Blockchain, tecnologia revolucionária V

23 de Março de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Foram abordados, nos textos anteriores desta série, os princípios: confiança, descentralização, escassez e segurança. Como já foi dito, são sete os princípios em que se assenta a tecnologia da blockchain. Hoje, o foco estará no quinto princípio, a PRIVACIDADE. No ambiente da interação humana, especialmente nos negócios e questões financeiras, o indivíduo tem que fornecer dados pessoais, algumas vezes até íntimos, conforme já se observou em entrevistas e formulários de recrutamento pessoal em algumas empresas. Com a internet, essa intromissão na privacidade das pessoas ampliou-se, de forma desmedida, só não avançando com quem resiste à pressão. O pior, além da intromissão, é que os dados colhidos podem ser vendidos, para fins de marketing, sem qualquer autorização dos respectivos titulares. Se alguém devesse receber, o merecedor seria o seu titular. Este nada recebe e ainda pode acabar vítima, mais uma vez, assediado por propagandas comerciais à custa dos dados pessoais comercializados entre empresas.

Na criação da blockchain, usada, primeira e exclusivamente, para o bitcoin, Satoshi Nakamoto levou em consideração a PRIVACIDADE das pessoas, eliminando a necessidade da coleta de dados delas na rede de operações do bitcoin, quando eliminou a centralização de poder. A blockchain é pública, porém a pessoa é privada! No comércio regular, mediante dinheiro vivo, as pessoas compram e vendem, anonimamente, sem interferências que comprometam dados pessoais de lado a lado. Nem os próprios nomes são envolvidos na transação. Satoshi Nakamoto, considerando o direito à PRIVACIDADE, reproduziu a mesma regra no ambiente virtual. A identidade do usuário, na rede blockchain, é sua carteira digital criptografada. Ao adquirir a carteira na blockchain, ninguém precisa fornecer nem seu próprio nome. A diferença nos dois tipos de transação é que, no comércio regular, há o governo como centralizador, emitindo, distribuindo a moeda e cobrando impostos em cada transação; no comércio com base na blockcain, cuidado com a privacidade se dispensa, em razão da descentralização, ou seja não há nada nem ninguém a controlar os demais. Tudo é feito por toda a rede. Há uma questão a se esclarecer quanto ao fornecimento de dados pessoais. É obvio que, não tendo ingressado no mercado de criptomoedas e não tendo obtido informações a respeito, pessoas desconhecem o assunto. Entretanto, quem já entrou, fez alguma negociação pode alegar que teve de fornecer seus dados pessoais. Que fique claro não serem cobrados pela blockchain. Quem faz cadastros, exclusivamente para si, são as exchanges (espécie de corretoras de criptomoedas) que necessitam dos dados para a conversão das criptomoedas na moeda circulante, no caso brasileiro, o real, e transferência do valor resultante para o banco indicado pelo cliente. É nas exchanges que acontecem grandes roubos de bitcoins, de vez em quando divulgado pela mídia.

Setores, que se sentem ameaçados pelo bitcoin e demais moedas do gênero, exploram esses casos, apontando os riscos sem explicar que a blockchain não é envolvida e as exchanges operam sem qualquer vínculo com aquela. Na verdade, eventuais golpes contra as exchanges e pessoas, com propósitos de apoderação de bitcoins, são um alento à campanha movida pelos que sentem ameaçados por aquela moeda digital. Contra a blockchain é, praticamente, impossível cometerem-se tais crimes. Por isso, recomenda-se não deixar os bitcoins guardados nelas, a não ser por pequenos valores em satoshis (satoshi é a centésima milionésima parte do bitcoin), para pagamento de pequenas taxas cobradas pelas exchanges nas transações efetuadas. Para segurança dos bitcoins, de cada um, melhor nem deixar a carteira no próprio computador. Tudo pode se perder caso o computador seja hackeado ou se danifique o disco rígido. Existem dispositivos físicos (semelhantes ao pendrive) que guardam a carteira com mais segurança e privacidade. Na rede blockchain nada existe em termos de dados de cada participante. Vale ainda dizer que cada moeda tem sua blockchain, não querendo dizer que sejam iguais, embora com os mesmos princípios. Diferem umas das outras por alguma variação técnica.

O governo se mete na vida do cidadão e quer saber como ele gasta o dinheiro, violando assim a sua privacidade. As posições se invertem porque o cidadão e sociedade, em geral, é que deveriam cobrar do governo a informação clara, sem subterfúgios, sobre os gastos, como eles são feitos e em que são feitos.

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