Todos esperam que a voz dos protestos seja ouvida

01 de Julho de 2013
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Duas indagações se colocam para toda a sociedade brasileira que, preocupada com a evolução do País e os desdobramentos das manifestações populares, se mantém atenta aos acontecimentos: as medidas propostas pela presidente Dilma vão realmente fazer o Brasil melhorar e reduzir suas inúmeras mazelas? As manifestações vão continuar, ou melhor, devem continuar até que as mudanças realmente se transformem em realidade? É certo que as manifestações já produziram alguns resultados: a PEC 37, que retirava poderes de investigação do Ministério Público foi arquivada na Câmara Federal, a renda do pré-sal será dividida em 75% para a educação e 25% para a saúde, a proposta de reforma política já é uma pauta em discussão no Congresso, que sempre recusou o tema porque teme perder privilégios. E o governo federal vai liberar R$ 57 bilhões, de imediato, para melhorar a mobilidade urbana das capitais, entre outras medidas.

A maioria dos analistas não acredita que as manifestações vão terminar. Coincidem as opiniões de que elas poderão mudar alguns conteúdos, na medida em que vão os manifestantes acompanhando o próprio debate nacional em torno das transformações. E os próprios protestantes vão evoluir nas suas expressões e reivindicações, assim como também vão adotar medidas próprias para evitar depredações e vandalismos, prejudiciais ao movimento. De resto, a ação policial repressora também se aperfeiçoa, usa mais a inteligência do que o cassetete e uma ou outra intervenção mais violenta não deverá reduzir o movimento. Poderá até incentivá-lo se a repressão provocar violências mais graves.

Mas há elevado ceticismo quanto aos políticos e se realmente vão elaborar e votar uma reforma política que o País precisa. Indaga-se se vão cortar privilégios, como altos salários, corrupção institucionalizada, interdição aos políticos corruptos, eliminação dos partidos de aluguel, maiores resultados do trabalho legislativo, com o Congresso trabalhando a semana inteira, purificação do sistema eleitoral, com candidatos com currículos comprovados de capacidade e conduta ética, e muito mais. E, quanto ao governo federal, e também os estaduais, se terão condições de acabar com os “governos compartilhados”, em que partidos dividem o poder e atuam conforme seus interesses e dos partidos, fonte maior de corrupção e de manutenção do poder a qualquer custo. É o que levou o Governo Federal a ter 39 ministérios, forma de acomodar todos os correligionários, mesmo os incompetentes e corruptos.

Indaga-se ainda: poderia a presidente Dilma ter avançado mais no seu pronunciamento e nas suas promessas? Todos sabem que as medidas propostas são de aplicação de médio e longo prazo. E que a sociedade brasileira acha-se dividida, não com relação à oposição crescente, mas também quanto ao quadro econômico e as soluções encaminhadas. A proposta da Constituinte é importante, pois considerada como o único caminho para a reforma política, vista como a transformação mais urgente e importante. Mas, na opinião dos juristas, deverá ser proposta pelo Congresso, que deverá elaborar pauta específica. E ficará por conta dos deputados ou de comissão de notáveis? E as outras medidas, que também dependem de aprovação do Congresso? Todos sabem que o Congresso é lento, dominado por interesses e as mudanças contrariam justamente figuras como Renan, Sarney e seu clã, e muitos outros.

É por isto que também é majoritária a opinião de que os protestos vão continuar. Se não com a amplitude das últimas duas semanas mas com uma natural evolução, inclusive com refinamento das reivindicações. Mas o fato, que merece comemoração, é que a voz das ruas obteve até agora ampla aprovação da sociedade e que deve-se encontrar meios de acompanhamento e fiscalização da efetiva implantação das medidas anunciadas, mas de difícil concretização plena. Afinal, o Brasil é muito grande, complexo, disperso, com elite conservadora. E, como mostra a História, nossa e de todo o mundo, transformações de maior alcance demandam mais tempo, mais sacrifício e muita luta. Mas estamos confiantes.

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