Coisas de ontem... e de hoje CXI

29 de Julho de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

– Voltando à questão da economia doméstica, considero desperdício como fator mais grave, depois de gastos desnecessários – manifesta-se Narita, intencionalmente, a tirar o foco de sobre o assunto “copa perdida”, para não despertar paixões, sabendo-se que a opinião contundente do Tatão não é plenamente aceita dentro do grupo. E é o próprio Tatão que a secunda:

– Sem sombra de dúvida: perde-se dinheiro por falta de critério e controle de gastos; desperdiçam-se alimentos, por desmazelo. Paradoxalmente, repito, quanto mais pobre a família, maior é o desperdício de alimentos. Comida é desperdiçada no armazenamento – má disposição na geladeira, por exemplo; desperdiçada no preparo e, por fim, no consumo com muita sobra destinada ao lixo.

– Esse é fenômeno relativamente novo, próprio da onda consumista, praticado pelas mais recentes gerações com a quebra de usos e costumes de seus antepassados – volta Narita, que continua:

– Lá em casa, a mamãe fazia o prato de cada filho, cuidando de provê-lo de porção suficiente, sem exageros. Mas, avisava que se quisesse mais era só pedir, dizendo que sobra no prato equivalia ao que faltava no prato de muita gente, e, ao mesmo tempo, desprezo ao trabalho do papai, o provedor da casa. Somente ao final da adolescência, assimilada a lição, tínhamos permissão para nos servir. Tínhamos aprendido também que alimento era coisa sagrada, bem assim como os momentos de refeição. Os ensinamentos, por mim gravados, foram repassados aos meus filhos.

– Você disse algo de que, na atualidade, a maioria não tem consciência: a sacralidade da comida – observa Tatão – o alimento é tido como tão somente fonte de prazer quando, na verdade, sua principal função é ser fonte de energia, necessária à vitalidade do organismo. O apetite, dito fome quando exagerado por muito tempo sem tomada de alimento, é o sinal dado pelo organismo de que a reserva de energias está a cair. Quando não satisfeita essa necessidade, o organismo entra em processo de enfraquecimento e, consequentemente, doença.

– Mas, isso, Tatão, todo mundo está careca de saber! – reage a Dorinha.

– Verdade, porém poucos se lembram na hora da refeição. O que prevalece à mesa é o prazer, proporcionado pelo paladar, o que leva, muitas vezes, à escolha do alimento pelo sabor, em detrimento de seu valor nutritivo.

Manelão não perde a oportunidade de dar uma espetada:

– Sem falar na comilança dos glutões, ou esganados, quando têm à frente comida que mais lhes apetece. Empanturram-se a ponto de se sentirem mal!

– O prazer, no ato de se alimentar – prossegue Tatão – é compensação dada pela natureza à ação de prover o organismo da energia necessária. Enquanto apetite é alarme, que denuncia queda nas reservas de energia, prazer é prêmio pelo pronto atendimento àquela necessidade. Por isso, a comida é considerada sagrada, assim bem como o momento da refeição. Também por essa razão, a religião aconselha oração antes e depois da mesma. Não fosse o apetite e o prazer no ato de alimentar-se, qualquer organismo não viveria além de breve tempo.

– Outro ensinamento recebido dos meus pais – é a Narita novamente – é que durante a refeição não deve haver conversas desagradáveis e, muito menos, discussões.

– Isso é pelo fato de o organismo, como um todo, necessitar de tranquilidade para receber o alimento e, em seguida, processá-lo. O ideal é a refeição ser tomada em ambiente alegre, agradável, se possível ao som de música suave. O pensamento deve estar voltado para o bem que se espera do alimento.

– E você não acha que isso é muita frescura? – ataca Dorinha.

– Assim pede a natureza, para preservação da saúde e da vida. Entretanto, cada indivíduo é livre para agir como quer. Nada é obrigatório, mas a cobrança pode vir, de alguma forma. Qualquer pessoa, se bem atenta ao comportamento de seu organismo, pode perceber quão diferente pode ser sua resposta em situações diversas. Refeição em situação tranquila, a digestão se processa normalmente; em ambiente de tensão, sempre pode produzir algum mal-estar.

E Manelão dá outra estocada:

– Querendo, Dorinha, você pode morrer sem frescura mesmo!

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