Antes de melhorar vai piorar na recuperação da economia

08 de Abril de 2015
Jornal O Liberal

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*Mauro Werkema

Antes de melhorar vai piorar. Ou, pelo menos, vamos todos passar por tempo de vacas magras. É o que pensam as duas agências internacionais que analisam as situações econômicas do Brasil e que decidiram não baixar as notas de crédito do País, alegando que o ajuste econômico, conduzido pelo Governo Federal, sob liderança direta da presidente Dilma, tende a conduzir a economia a situação melhor. Na verdade, segundo a opinião geral dos analistas, não sabemos ainda o tamanho e a extensão das consequências do ajuste econômico e os limites da recessão que será imposta ao País como consequência obrigatória de recuperarmos o crescimento econômico. Estes limites dependem da eficácia das medidas, conduzidas pelo ministro Joaquim Levy mas também do apoio que podem ter ou não ter do Congresso Nacional, cada vez mais fisiológico e rebelado, como também da capacidade de o Governo Federal cortar na própria carne, reduzindo o gasto público, exorbitante em um governo que tem 39 ministérios.

Mas, para os brasileiros, com maior prejuízo certamente para os mais pobres, que dependem de salários e empregos, o ajuste econômico, que deverá transcorrer por todo o ano de 2015 trará seguramente consequências como redução de consumo, causando queda na produção industrial, redução do emprego, menor massa salarial na economia, necessidade de maior economia nos gastos domésticos e cortes no lazer e entretenimento. No lado do governo, terá que ocorrer menos gastos públicos, reduzindo investimentos em obras públicas e mesmo em serviços básicos, retardamento de vários programas, principalmente em infra-estrutura e, de uma maneira geral, redução do nível da atividade econômica. Neste programa de correção econômica o Brasil precisa contar ainda com o quadro internacional, também em recessão em vários países. A China, grande parceira do Brasil, reduziu seu crescimento econômico para 7% ao ano, quando já esteve em 14%. Compra menos comodities do Brasil, especialmente o minério de ferro, que já valeu 120 dólares a tonelada e hoje está em 60 dólares. E assim ocorre com vários produtos da pauta de exportação brasileira, mais desvalorizados, levando ao déficit da balança de pagamento, em déficit deste os anos finais de 2014.

É possível, como um indicado positivo e essencialmente na recuperação econômica, que a inflação decline nos próximos meses. Passado o impacto na gasolina, na energia elétrica e nos preços dos supermercados, especialmente nos hortifrutigrangeiros, também impactados pela seca nas lavouras, a tendência é uma redução para pouco menos da meta de 6,5%. A taxa de juros, extremamente elevada, hoje um dos principais instrumentos de política econômica, e que se encontra em 12,25%, dificulta o ritmo da expansão da economia na medida em que torna bem mais caro o investimento e a movimentação financeira e de crédito do comércio mas, como tudo indica, deverá manter-se neste patamar ainda por um bom tempo. Enfim, o Governo Federal não tem outra saída, no momento, senão conduzir um programa bem forte de reciclagem econômica, sob pena de agravamento da sua reputação, já bem baixa, ou de aprofundar o conflito político que é hoje também um grande dificultador.

Alega a presidente Dilma que foi obrigada a conceder estímulos diversos e desonerações a vários setores empresariais para evitar que a crise internacional chegasse ao Brasil com maior ímpeto. Conseguiu manter o emprego, hoje ainda com índice positivo mas desestruturou as contas públicas, hoje deficitárias. Por outro lado, como fator também importante, a influir na credibilidade governamental, o escândalo da Petrobrás traz consequências muito negativas. A cada dia somos assombrados com novos desvios de recursos públicos, propinas e corrupções diversas, em valores extraordinários. O Brasil precisa ser passado a limpo e, para isto, precisa punir exemplarmente corruptos e corruptores, acabando sobretudo com a ação de empreiteiros e sua crônica locupletação com o dinheiro público. E, finalmente, é também essencial, como deseja a sociedade brasileira, que os políticos, também envolvidos na corrupção da Petrobrás, não só sejam excluídos da vida pública mas que toda a classe política esteja mais solidária com o País, com seu desenvolvimento, com os grandes temas que afligem a sociedade. Que cuidem mais da sociedade e menos de si próprios. Eis, neste breve resumo, o que não aguarda este, e talvez, o próximo ano. Mas sejam otimistas pois tem que melhorar.

*Jornalista

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