Chuva, parte da vida

07 de Dezembro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Chuva é fenômeno natural dos mais comuns, presentes e necessários à vida humana; é o que redistribui o elemento água que, ao lado de terra, fogo e ar, é indispensável à vida neste planeta. Então chuva não deve causar horror ao ser humano, indiretamente dela dependente para suprir o próprio corpo da água que este se compõe e para a produção de alimentos; isso somente para se lembrar do básico entre as muitas funções do precioso líquido, nas atividades humanas. Chuva traz água e água mantém a vida! E vida é o que mais interessa!

Tudo bem! – reage quem lê estas primeiras linhas – se é fenômeno natural e tão necessário, opinião da qual não se discorda, qual o motivo de ter o assunto como tema?

A tarde do último dia de novembro recente deixou marcas, na memória local, como há muito não se fazia, com um temporal dos mais intensos, em volume, tempo de ocorrência e efeitos provocados. Felizmente não causou perdas humanas e, dos prejuízos, nada tão expressivo que chegue a emperrar as atividades do quotidiano. Dir-se-ia que foram mais transtornos! Menos mal por não ter deixado sequelas mais graves, a baixa frequência desse tipo de chuva é que tem levantado preocupação de observadores mais argutos sobre o comportamento da natureza. Tradicionalmente contemplada por generoso volume de chuvas, em sua habitual estação, a cada ano; fato contado de geração em geração, desde a chegada dos primeiros colonizadores, a região de Ouro Preto tem visto decrescer a ocorrência de chuvas, desde há alguns anos. Chove menos a cada ano e, pelo menos, há quinze anos não caia, em Cachoeira do Campo, chuva tão volumosa como a daquela quinta-feira. A chuva leve, porém persistente, durante trinta dias ou mais, à qual se dava o nome de “invernada”, era normal até, mais ou menos, os anos sessenta. Depois disso, foram se encurtando os períodos e desaparecendo aos poucos. Em 1979, todo janeiro até metade de fevereiro, caiu a “invernada” mais forte e destrutiva, como se a por ponto final na ocorrência do fenômeno, que se repetia, regularmente, a cada temporada chuvosa. No distrito sede, a chuvarada durou cerca de quarenta dias; períodos de chuvas leves entrecortados por violentos aguaceiros, ocasionando deslizamentos de encostas, desabamentos de muros, de casas e mais um sem número de ocorrências diversas a alimentar o desespero da população. Depois daquele pequeno dilúvio, poucas invernadas ocorreram, também com menor duração, até o ingresso no período da escassez vivida atualmente.

Em Cachoeira do Campo, o ribeirão Maracujá, que saia do leito, pelo menos, uma vez a cada temporada, não faz isso há muito tempo. Não se desejam enchentes, mas este registro serve para comprovar que as chuvas se reduziram. Em torno desse novo fenômeno, a escassez de chuvas na região, acende-se polêmica quanto às causas, na maioria das vezes debitadas à degradação do meio ambiente, seja por uso mal educado ou pela manipulação ditada por interesses econômicos. Aqui há que considerar a ação malévola do Homem, que pode, sim, ser causa de transformações climáticas indesejáveis, destacando-se o desmatamento incontrolado, que tanto afeta lençóis freáticos e, consequentemente, os mananciais, quanto faz reduzir a capacidade de evaporação, na troca entre a atmosfera e a terra. Essa ação desastrosa ocorreu na região de Ouro Preto, mas não se pode apontá-la como causa única, havendo o fator global, ou seja, a transformação pela qual, periodicamente, passa o planeta; ela tem sido constatada em outros pontos. Entretanto, sendo causa única ou não, a ação humana deveria sempre ser em harmonia com a natureza, assim como na relação com o abrigo, se não quiser que este lhe caia sobre a cabeça.

Depois de grande temporal, como o mais recente, pode-se avaliar a qualidade da relação humana com a natureza. Pavimentação asfáltica, por impermeabilizar o solo, não é a mais recomendada para a área urbana; danificada, mal estruturada ou mal usada, a rede pluvial deixa de coletar as enxurradas, causando o desaguamento destas nas partes mais baixas da localidade e, consequentemente, os alagamentos. Deixada a rede pluvial à revelia da população, suas bocas-de-lobo são fechadas para se evitar o mau cheiro causado por ligações clandestinas de esgoto. Em outros ramais da mesma rede e a contrariar recomendação pelo não desperdício, água corre diuturnamente, como se houvesse sobra na distribuição. Vê-se que há erros da administração municipal, que não gerencia o serviço, e erros da parte de residentes indisciplinados, que não respeitam as regras. Chuva é solução e não problema! Os problemas são derivados da presunção de superioridade em relação à natureza, esquecendo-se de que a espécie humana é parte dela e não sua domadora! nbatista@uai.com.br

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