Aos pais conscientes cabe o cuidado na preservação dos dentes de leite do filho, para que eles, doados, cumpram seu papel na cura de doenças.

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