Coisas de ontem... e de hoje CXV

31 de Agosto de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

À Chiquinha, que lamenta futura perda do prazer de ter dinheiro, em espécie, nas mãos, por força do uso de cartões, Manelão faz tranquilizar:

– Sossegue, mulher! De acordo com o Tatão, o desparecimento do dinheiro ainda vai demorar um pouco e esse “um pouco” pode superar o tempo, que ainda temos de vida. Se quiser, ainda poderá morrer, tendo nas mãos algumas notas de dois reais; de um, não, por que não mais existe.

– Cachorro! – é a reação da Chiquinha à brincadeira do marido.

E Tatão observa:

– Pode ser que ainda demore, por razões políticas e outras conveniências, que aqui não cabe enumerar, mas, tecnologia já existe para isso.

– E como ficará o batedor de carteira? – indaga Manelão.

– Também ele tende a desaparecer – responde Tatão, continuando – aliás, o ladrãozinho pé-de-chinelo terá muito que evoluir, se quiser continuar no “mercado”. Ao surrupiar um cartão, ele não terá o dinheiro, mas um tremendo problema, que é descobrir a respectiva senha, a essa altura já cancelada pelo titular do cartão roubado.

– Você quer dizer furtado, não é Tatão? – atravessa Dorinha.

– Roubado ou furtado é mesma coisa – rebate Tatão.

– Não é, não! Roubo é feito mediante violência, e, furto, sem violência. Normalmente, o batedor de carteira não faz uso de violência.

– Bobeira é o que digo quanto a essa questão. A diferenciação é eufemismo jurídico, criado para amenizar ou agravar situação de uns e outros. É coisa de juiz, advogado e polícia! Do ponto de vista linguístico, os vocábulos furto e roubo se equivalem! Podem conferir em dicionários, tanto brasileiros quanto lusitanos. E outra coisa: só o ato de o ladrão meter a mão no nosso bolso para tirar algo já se constitui violência. Tende-se, atualmente, a ter a violência como ato sangrento. Se não há sangue, não há violência! É a minimização do abuso de uns sobre outros! Porém, o simples grito contra alguém já é ato de violência. Agora, voltando à vaca fria, em tempo de tantas novidades, até o ladrão pé-de-chinelo tem que se atualizar. Também para pequenos furtos, como quer a Dorinha, o ladrão terá que aprender novas técnicas.

Ao ouvir referência a si, Dorinha intervém novamente:

– Momentos atrás você disse que dinheiro seria de origem séria e sagrada. Mais tarde, quando Quinzão disse que “nada justifica a guarda de tanto dinheiro em casa” você acrescentou “exceto quando sua origem é duvidosa, ou pior, ilegal”. Quanta incoerência! Primeiro diz que ele tem origem séria, depois levanta a hipótese de o mesmo ter origem duvidosa ou ilegal. rigem” é o que “produz” o dinheiro e procedência é de que mãos, veio ele, e em troco de quê. A origem do dinheiro é séria e sagrada, pois ela é sempre o trabalho! Quanto à procedência pode haver diversas. Tanto pode ter procedência no trabalho, na condição de salário, quanto na corrupção, por meio de propina em troco de favores políticos, por exemplo, mas sua origem é o trabalho. Todo o dinheiro circulante representa a riqueza da nação produzida pelo trabalho. Esclareça-se, ainda, que o salário constitui parte de todo o dinheiro a representar o produzido.

– É... tudo muito bonito, mas nem sempre ele está nas mãos de quem trabalha! – exclama Dorinha.

– Aí são outros fatores a interferir no processo de sua distribuição. Um dos fatores é a própria corrupção, que o desvia da aplicação correta para rechear a conta do corrupto; outro fator é a questão da competência para merecê-lo e administrá-lo, como dissemos ainda há pouco. Nem todos têm competência para ter dinheiro! Se o dinheiro é mal distribuído, mal aplicado, desviado de seu legítimo destino, mal usado, esbanjado, etc. isso não constitui motivo para maldizê-lo ou amaldiçoá-lo. Ele é conspurcado por uma série de fatores ligados ao mau comportamento humano, mas sua origem é sempre o trabalho. E não é à toa que rasgar ou queimar dinheiro constitui crime!

– Desculpem-me! A Dorinha tem razão. Na segunda referência usei o termo inadequado. Em lugar de “origem” deveria ter usado “procedência”. No presente caso “origem” é o que “produz” o dinheiro e procedência é de que mãos, veio ele, e em troco de quê. A origem do dinheiro é séria e sagrada, pois ela é sempre o trabalho! Quanto à procedência pode haver diversas. Tanto pode ter procedência no trabalho, na condição de salário, quanto na corrupção, por meio de propina em troco de favores políticos, por exemplo, mas sua origem é o trabalho. Todo o dinheiro circulante representa a riqueza da nação produzida pelo trabalho. Esclareça-se, ainda, que o salário constitui parte de todo o dinheiro a representar o produzido.

– É... tudo muito bonito, mas nem sempre ele está nas mãos de quem trabalha! – exclama Dorinha.

– Aí são outros fatores a interferir no processo de sua distribuição. Um dos fatores é a própria corrupção, que o desvia da aplicação correta para rechear a conta do corrupto; outro fator é a questão da competência para merecê-lo e administrá-lo, como dissemos ainda há pouco. Nem todos têm competência para ter dinheiro! Se o dinheiro é mal distribuído, mal aplicado, desviado de seu legítimo destino, mal usado, esbanjado, etc. isso não constitui motivo para maldizê-lo ou amaldiçoá-lo. Ele é conspurcado por uma série de fatores ligados ao mau comportamento humano, mas sua origem é sempre o trabalho. E não é à toa que rasgar ou queimar dinheiro constitui crime!

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook