Brasil, entre incertezas, crises e muitas perplexidades

19 de Março de 2015
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

A desfaçatez com que os ladrões da Petrobrás confessam seus crimes, desvios de dinheiro, propinas, contratos superfaturados, compra de políticos e benefício a empreiteiros, envio de dinheiro para o exterior, enriquecimento pessoal e familiar, deixa perplexo o brasileiro honesto. O depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobrás, à CPI da Câmara Federal, transmitido em rede nacional de televisão, é “chocante” e aterrador, já não pelo montante de dinheiro desviado mas pelo cinismo, pela “cara de pau”, pela naturalidade com que revela seus roubos, propinas e vários crimes correlatos, envolvendo toda uma quadrilha, de funcionários e diretores da Petrobrás mas também empreiteiros, corruptores antigos, e ainda políticos de todos os partidos, expondo as entranhas da corrupção que, infelizmente, espalhou-se pelo Brasil, antiga mas ampliada nos últimos anos. Uma vergonha para todos nós.

Ao contemplar os semblantes dos delatores e corruptores principais, Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseef, em geral sorrindo, o sentimento é de estupefação, de assombro e de tristeza, tamanha a desenvoltura destes criminosos. E a cada depoimento assusta ainda mais a constatação de que estamos diante de uma rede ampla de corrupção, até difícil de ser apurada em toda a sua extensão e dimensão, por envolver todo um esquema que inclui empresários e políticos de diferentes partidos. Comprova-se que a corrupção, com o desvio de dinheiro público, da Petrobrás e outros órgãos, era algo planejado, com um clube que discutia percentuais da propina e sua destinação. Mais impressionante ainda é que Pedro Barusco promete devolver cerca de R$ 70 milhões, desviados da Petrobrás e depositados em contas que possuía em bancos estrangeiros. Inacreditável que tamanho furto tenha sido praticado em empresa que todos supúnhamos organizada e com controles mínimos de gestão.

O que todos esperamos é que os inquéritos compreendidos na “Operação Lava-Jato” tenham finais plenos, ou seja, apontando culpados e os punindo severamente. E que esta punição não se restrinja a impedimento de novos negócios com órgãos públicos, no caso das empreiteiras, ou na cassação de mandatos de parlamentares, mas implique também na recuperação de recursos, na tomada de patrimônios de todos os ladrões, procurando ressarcir, pelo menos em parte, os cofres públicos. É fundamental que se faça deste triste episódio, através da plena punição aos envolvidos, um exemplo histórico de que no Brasil não ficarão impunes os assaltantes do dinheiro público. Empreiteiras, com longo histórico de corrupção, precisam ser punidas exemplarmente como também os políticos corruptos. E não quer se dizer que pode-se diferenciar entre corruptos e corruptores pois todos estão interligados nas operações criminosas.

Enfim, a sociedade brasileira, perplexa, espera punição exemplar, pedagógica. É este o sentimento de todos os cidadãos de bem, que trabalham muito e ganham a vida honestamente, em meio a muitas crises e dificuldades. É hora de o Brasil ser passado a limpo e dar um exemplo de que a corrupção não pode ser endêmica, ampla e impune mas que irão para a cadeia, com bens sequestrados, os que se locupletaram com o dinheiro público. O caso da Petrobrás é escabroso. Ficamos pensando que corrupção de tal monta, em tempos tão longos, envolvendo diretores e funcionários, não é episódio isolado, de um pequeno grupo mas algo maior, de raízes mais profundas, decorrente de deformações de caráter mas que só se explica porque o sistema empresarial, como também a atividade política/partidária no Brasil, estão profundamente corrompidos, sem princípios morais e éticos. Tudo isto é muito grave, nos envergonha, enfraquece, abate, desconforta.

O envolvimento de 54 políticos, quase todos detentores de mandatos eletivos, entre eles governadores, senadores, deputados, é demonstração cabal de que todo o sistema político está comprometido. Desviou-se para a corrupção deturpando o sentido republicano da representação popular. Como acreditar que o atual Congresso fará a reforma política tão esperada e tão essencial a que possamos superar esta triste face da vida brasileira? Os presidentes do Senado e da Câmara, cujo passado é conhecido, envolvidos e denunciados, usam as prerrogativas dos cargos para confundir e desvirtuar o processo investigativo. Como esperar deles uma reforma política que lhes retire justamente a condição de serem os principais aproveitadores deste sistema político? Sem uma mudança radical na vida política, na representação no Congresso, não é possível se pensar em saneamento moral no Brasil. O que nos resta? Aguardar o processo histórico, na ingênua esperança de que o tempo a tudo corrige? Vivemos tempos de incertezas, mas a falta de visão de futuro, em quadro tão grave e complexo como o atual, não pode representar a plena desesperança. Mas, está difícil ser otimista com este nosso Brasil, em crise por todos os lados que olhamos.

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