Em Ouro Preto, diálogo para enfrentar a crise

05 de Março de 2015
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

O prefeito José Leandro se dispõe a realizar um amplo diálogo com todos os segmentos da sociedade ouro-pretana em torno da crise que vive a tricentenária cidade. E, após ouvir e codificar a opinião de seus contemporâneos, mas também das instituições e segmentos que tem interlocução com a cidade, sua realidade e seu futuro, elaborar um documento/diagnóstico que possa orientar suas ações não só para um adequado enfrentamento das dificuldades mas também traçar rumos para os próximos anos. Este é o caminho que propõe para superar ou, pelo menos, conhecer melhor a realidade e buscar ações consensadas.

De resto, a iniciativa é importante em dois sentidos: é importante que a sociedade, por suas lideranças, formadores de opinião, instituições, representações sociais e políticas, conheçam a realidade crítica por que passa Ouro Preto e suas grandes dificuldades e, de outro, possam também oferecer esforços, ideias, iniciativas capazes de um enfrentamento solidário do momento. Por outro lado, se não colocar com clareza e verdade a situação porque passa a Prefeitura corre o risco de ter um julgamento público injusto, senão maldoso e de viés político/partidário. A verdade pois, vencendo o silêncio, ajuda ao enfrentamento das adversidades.

A situação, que precisa ser mostrada, segundo o prefeito e seu secretário de Governo, Flávio Andrade, é que a crise que se abateu sobre o País atinge mais pesadamente a Ouro Preto. A queda de arrecadação da Prefeitura chega a R$ 40 milhões, o que impede vários programas públicos e a execução de obras, obrigando a administração municipal a uma maior austeridade financeira. Além disto, caiu a transferência de recursos federais, conforme noticiado amplamente pela imprensa. E a recessão brasileira, em razão de um quadro macro-econômico desfavorável, não permite visão otimista sobre a vida empresarial, atingindo também o turismo. E o emprego industrial, com a retração das mineradoras e o fechamento da Novelis, também está restrito. E a crise de água é grave, até porque não se investiu, nos últimos anos, na busca de novas fontes.

Se as dificuldades do momento não permitem expansões e novos gastos, a hora é de estudar a realidade, conhecê-la mais profundamente, realizar cortes e contenções, mas também identificar possibilidades de médio ou longo prazo. Na verdade, falta a Ouro Preto um planejamento estratégico, com visão de futuro, com definição de rumos e indicação de potencialidades a serem exploradas a partir destas vocações. Já se constatou, em estudos anteriores, que Ouro Preto tem condições de desenvolver dois polos fortes: turismo cultural e de lazer e entretenimento e centro educacional. O turismo é notoriamente mal explorado no sentido de não ter política pública estruturada e consistente. Fica entregue a ações isoladas, desintegradas que, como todos sabem. E a UFOP, que cresceu extraordinariamente nos últimos anos, deveria olhar mais para a cidade, na qual está inserida e usa mas que pouco, muito pouco, como é voz corrente em Ouro Preto, retribui com ações estruturantes de repercussão econômica e social. É hora de a UFOP, com os conhecimentos que tem, dedicar-se mais a Ouro Preto.

Se bem conduzida, sem partidarismos ou reducionismos eleitorais, a ação pode ser bem sucedida. E vir a despertar em Ouro Preto o que, de há muito lhe falta: ação cidadã, consciente e solidária, em favor da crise e a superação da crise, ampliando o diálogo e a cooperação em torno do enfrentamento das dificuldades comuns e a construção de uma agenda positiva. É claro que não é fácil. Exigirá muito diálogo, palavra fundamental no Brasil contemporâneo e essencial à superação do conflito político e social que hoje tornou-se questão grave na atualidade. Mas, todos os que viveram e vivem Ouro Preto, nas suas grandezas e dificuldades, sabem que ampliar a solidariedade através do diálogo seria algo fundamental para que a velha cidade pudesse construir um futuro mais compatível com seu passado, seu patrimônio histórico e cultural. Mas este diálogo não prospera se não for bem realizado, com elaboração documental e indicações objetivas de ações solidárias, entre Prefeitura e os diversos segmentos da sociedade, certamente todos também preocupados com a realidade. Se assim não for, será apenas mais um ato ingênuo, neo-romântico e inconsequente.

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