Democracia, um passo à frente!

01 de Dezembro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A degradação política, no estado do Rio de Janeiro junto à opinião pública, atingiu seu ponto mais baixo, na semana passada, quando foram recolhidos à prisão mais políticos do primeiro escalão de governo, de diversas gestões. Dos últimos quatro governadores eleitos, três estão presos, escapando, por enquanto, o atualmente no cargo, embora tenha subido e esteja no telhado há algum tempo. Dos últimos vinte anos, praticamente todas as lideranças, incluindo-se cinco ex-conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, ou estão presas ou são alvo de investigações. Foi tudo dominado pelo crime.

Dentro desse clima, absurdamente imoral, não se podia esperar quadro menos danoso dentro da sociedade combalida, onde o crime organizado já ponteava havia alguns anos, desde que repressão sistemática ao crime, passou a ser considerada politicamente incorreta ou tida como excrescência do anterior regime político de exceção. O que se viu foi o agigantamento do crime organizado, tendo como mola propulsora o tráfico de drogas, assumindo posições que seria do Estado, controlando populações mediante o medo, comprando com dinheiro, para suas hostes, indivíduos em situação de risco social, subornando autoridades e disseminando a violência, como forma extrema na conquista de seus propósitos. Bandidos eventualmente recolhidos à prisão, transforam presídios em quartéis generais do crime, de onde passaram a orientar/comandar seus aliados e/ou subordinados cá fora.

Bela por natureza e, por isso, sedutora, a cidade do Rio de Janeiro tem tudo para ser aprazível e ideal para se viver, mas, ao contrário, tornou-se perigosa e mete medo a quem circula em público. Sua força trabalhadora sofre na carne as consequências dos crimes, acima, praticados por políticos/colarinhos brancos e, abaixo, conduzidos pela bandidagem armada, até os dentes, com audácia suficiente para enfrentar as Forças Armadas. A sangria nas finanças do estado, provocada pelos crimes dos mandatários, chegou ao absurdo de deixar o funcionalismo estadual sem pagamento de seus salários.

A situação no estado fluminense é caótica e perigosa, não se pode negar, mas não chega a ser muito diferente do restante do país, onde não se produziram ou ainda não afloraram as sequelas em curso no estado vizinho. A causa do caos, no Rio de Janeiro, está na corrupção instalada há, pelo menos, três décadas em sua estrutura governamental, mal que, em igual, maior ou menor grau, atinge toda a federação, em decorrência do sistema político-partidário. O Rio é apenas a ponta do iceberg! Chegou ao ponto em que está, porque seus mandatários extrapolaram os últimos limites, permitindo que o véu da hipocrisia caísse diante do público, o que não se fez no restante, por enquanto e na mesma proporção.

O sistema está podre, carcomido! Da estrutura de poder do estado brasileiro sobram, com algumas restrições, o Poder Judiciário (o cérebro) e as Forças Armadas; o resto é lenha para o fogo! Talvez nem queime, produzindo tão somente fumaça! Se não mudar essa coisa que aí está, todo o processo da Lava Jato terá sido em vão! Não há como o estado brasileiro recobrar sua força moral com essa classe política a atuar em favor de si própria e dos partidos, esquecendo-se de tudo mais com exceção do voto, que buscam de quatro em quatro anos. Em qualquer país mais sério, político caído em suspeição entrega o cargo e se sujeita às imposições que o caso requer; no Brasil, mesmo diante de fortes e inegáveis evidências de crime, eles batem o pé, fazem pouco da Justiça e ainda tentam legislar em causa própria, ou seja, para escapar do foco sobre si!

O mais recente exemplo desse obstinado e atrevido apego aos cargos, sob o manto do corporativismo, deu-se quando a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ votou pela soltura de três dos seus pares, presos por determinação do Tribunal Regional Federal – 2ª Região. Nem com toda opinião pública indignada e voltada contra suas condutas corruptas, políticos tomam juízo e se curvam, em arrependimento e sujeição aos ditames da Justiça! Assim procedem e prosseguem porque o sistema político-partidário lhes é favorável e lhes abre as portas da impunidade! Não houvesse qualquer partido, fossem eles escolhidos e eleitos pelo povo, sem intermediação partidária; tivesse o eleitorado, que os elege, o mesmo poder de destituir quando não estivessem a produzir o que deles se espera; fossem eles, como qualquer outro cidadão, sujeitos à Lei e puníveis, sem muito lero-lero jurídico, dificilmente esse caos político teria se instalado no país. Quem diz que não há democracia sem partidos ignora a história ou tem a ganhar com o atual sistema, ou mesmo não quer o aprimoramento do sistema democrático, devolvendo ao povo o poder que os partidos lhe tiraram.

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