Papa Francisco reacende a Esperança de renovação

30 de Julho de 2013
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

É reconhecida por todos a simpatia pessoal do Papa Francisco. Convivente, sempre com um rosto de sincera alegria, despojado de rompante que o cargo e a função ensejariam, sem autoritarismo ideológico, adotou o nome de Francisco em mensagem de humildade que o “povorello” de Assis deixou para o mundo desde o Século XII. A Igreja, com dois milênios de experiência histórica, nos quais passou por dezenas de episódios, alguns contestadores de sua própria existência e da sua missão no mundo, tomou a sábia decisão da renúncia de Bento XVI, claramente conservador, colocando no Vaticano o Papa Francisco, notoriamente mais apto a renovar a Igreja Católica e atualizá-la perante as formidáveis transformações porque passa o mundo e a vida contemporânea.

Na recepção que o povo brasileiro lhe ofereceu, o Papa Francisco demonstrou inequívoca popularidade, não só pela multidão entusiasmada que o recebeu nas ruas, mas pelas expressões e manifestações de homens, mulheres, jovens, de carinho, de reconhecimento e simpatia. Temos, inequivocamente, um novo homem, um Papa popular, latino-americano, que tem reiterado a opção pelos pobres, pela condenação às injustiças sociais e econômicas, pela necessidade de uma nova ordem política, que cesse às guerras, os conflitos humanos, e para que haja justiça social e perene extinção das mazelas humanas.

Bento XVI, alemão, intelectual de excelente formação, não terá renunciado ao Papado em simples ato pessoal, ou por razões de saúde, mas em gesto claramente de reconhecimento do seu conservadorismo, reiterado em diversas ocasiões, sempre reafirmando posições antiquadas da Igreja, e que ainda persistem. Será com humildade, com uma nova inserção no mundo em mudança, globalizado e conectado pela fantástica comunicação eletrônica, que eleva o conhecimento e a capacidade de análise de todos, que a Igreja poderá recuperar prestígio e presença, em queda no Brasil e em várias partes do mundo, como mostram as pesquisas recentemente divulgadas. Se Bento XVIII representou um retrocesso, Francisco faz renascer entre os católicos a esperança de uma nova Igreja Católica, renovada e capaz de entender e conviver com o tempo em que vivemos.

É o que desejamos, mesmo os não religiosos. De resto, é o que o mundo precisa para encontrar novos caminhos de diálogo, de comunhão, de reconhecimento de que precisamos contar com preceitos éticos do bem, da justiça e da paz e um desapego a um materialismo despojado de conteúdos espirituais e outros valores permanentes da condição humana. O Papa Francisco chegou em boa hora e esperamos que avance. Esperamos que a simpatia que desperta nas multidões se transforme em efetiva atualização da Igreja face exigências atuais da vida humana. Esperemos que possa restaurar, com as devidas adaptações, o pensamento da Teologia da Libertação, que possa estabelecer convivência mais compreensiva com várias questões que a Igreja ainda condena, embora sejam práticas da condição humana.

É claro que não serão tarefas fáceis, nem imediatas. A renovação das hierarquias e dos poderes decisórios do Vaticano, notoriamente conservadores, parece que já está em curso. E o Papa demonstra ter condições de diálogo, até pelo respeito que conquista por sua humildade e capacidade de compreensão das diferenças e vicissitudes das sociedades humanas, o que tem lhe conferido autoridade moral e política. E, acima de tudo, por sua história como padre e bispo na conturbada Argentina, mostra que, mesmo mantendo os limites da sua responsabilidade como sacerdote e membro da hierarquia da Igreja, nunca deixou de exercer atividade pastoral ao lado dos oprimidos e pobres.

Afinal, o novo Papa assume a herança e os exemplos de São Francisco, valores permanentes de um forte e singular humanismo, de desprezo aos bens materiais, de fuga das vaidades do poder e da pompa, da propensão do homem pelos conflitos e disputas, pela humildade e grande capacidade de convivência com os diferentes e as diferenças, com o amor pela natureza e pelos animais. São Francisco, é fundamental lembrar, é o precursor do Socialismo Humanista e do ambientalismo, dois preceitos fundamentais da contemporaneidade, essenciais à construção de uma sociedade mais justa e solidária em um futuro melhor.

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