Coisas de ontem... e de hoje CV

18 de Junho de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Dorinha ainda insiste em rebater o Tatão:

– Não vejo condições de ter plano de previdência privada alguém que vive do trabalho.

– Ora, Dorinha, tem que ser mesmo quem trabalha; quem vive na malandragem é que não pode – é o Manelão a provocar.

– Você me entendeu e se faz de besta – vá ver se estou na esquina; ora bolas.

Tatão corta o que seria início de diálogo áspero:

– Eh, gente! Não vamos transformar brincadeiras em motivos de discussão. Mas volto a dizer que todos têm condições de poupar, por muito pouco que alguém ganhe. O que falta é o hábito. A mentalidade econômica do brasileiro se formou no desperdício, na gastança desnecessária, especialmente com a industrialização. E não adianta começar agora, o que deveria ter sido feito desde o primeiro salário recebido ou, quiçá, bem antes, desde a primeira mesada recebida dos pais. A atual geração de jovens, sim, tem a oportunidade de iniciar o preparo de aposentadoria mais segura, mediante sacrifício de algumas futilidades, que nós outros não soubemos evitar. Quem trabalha, do operário ao grande empresário, merece, mas sob dependência exclusiva da Previdência oficial, dificilmente conseguirá manter seu padrão econômico na velhice.

– Pensando bem, mais uma vez o Tatão está com a razão – é o Mário em uma de suas raras manifestações. O brasileiro, em termos de programação da própria velhice, deixa tudo aos cuidados do governo, não cuidando de também fazer sua parte. Se gastasse unicamente com o básico, proporcionalmente aos seus ganhos, deixando o supérfluo de lado, a economia poderia ser empregada na programação de aposentadoria, independente da que lhe garante a Previdência oficial, mediante contribuição via folha de pagamento de seu empregador.

– Penso que isso ainda demora a ser assimilado em larga escala – comenta Narita, seguida por Manelão:

– O que vem à cabeça de quem recebe seu primeiro salário é ter nas mãos algo que seu colega ou amigo já possui. Compra-se não pela necessidade do objeto em seu dia-a-dia, porém pelo espírito competitivo; ninguém quer ficar para trás, na posse de algo em moda.

– Quanto a isso, já vi muita coisa engraçada – fala Dolores – quando a televisão começava a se popularizar, ela entrou em casa da minha vizinhança antes da cadeira.

– Como assim? Não entendi bem – diz a Chiquinha.

– Você entendeu, sim! Só não quer acreditar. Era família pobre, cuja sala era provida de apenas um banco tosco. Pois bem, antes do jogo de sofás, foi comprado o televisor. E outra: a família era amparada por entidade filantrópica. Na mesma época, outra casa, naquelas proximidades, ostentava antena no telhado, mas não tinha o televisor.

– Pelo menos, esse era mais inteligente. Enganava ao exterior, mas não enganava a si próprio, comprometendo orçamento – comenta Manelão, continuando – e há gente que compra só porque acha que o produto está barato.

E volta Tatão:

– Mas, grande parte do mercado consumidor comporta-se dessa forma. Quando se é rico, tudo bem, que faça o dinheiro circular. Entretanto, os gastadores descontrolados estão em todas as faixas econômicas. Por isso digo que, de forma geral, quem exerce atividade remunerada tem condições de investir em si próprio, devendo fazê-lo como prioridade. Há que selecionar melhor os gastos extras ou ditos supérfluos e cortar, radicalmente, os absolutamente desnecessários. Mesmo os gastos pessoais indispensáveis podem e devem ser mais bem pensados. Roupa de marca, por exemplo, é para quem tem dinheiro a sobrar; pode-se vestir dignamente, sem pagar o alto preço daquela.

Dorinha não se contém:

– Você cita investimento em si próprio, mas insiste no controle de gastos com roupas. Gasto com roupa, então, não é investimento?

– Só quando exigência da atividade principal ou profissão da pessoa. Não sendo, é gasto perfeitamente enquadrado no que deve ser controlado. Consideram-se investimentos, em si próprio, os gastos com educação, o plano de aposentadoria privada, o plano de saúde e gastos equilibrados com cultura.

O restante é exteriorização passível de corte.

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