Coisas de ontem... e de hoje CX

24 de Julho de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

O quadro da situação social da velhice, antes da implantação do sistema previdenciário, desenhado por Tatão, deixa o grupo um tanto pensativo. Dorinha é a primeira a se manifestar e parece representar o pensamento conclusivo de todo o grupo:

– Diante disso, conclui-se que, apesar dos pesares, a situação dos aposentados atuais está bem à frente daquela vivida pelos que nos antecederam.

– Também penso o mesmo – declara Dolores.

E Tatão corrige:

– Como um todo, do qual são beneficiários os desvalidos e os trabalhadores sem qualquer qualificação, não se nega que a situação evoluiu, pois passaram a contar com alguma garantia, depois de criada a Previdência. Quanto aos demais segurados, desde a implantação do sistema até a atualidade, a perda tem sido muito grande, com perspectivas ainda mais desanimadoras.

– Para essa parcela, então, é que você recomenda a complementação da aposentadoria por meio de plano privado – fala Narita, esperando confirmação, que é feita por Tatão:

– Exatamente; mas, para os que agora ingressam no mercado de trabalho.

– Talvez ainda para aqueles à meia jornada de sua carreira profissional – sugere Quinzão.

– Sim, dependendo da situação de cada um – emenda Narita.

E Dorinha acrescenta:

– Depende da capacidade de poupança que, para uns oferece folga e, para outros, não. Muita gente teria que “fazer cruz na boca”.

– Cruz na boca? O que é isso, Dorinha? – indaga Lazinha.

– É passar fome, deixar de comer...

– Cruz, Ave Maria, Credo! – reage Dolores, a rir.

– Vocês não conhecem a expressão “fazer cruz na boca”? É muito usada na região de onde venho.

– Pois eu lhe contesto a assertiva – reage Tatão, dirigindo-se à Dorinha – falou-se aqui dos gastos desnecessários, supérfluos, muitas vezes ditados pela vaidade, etc. Não se falou no desperdício tupiniquim que, só no setor de alimentação, chega a mais de vinte milhões de toneladas lançadas ao lixo, anualmente. Li recentemente que o desperdício diário (cerca de quarenta mil toneladas) da colheita e centros de produção até à mesa, daria para alimentar cerca de vinte milhões de pessoas com as três refeições básicas diárias. Se cada um controlasse o consumo doméstico, de forma a eliminar o desperdício de alimentos, só aí já seria uma boa economia. E paradoxo dos paradoxos: é nas classes menos favorecidas que se observa maior desperdício!

– Isso é fato incontestável – acrescenta Chiquinha – quanto mais pobre a família, maior desperdício se constata no preparo e no destino da comida.

– Novamente, a questão da educação! – observa Dolores.

– O desperdício faz parte da cultura nacional – volta Tatão – vejam o caso da Copa Mundial de Futebol. O país, frágil economicamente e sem condições de dar bem-estar à população, assumiu compromisso com organismos internacionais e gastou mais de oito bilhões só com construção de estádios. Suponhamos que o restante das obras (aeroportos, por exemplo) reverta em melhores condições de vida, ainda assim o custo dos estádios continuará a doer no bolso de toda a população, pois, segundo avaliação de especialistas, dificilmente darão retorno. Foi muito dinheiro desperdiçado, quando não surrupiado por superfaturamento.

– Para tudo redundar em gigantesco fiasco! – comenta Dorinha ao que redargui Tatão:

– Pois, penso que o fiasco foi o melhor da Copa!

– Ora, Tatão, isso é crueldade com a alma brasileira – volta Dorinha.

– Não é alma brasileira que foi ferida! É a vaidade besta e o topete, que se manteve alto por quase sessenta anos. Oxalá, depois desse vexame internacional, seja deixado de lado o ufanismo ridículo, que não nos levou a nada, ou pior, deixou mais amarga a derrota para ingênuos que creem ser isso brasilidade. Há muito que futebol, de esporte se converteu em exploração econômica e fator de alienação. Há muito que este país cultua a bola e chuta a escola!

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