As crises e os desafios para os novos tempos

11 de Março de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

O prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, executivo experiente, com formação empresarial, realizou recentemente um seminário sobre planejamento estratégico para o futuro das cidades. Especialistas convidados foram quase unânimes em prever que as crises por que passa o mundo mas, e especialmente o Brasil, exigem mudanças profundas e rápidas, em algumas questões da vida social e econômica. Até para evitar maiores sofrimentos por parte das populações. Sem estas correções, a vida contemporânea ou o que, um tanto erroneamente, alguns chamam de moderna, passará por crises maiores. Estas correções situam-se no campo do uso da água, da energia, dos alimentos e nos modelos de crescimento econômico e as resultantes sociais. Enfim, são providências urgentes e que atingem também as cidades médias e não só as capitais.

Já está na nossa porta a questão da falta d’água, fenômeno da natureza, mas também de falhas humanas, que parecem atingir todo o Sudeste Brasileiro, mas também outros países, e que alcançam não só as grandes cidades mas também o interior. E de difícil solução mesmo a médio prazo, exigindo obras e investimentos elevados para resultados mais demorados. Sem a água, a agricultura reduz o plantio e a produção, os preços se elevam, a atividade industrial será reduzida no médio prazo, amplas camadas da população sofrerão. A água potável é um produto industrial, tem que ser captada, tratada (o que é caro e exige engenharia sanitária) distribuída e, após todo este ciclo, escoada junto com o esgoto ou água servida e, se não devidamente tratada, vai poluir rios e mananciais. Custa caro e o hidrômetro, que mede o consumo e permite o cálculo da tarifa, é essencial. Não pode, portanto, ser gratuita.

Serão necessários investimentos elevados em novas captações. E na distribuição. E os edifícios e domicílios terão que armazenar água de chuva. E usar cada vez mais a água reciclável ou de reuso. O gasto terá que ser moderado, nos domicílios e na indústria. Tudo isto exige uma mudança de comportamento e, por parte das Prefeituras, investimentos prioritários e não só na identificação de novas fontes. Quanto aos alimentos a questão também é complexa. É preciso rever a cesta alimentar até para a saúde humana. Mas também pelo custo. Segundo os especialistas, come-se mal, em geral, na quantidade e na qualidade. A questão não se restringe às mesas mais fartas mas também relaciona-se com a oferta de alimentos para as camadas mais pobres. Ainda há fome em todo o mundo e no Brasil e esta reciclagem deveria corrigir estes desníveis pessoais e regionais de renda.

A questão da energia é também grave. Basta ver o quanto está custando a energia elétrica e os aumentos recentes. São precisos pesados investimentos. Questiona-se também a energia de fonte hídrica, que exige grandes reservatórios sustentadores das hidrelétricas e a existências destes potenciais hídricos. Mas o que se discute é mudança no composto gerador de energia, buscando novas fontes, como a solar, a eólica e outras. A energia fóssil, como o petróleo, também já é crítica por motivos econômicos, financeiros e até políticos. O Brasil, com seu imenso território, tem muitas potencialidades para buscar novas fontes, além da hídrica. Mas exige muito planejamento, muito dinheiro e a disseminação de uma consciência solidária entre a população. No Brasil, a crise que já sentimos exige mudanças rápidas e prioridade para a geração de energia e em tempo curto, para que a questão não se torna ainda mais grave do que está.

Finalmente, dizem os especialistas, é preciso pensar nos modelos de desenvolvimento. Este conceito, herdado do pensamento racionalista do Século XIX, está hoje em crise. Desenvolvimento não implica em crescimento infindável. Ao conceito de expansão quantitativa e contínua, deve se acrescentar o conceito de qualidade de vida. A felicidade humana não está indesviavelmente ligada ao consumo e aos bens materiais ou patrimoniais. Mas sim à educação, à alimentação, à habitação, à segurança de vida estável. Prevê-se também que doravante será muito difícil crescimento das nações além de 2,5% ou 3% do PIB em razão da própria complexidade da vida moderna e da crônica crise financeira dos países, quase sem exceção mergulhados em crises de suas contas internas e externas, com pesados déficits públicos e com crescentes encargos para sustentar seus investimentos públicos. Enfim, são questões cruciais para todos os cidadãos, mesmo os mais simples e, especialmente para os gestores públicos, hoje com orçamentos reduzidos mas com maiores demandas por parte da sociedade. Tempos de crise, de economia, de verdades, de renovação de visões e condutas. A exigir nova consciência, novas lideranças políticas e empresariais. Uma nova consciência cidadã. Mas, sem dúvida, um novo tempo, uma nova era, em que todo o mundo e todos terão que participar deste novo ciclo da História Universal.

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