“Meus amigos, meus inimigos, salvemos Ouro Preto”

13 de Abril de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

*Mauro Werkema

O tema é antigo e já cobrado inúmeras vezes, desde imemoriais tempos. Mas muito atual, senão fundamental, perante a crise atual. Ouro Preto precisa explorar devidamente a sua rara, rica, excepcional, singular e exemplar vocação para o turismo nos segmentos cultural e de reuniões, eventos e negócios. Este é o seu caminho e o seu futuro e, por sorte, trata-se de atividade ambientalmente limpa, altamente valorizada nos tempos atuais, forte geradora de emprego e renda, que é hoje 9% da economia mundial, que vem crescendo a taxas próximas de 5% no mundo, apesar da recessão internacional. E que, o que é ainda mais importante, pode obter resultados a curto e médio prazos, com baixo investimento financeiro já que a cidade possui ampla infraestrutura hoteleira e gastronômica, além de razoável oferta de meios de acessibilidade. E muitos atrativos, mesmo muito além dos de natureza cultural e artística. No mundo, no Brasil, existem muitos e belos exemplos de recuperação e forte melhoria socioeconômica pelo turismo e pela cultura.

Então, o que falta? Falta a chamada Mercadologia Turística, que qualifica, promove, divulga, comercializa o destino a partir de tudo o que oferece no composto da hospitalidade e da fruição de lazer, entretenimento e, de modo especial, a garantia de satisfação do cliente. O viajante é exigente, quer ser bem atendido, dormir e comer bem, ser bem recebido e orientado, encontrar o patrimônio histórico e artístico bem cuidado, os atrativos abertos, boa folheteria promocional, divulgativa e explicativa. É difícil? Um tanto mas não impossível para uma cidade como Ouro Preto, conhecida no mundo inteiro, inscrita na lista da UNESCO do Patrimônio Mundial da Humanidade, um dos destinos turísticos mais importantes do Brasil, citada em todos os livros de História e de Arquitetura, reconhecida como exemplar bem conservado e harmônico da arquitetura colonial luso-brasileira, com rico acerto artístico. E obras de Aleijadinho e Athayde, internacionalmente conhecidos. E muito mais.

O Centro de Convenções da UFOP, aproveitando o antigo Centro Metalúrgico, que estava desativado, foi para qualificar o turismo de eventos e negócios. Pode ampliar ainda mais sua capacidade de atração de eventos. As entidades do turismo e do comércio precisam elaborar um programa promocional comum com a Prefeitura. Mas, preliminarmente, é preciso que a Prefeitura tenha uma Política Pública de Turismo e de Cultura, com apoio de toda a rede de prestadores de serviço. Com forte conteúdo promocional e ênfase na boa recepção ao visitante. O Festival de Inverno precisa voltar ao que já foi, no tempo da UFMG, com repercussão nacional e internacional. Mesmo festa como o Carnaval pode ser aprimorada para trazer visitantes de melhor poder aquisitivo. E também a Semana Santa, festa maior de Ouro Preto, que ainda mantém ricas tradições. Mas cabe muito mais: o Teatro, Casa da Ópera, fechado há muitos meses, joia rara, que encantaria a qualquer grupo artístico frequentar? E a antiga Casa dos Artistas, que facilitava o custeio da vinda de artistas?

A UFOP poderia fazer mais para Ouro Preto, cidade que a abriga e serve. Poderia trazer mais eventos e contribuir mais para estudos urbanísticos e de planejamento, especialmente nas áreas de Turismo, Saúde e Educação. Caberia uma feira de livros, um festival gastronômico, uma grande festa de Natal, com as representações teatrais que o simbolismo desta data permite. O 21 de Abril, na comemoração da Inconfidência Mineira, poderia transformar-se num festival cultural e cívico amplo. Na área cultural, nos diversos ramos com que se organiza e se apresenta, inúmeras são as oportunidades, facilitadas porque se trata de Ouro Preto, cenário natural para a cultura, a espiritualidade, o conhecimento, o sonho e as manifestações da arte. E o festival de jazz, acabou? E o de cinema? Mas o importante é manter o fluxo turístico normal, mesmo em épocas de baixa temporada, para o que é necessária promoção contínua. No calendário religioso, além da Semana Santa e Corpus Christi, outras festas do ano litúrgico podem atrair mais turistas.

Vejamos o exemplo de Inhotim, proposta diferente mas que, com boa promoção, vem conseguindo fluxo de até 10 mil pessoas por semana, em prolongadas temporadas. Elaborar um plano turístico e conseguir adesões, com atitudes solidárias e convergentes, não exige muito dinheiro mas boa vontade, liderança e, como é da tradição municipalista, depende de ação inicial mas contínua da Prefeitura. Ouro Preto, finalmente, é bom lembrar, conta com muito boa vontade de todos os órgãos de turismo e de cultura, dos Ministérios, das Secretarias, das entidades da indústria e do comércio, todos movidos por um solidarismo decorrente da consciência de que a tricentenária história, cívica e artística Vila Rica pertence a todos nós e que devemos preservá-la como ato fundamental da nossa identidade. Ou, então, devemos repetir Manuel Bandeira, quando convocado por Rodrigo Melo Franco de Andrade, logo nos primeiros tempos do IPHAN, criado em 1937, cunhou a frase para a campanha de solidariedade à cidade, então bastante abandonada: “Meus amigos, meus inimigos, salvemos Ouro Preto”.

*Jornalista

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