Coisas de ontem... e de hoje CXXV

09 de Novembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

– Com introdução da urna eletrônica, o processo de votação se modernizou, facilitando ao eleitor o ato de votar – manifesta-se Chiquinha – Entretanto, o processo de apuração perdeu a graça. Nas modalidades anteriores, a apuração se arrastava por dias e dias, variando as expectativas sobre o resultado a cada urna aberta. Quando se pensava na vitória de “A”, de repente, o candidato “B” assumia a liderança. Em muitos casos, a disputa entre eles ia até apuração da última urna.

– É mesmo coisa de mulher! – ataca Manelão – Gosta de sofrer. Enquanto o homem quer decidir ou saber da decisão, imediatamente, ela quer prorrogação da agonia na espera. O homem ataca a causa e mata a coceira. A mulher se coça para sentir mais coceira! – Mas, era mesmo mais interessante!

– Você, Dorinha, só confirma o que acabo de dizer.

– E você mostra unhas de machista, depois de velho – rebate Chiquinha, dando leve soco no ombro do marido.

A discussão em torno de eleições e política eleitoral ainda se arrastaria por bom tempo, se Quinzão não levantasse outro assunto:

– A maior preocupação, agora, na região, é com relação ao fechamento da fábrica, em Saramenha. Imaginem o rombo que isso causará na economia regional! O prejuízo transcende a economia e atinge a área sentimental. Eu não trabalhei, mas tenho dois sobrinhos que lá se aposentaram e registram o fato com orgulho. Assim como eles, muita gente está a lamentar o fato.

Como sempre, nas discussões do grupo, a contestação parte da Dorinha:

– Sei de gente que assim não pensa. Um amigo, por exemplo, reclama de perseguições e injustiças dentro da empresa.

– Ora, Dorinha, sem entrar no mérito ou demérito do seu amigo, que pode ter contribuído para o quadro, por ele denunciado, em qualquer grupo pode haver situações anômalas. Contudo, não se pode dizer que elas comprometam o todo – explica Quinzão, que continua – conforme já se disse, anteriormente, perfeição não existe, nas realizações humanas. De forma geral, os que lá trabalharam apontam saldo positivo na relação de emprego, mas, reafirmo, em tudo há exceções.

– Quem diria gente que, um dia, tudo aquilo fosse acabar – comenta Chiquinha – tanta gente a trabalhar, gerando riqueza. Dizem que chegou a ter cerca de três mil pessoas empregadas!

O comentário provoca Tatão, que explica:

– O fechamento da fábrica, um dia tão potente, só vem comprovar que, sob o sol, tudo é finito! Das realizações humanas, nada escapa à falência! Umas duram um pouco mais, mas, igualmente, chegam ao fim. Interessante observar que, entre as mais duradouras, encontram-se aquelas movidas pelo altruísmo, amor, desvinculadas de qualquer expectativa de caráter pecuniário. Essas podem, muitas vezes, se mostrar quase em extinção, contudo, se renovam mediante os mesmos sentimentos que, em movimentos cíclicos, atingem o ápice entre seus membros; mas, um dia, também chegam ao fim!

– Isso é verdade, tudo tem um fim – reconhece Dolores – mas antes que abutres tripudiem sobre ela, ressaltando aspectos negativos irrelevantes, é bom lembrar que ela resgatou, economicamente, não só a cidade de Ouro Preto, mas igualmente, toda a região. Diz provérbio popular que “Deus, quando fecha uma porta, abre duas janelas”, querendo isso dizer que outras realizações podem vir em lugar da primeira. E é nesse sentido que toda a coletividade deveria se mobilizar!

Tatão retoma a palavra:

– Estive fora da região por muito tempo, mas não desconheço a importância da fábrica em questão. A cidade de Ouro Preto, covardemente, abandonada pelo governo do Estado, quando se fez a transferência da capital, teve sua recuperação econômica a partir da instalação da indústria do alumínio, em Saramenha. Da situação de penúria, deixada pela máquina do governo, ao levantar acampamento em 1897, a cidade de Ouro Preto pôde sair, paulatinamente, estendendo-se a toda a região, os mesmos benefícios trazidos pela indústria. O que se desenvolveu em Ouro Preto, posteriormente, foi consequência.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook