Brasil tem 29 partidos e muito pouca ideologia

06 de Julho de 2012
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

O Site do Tribunal Superior Eleitoral registra a existência no Brasil de 29 partidos políticos. A simples leitura desta lista, em que se incluem denominações entre exóticas e esdrúxulas, já revela o quanto a atividade político-partidária no Brasil tornou-se mero campo de busca de poder pessoal ou de grupos, sem maiores compromissos para com o País ou com causas legítimas de um segmento social ou um modo de pensar a evolução histórica brasileira. A situação fica pior ainda se formos cobrar posturas ou conformações ideológicas ou doutrinárias. Mesmo os partidos históricos, como os da esquerda tradicional, se misturam hoje com as posturas que nada têm com sua origem ou uma provável doutrina filosófica ou política.

São, enfim, aglomerados de interesses, em que os políticos se ajeitam conforme suas origens populares ou oligárquicas, em busca de afirmação pessoal, conquista do poder ou mesmo para fazer negócios. Se há ainda políticos idealistas, ou motivados apenas por razões ideológicas, são poucos e cada vez mais obrigados também a acordos e atitudes desviantes, para “sobreviverem”. O resultado perverso deste quadro é o que assistimos hoje: autênticas quadrilhas, como a do bicheiro Cachoeira, mancomunadas com governadores e senadores, com empreiteiros e funcionários públicos, estendendo seus tentáculos obscuros para abocanhar o dinheiro público de variadas maneiras. O quadro é lamentável e mostra um comprometimento, ou contaminação, que hoje é, seguramente, a questão mais grave da jovem democracia brasileira.

Vamos a um exemplo concreto: disputam uma fatia do poder hoje, em Ouro Preto, 23 partidos. Poderíamos classificar como partidos vivos, com razoável número de filiados e ampla representação parlamentar, apenas o PMDB, o PT, o PSDB. Segue-se uma lista de alguns partidos que ainda poderiam ser considerados como tal, com alguma representação, como o PV, PPS, PR, PP, PDT, PSB, PTB, PC do B. O resto são siglas que, salvo pequenas e poucas exceções, são agremiações de aluguel, transitórias, meros trampolins para afirmação de lideranças pessoais na disputa pelo poder, pela negociação e dificilmente pelo poder do voto. E sem uma mínima nitidez ideológica. O quadro reflete, dramaticamente, a degradação da vida política brasileira.

Sem rumos ideológicos, sem posturas decorrentes de opções e concepções políticas, os partidos se digladiam no processo sucessório, que se tornou mero ajuste negociável de interesses pessoais. O voto se transfere para as pessoas pois a opção partidária se torna inconsistente, se não há diferenciação doutrinária. Compor maiorias, necessárias à governabilidade, implica em governos de coalização, situação que hoje degrada a vida pública e a gestão governamental, como assistimos em Brasília. A presidente Dilma já demitiu seis ministros que, na verdade, eram mais procuradores dos partidos na apropriação desonesta do patrimônio público. O mérito pessoal, a competência técnica e a honestidade ficam em segundo plano. No Congresso Nacional compor maiorias para votar projetos de interesse da Nação se transforma em uma negociação de favores.

Neste quadro, os candidatos falam mais de si e dos partidos do que de planos de governo, de idéias, de propostas. Estamos, no entanto, vivendo uma nova realidade, muito recente, quanto à informação do eleitorado. As redes sociais, a televisão, as informações compulsórias, a educação popular, estão mudando modos de pensar. Certamente o eleitor de hoje está mais atento, mais informado e o político que tiver melhores idéias, e souber difundí-las, poderá levar vantagem. Esta é a esperança que resta para a democracia brasileira: o eleitor é que fará a mudança, esperamos todos, escolhendo melhores idéias, currículos honestos. Esperar uma reforma política e partidária, vinda do atual Congresso, é ilusão, romantismo e ingenuidade.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook