Carnaval de 2014 amplia os seus foliões e preocupa

04 de Março de 2014
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Já dissemos que o Brasil vive um momento histórico importante, embora crítico, que é o da construção da democracia participativa. Seja através das manifestações de protesto, nas suas diversas formas, entre as pacíficas e as agressivas, ou mesmo nas expressões de alegria, de busca de lazer e entretenimento, como é o caso dos blocos espontâneos do Carnaval, o fato é que a sociedade brasileira parece buscar as ruas e praças públicas. O Carnaval de 2014, ampliado pela presença popular, atraindo multidões, fenômeno que se mostra principalmente nas grandes cidades, mas também no interior, onde a comemoração é tradicional, parece despertar mesmo os segmentos sociais até então afastados desta que já era a maior festa popular brasileira. É geral a previsão de que o Carnaval de 2014 terá público ampliado, como já revelam os desfiles e encontros pré-carnavalescos.

Em Belo Horizonte o Carnaval ressurge com excepcional e surpreendente participação. Organizaram-se duas centenas de blocos de rua, agrupamentos de bairros, mais familiares, de grupos sociais, mais seguros, mais baratos, mais democráticos. Mas o fenômeno se estende também às cidades históricas onde o Carnaval é tradição forte, até preocupante por se tratarem de cidades de traçado urbano irregular, frágeis em vários aspectos, sem capacidade de suportar multidões, em geral com insuficientes serviços públicos de segurança ou proteção patrimonial. Também nas cidades históricas a previsão, preocupante, é de aumento de públicos participantes, com maior presença de moradores, incorporados à festa da alegria, mas também dos protestos, nas sátiras e críticas que o Carnaval permite.

Neste processo de base social e política, vão acontecendo mudanças. Uma delas, no próprio Carnaval, é que perdem espaço as agremiações tradicionais do Carnaval, como as escolas de samba, cedendo lugar aos blocos de rua, que surgem espontaneamente, livres e soltos como sua própria origem, brincadeira de amigos e conhecidos. As escolas, embora ainda representem o Carnaval mais sofisticado, com suas fantasias, alas especiais, baterias, carros alegóricos, exigem planejamento e gastos maiores, mais disciplina e controle, muito ensaio. E assim os blocos vão tomando conta, seguindo os dois modelos tradicionais no Brasil, os carnavais de Salvador e de Recife, que não têm escolas de samba, mas apenas o povo na rua, organizando-se com seus blocos ou participando de maneira inteiramente livre.

Esta mudança não tranquiliza as prefeituras e os organismos responsáveis por garantir organização e tranquilidade à festa. Nas cidades históricas os riscos são maiores e exigem planejamento, antecipação e muito diálogo com todos os interlocutores envolvidos. E presença ampliada dos serviços públicos em geral. Tornam-se críticas às condições de segurança patrimonial e pessoal, o controle do trânsito, a prestação de serviços de saúde, o atendimento de emergência a ocorrências diversas. A presença de imensa massa humana, em ruas estreitas, de edificações conturbadas, reduz em muito a possibilidade de atendimento de urgência a várias situações, como tem ocorrido em outros carnavais. Para as autoridades municipais a responsabilidade é imensa e nem sempre os meios disponíveis são capazes de realizar atendimentos eficazes.

Ouro Preto, de maneira destacada, apresenta um quadro preocupante. Anuncia-se uma presença de visitantes bem maior do que a velha cidade suporta. Acima de 15 mil visitantes, a acomodação se esgota, os serviços públicos, como energia elétrica, água, mobilidade urbana, assistência à saúde e muito mais entram em estado crítico. Guardiã de tesouros artísticos, de arquitetura singular, com traçado do Século XVIII, irregular e compressor em vários pontos, Ouro Preto não poderia receber o público que se anuncia. Os estudantes fazem a alegria da cidade, mas a questão das “repúblicas”, transformadas em hotéis irregulares, sem limites e regras, constituem hoje fonte de preocupação e de perigo. E que a própria Reitoria da UFOP não controla, com atitude absolutamente liberal, até em confronto com a posição do Ministério Público, que vem tentando estabelecer um controle maior. É bom lembrar que a Polícia Militar tem feito reiteradas advertências sobre o Carnaval de Ouro Preto e especialmente sobre a falta de regras e limites para as “repúblicas”, onde têm ocorrido mortes por excesso de bebidas e ou práticas perigosas. Esperamos que tudo corra bem.

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