Brasileiros, indignados, vão às ruas e pedem um novo Brasil

22 de Junho de 2013
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

Os brasileiros, nas ruas, reivindicam uma nova agenda política para o Brasil. E a sociedade, na sua plenitude, aplaude. Estão todos cansados da inércia governamental, da corrupção, da politicagem, dos políticos e seus falsos partidos, que cuidam de si e menos dos interesses da Nação. Estão cansados dos serviços públicos precários e ineficientes, da falta de hospitais e escolas, transporte coletivo eficaz e acessível. Estão cansados da injustiça social, do desvio do dinheiro público, dos milhões gastos com as copas, com estádios que custam bilhões e que se tornaram arenas dos mais ricos, agora privatizadas. Os vinte centavos das passagens de ônibus de São Paulo, pretexto inicial do protesto, ampliaram-se para uma insatisfação geral, em pauta ainda difusa mas expressiva nas suas faixas e palavras de ordem. Expressam, em síntese, um descontentamento geral contra os governos, contra a ordem econômica e social, contra a representação política, contra as instituições ineptas. O brasileiro, enfim, vence a abstinência de muitos anos de silêncio e imobilismo, desde a campanha pelas eleições diretas, de 1982 a 1984 e o impedimento de Collor de Melo.

A liderança também é difusa e, na verdade, é exercida pela internet e a velocidade das mídias eletrônicas, de alcance universal, em ampla e fantástica conectividade. Se não há pauta única já elaborada, nas faixas e frases estampadas nas ruas, podemos ler sentimentos e conteúdos: “País mudo é um país que não muda”, “Alguém pode negar a um jovem o direito de sonhar?” e, dirigindo-se à polícia e suas ações repressoras, “Não atires contra nossos sonhos”. O que querem é impossível? É apenas sonho ou idealismo ingênuo? Bastaria olhar para este imenso Brasil, de amplas possibilidades, fantásticas riquezas de solo e subsolo, capaz de avançar muito na construção de uma sociedade mais justa e fundamentalmente mais ética, com governos corretos e trabalhando efetivamente por uma nova ordem política e econômica. Mas, no entanto é ainda um país desigual, onde os mais espertos, aproveitadores, negocistas e corruptos enriquecem, à sombra do próprio governo e das instituições públicas afastadas de suas missões.

O clamor das ruas é amplo e trará conseqüências. Sua amplitude e repercussão não poderão ser esquecidos. É preciso que seja bem compreendido. A sociedade brasileira está saturada de desmandos e desvios. Quer novos rumos, novas propostas, novos caminhos. Se os governantes, bem como todas as instâncias de poder, não ouvirem as ruas, estaremos entrando num sério conflito social. A ruptura nos levará a um quadro de desobediência civil ou de conflitos permanentes. O desafio é imenso, mas será preciso vencer a perplexidade e a estupefação dos primeiros momentos. E compor um programa com ações concretas. Não significa desqualificar conquistas e avanços dos últimos anos, o que é reconhecido por todos. Mas de avançar, apertar o passo, em sintonia com o grito das ruas. Condutas tradicionais precisam ser abandonadas.

O governo, imenso, caro, perdido na burocracia e na acomodação de interesses de uma classe política inepta e corrupta, já não tem credibilidade. São necessários 39 Ministérios? E a PEC 37 que tira o poder de fiscalização do Ministério Público, tornando impunes políticos e governantes corruptos? O Congresso, de costas para o povo e suas aspirações, é o exemplo maior das mazelas do País. Assembléias e Câmaras Municipais, desviadas de suas atribuições constitucionais, acolhem hoje todo tipo de desvio, banditismo, desonestidades e a imagem pública de sua estrutura hoje é de inutilidade. E o Judiciário, essencial para a paz social e a democracia, que deveria zelar pela justiça nas relações pessoais e sociais, é caro, inerte, elitista e casuístico, mergulhado em privilégios e regalias não condizentes com o exemplo que deveriam revelar. Estas reflexões estão nas ruas, nos gritos dos que protestam mas também nas casas dos mais recônditos lugares, nas capitais, no interior deste imenso Brasil.

A indignação é ampla. Desperta solidariedade e aguça o sentimento crítico mesmo dos mais alienados. O povo brasileiro quer mudanças, transformações, transparência, melhores condições de vida, honestidade, resultados concretos das gestões públicas e da aplicação do dinheiro arrecado dos impostos elevados. Quer cadeia para os corruptos. Quer políticos éticos e que trabalhem, honrando o mandato e o voto popular. O Brasil fala ao mundo. Vai às ruas por um novo ciclo político e econômico. Faz história. Mostra-se sintonizado com as aspirações de dezenas de povos, que combatem ditaduras, injustiças, gestões ineficazes e fraudulentas. Que denunciam a ordem neoliberal que só ampliou pobrezas e beneficia o capitalismo especulativo internacional. Mas, antes, o Brasil fala com si mesmo, de suas desigualdades e injustiças, das precariedades só explicáveis pela falta de governabilidade e adequado emprego do dinheiro público.

Vamos ao futuro. Construir um novo e possível Brasil, com orgulho. O Brasil desperta. É o que esperamos todos, confiantes de que o grito das ruas seja ouvido e produza transformações.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook