Avança o tempo, mas as incógnitas permanecem

04 de Agosto de 2013
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Passada a calmaria política em razão da visita do Papa Francisco, a Copa das Confederações e a vitória do Atlético, e estando o Congresso em recesso por 15 dias em julho, persiste a grande indagação: e os protestos, terão continuidade? E as mudanças solicitadas, produzirão realmente as transformações requeridas nas ruas e praças? As opiniões multiplicam-se mas há uma opinião dominante: vão continuar sim e poderão até radicalizar-se na medida em que a classe política e os governos, federal, estaduais e municipais, não tenham condições, nem vontade, de realizar mudanças verdadeiras. É o que, desde já, demonstram as manifestações ocorridas esta semana em São Paulo e no Rio, com motivações variadas mas que, no fundo, revelam a insatisfação popular.

A verdade é que dificilmente o Congresso fará reforma política que represente mudanças reais. Estão no Congresso 27 partidos, dos quais cinco podem realmente ser considerados grandes. O resto são partidos pequenos, com poucos parlamentares, todos agremiações chamadas de “aluguel”, que alí estão muito mais para fazer negócios, garantir poder, empregos e benesses governamentais, do que para defender o interesse público, até porque não tem ideário ou mínimo programa doutrinário ou ideológico. É distribuindo facilidades que sobrevivem. Vazios de idéias e de homens, que vêem na política meio e não objetivo de realizar a real vontade popular, para a qual, afinal, foram eleitos.

Realizarão a reforma política contra eles mesmos? Estarão dispostos a extinguir seus privilégios? A entregar Ministérios e outros cargos loteados pelos governos nas três instâncias? É por isto que, e não só no governo federal, se pratica o que é chamado de “governos de coalização”, ou seja, para sustentar maiorias legislativas os governantes são obrigados a distribuir nomeações, quase sempre sem critérios de competência ou mérito, mas simplesmente porque têm votos nos parlamentos. Para praticar esta coalização e sustentar-se, o governo federal tem hoje 39 Ministérios, sem maiores justificativas administrativas senão abrigar os apaniguados e, em vários casos, até mesmo sem programas claros. Nas ruas, portanto, não se acredita em reforma política.

Os protestos ainda não encontraram programa mais bem elaborado de reivindicações. Mesclam-se nos protestos o setor jovem, que reflete sua indignação contra os maus governos, a corrupção, e pedem mudanças gerais. Alí estão também os vândalos, que querem destruir e até roubar. E ainda militantes, mais revolucionários, os que usam o famoso coquetel “molotv”, invenção da Revolução Russa de 1917. E, em certo paradoxo, também setores mais conservadores, que também manifestam sua indignação, mas são contra a presidente Dilma e o PT, hoje um amplo sentimento que quer mudanças mas que esbarram na falta de nomes ou líderes confiáveis ou viáveis. O protesto preliminar contra tarifas dos ônibus e o péssimo serviço de transporte público parece que já declinou, após reduções mínimas.

Em meio a esta ampla frente um grupo procura dar consistência às manifestações, tentando estabelecer pauta de reivindicações. Mas o movimento, de maneira dominante, repete o levante de Paris de 1968, quando a palavra de ordem era “é proibido proibir”. O fato é que o planejamento para 2014, que o setor público e as empresas começam a elaborar, ainda é uma incógnita. E a Copa do Mundo do ano que vem? Terá dimensões bem maiores do que a Copa das Confederações. Trará ao Brasil, segundo a FIFA, cerca de 190 mil estrangeiros e as maiores seleções do mundo. Até lá, os governos terão tempo de realizar transformações ou praticar meras restaurações, tão a gosto da História do Brasil, ou seja, realizar a conciliação através de concessões cosméticas que evitam rupturas radicais e que acabam por contentar as massas menos avisadas?

O Papa Francisco deixou várias falas e advertências no Brasil. Reafirmou a “opção pelos pobres” que a Igreja Católica sempre repete, mas que pratica pouco, bastando ver a condenação da “Teologia da Libertação”. Condenou também a “indiferença egoísta”, do que muito têm e que nada realizam para reduzir desigualdades. Ou mesmo simplesmente não se interessam, a não ser em manter seus privilégios de poder e de patrimônio. E, finalmente, o Papa pregou a indignação e disse aos jovens que eles nunca devem perder a esperança e que devem ser “revolucionários”. Esperemos que estas mensagens produzam mudanças na Igreja Católica, que perde velozmente terreno e fiéis para as seitas pentecostais, sobretudo as que falam às classes mais populares. Mas que a evolução do catolicismo e sua igreja se façam em clara aproximação com as reivindicações do povo menos favorecido, por uma ordem política e econômica que notoriamente precisa ser mudada em direção a uma sociedade mais justa e fraterna. Enfim, são fatos e ocorrências do nosso tempo, a que devemos estar atentos.

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