Coisas de ontem... e de hoje CXXIV

27 de Outubro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

– Duvido muito que políticos encastelados no poder abram espaço ao cidadão sem vínculo partidário – comenta o Mário, quebrando seu notório silêncio – sob a exigência do vínculo partidário, eles formam o gueto, “autodiscriminado” e privilegiado dentro da sociedade, contra o qual pouco se pode em razão de leis que os protegem.

– E não podia ser diferente, pois são eles os autores das leis – ataca Narita, enquanto Mário faz pequena pausa, para continuar:

– Vejam que os núcleos dos partidos, quase sempre, se compõem dos mesmos nomes, configurando redutos familiares estendidos, no tempo, por várias gerações. São esses que controlam, negociam, fazem acordos e manipulam seus liderados dentro da agremiação. Mediante troca de favores entre si e pequenas concessões aos de fora do núcleo, fomentam o corporativismo partidário, que os promove a todo custo e os defende contra tudo e contra todos. Com todo esse poder, informal, diga-se de passagem, acrescentado ao adquirido por força do cargo, políticos fomentam, nos parlamentos, o jogo de interesses que, em nada interessam à coletividade. E para prevalecer suas vontades, não hesitam em tornar refém o Executivo, negando-lhe apoio, em matérias de vital importância.

Dorinha corta a fala do Mário com o desafio

– Que então se fechem essas chamadas casas de leis!

– Epa! Cuidado com o andor porque o santo é de barro – replica Tatão – isso que você sugere é o autoritarismo. Há que curar a democracia e não matá-la!

– Mas, se a coisa não funciona a contento... como resolver?

– É aí que entra a força do voto nulo em massa – continua Tatão – embora o TSE tenha dado ao art. 224 do Código Eleitoral interpretação matreira, a gosto de políticos inescrupulosos, o eleitorado pode rejeitar, dizer não ao sistema e forçar mudanças. Como já disse, não há nada de errado em votar nulo; errado é o eleitor saber que maus políticos são eleitos por esse sistema e não fazer nada. E se ele tem o direito, ou dever, de votar, igual direito tem ele de rejeitar o sistema que aí está.

– E tem outra coisa – atravessa Manelão – se voto nulo fosse coisa errada, a urna eletrônica seria programada para não aceitá-lo. Se aceita é porque nada há de errado com ele.

Dorinha, que mostrava sinais de querer intervir, durante a fala do Tatão, aproveita a brecha aberta pelo Manelão: – Mas, se a urna eletrônica é aberta a fraude, como se fala, o voto nulo, assim como o branco, poderia ser alterado em prol de algum candidato. Muitos dizem que essa geringonça não é segura!

– Isso é conversa fiada – volta Tatão – cem por cento segura, claro, ela não é. Mente quem diz que é. Sabe-se que em coisa feita por mãos humanas não há perfeição. Mas, daí dizer que ela abre porta para mais fraudes que a cédula marcada a mão, é ir longe demais. Ao longo do tempo, de etapa em etapa, o processo de votação vem se aperfeiçoando, não se pode negar, sem incorrer em injustiça contra técnicos e especialistas que empregam sua inteligência para isso. Graças a esses esforços, o Brasil detém processo de votação considerado mais seguro, eficiente e rápido do mundo. Infelizmente, serve ao sistema político-eleitoral canhestro, facilitador de oligarquias e campo propício para a corrupção. Melhor seria processo de votação menos evoluído do qual saíssem agentes políticos, verdadeiramente, comprometidos com a causa coletiva! O que temos são pérolas lançadas aos porcos!

– Fiz minha estreia como eleitora, no ano da adoção da cédula única – comenta Dolores.

– E eu também – acrescenta Tatão – Foi eleição muito tumultuada. Acostumados com a votação mediante depósito do envelope contendo as cédulas individuais (marmita) os eleitores tiveram dificuldades na assimilação do novo processo. Só consegui chegar à urna por volta das dezenove horas. Naquele ano, candidatos e respectivos cabos eleitorais se defrontaram com a impossibilidade de trocar o voto do eleitor, por meio direto, ou seja, trocando as cédulas do envelope que o eleitor trazia de casa. Com a introdução da cédula única, chances de fraude ficaram concentradas na apuração, especialmente com o aproveitamento dos votos em branco, em favor deste ou daquele candidato. Com introdução da urna eletrônica, tudo isso ficou para trás, mas não quer dizer as chances de fraude se reduziram a zero. Contudo, são menores, não há dúvida!

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